Não há forma diligente de enfrentar o desassossego sanitário e seus reflexos na economia sem unir forças.A revolução dos Cravos encerrou um longo período de governo sob a égide e influência Salazarista. Desencadeada por jovens militares na noite de 25 de abril de 1974, obteve de pronto o apoio da população lusitana. As mudanças políticas estavam maduras. E os cravos colocados nos canos dos fuzis confirmaram um movimento pacífico.
A efeméride é comemorada em festa nas praças e nas ruas daquele país. No parlamento, autoridades endereçaram palavras à sociedade lusitana. Sob rígidas regras sanitárias, o povo alegre se fez ao largo a vibrar com a canção símbolo do movimento: Grândola Vila Morena.
“[…] uma missão ingrata: a de julgar o passado com os olhos de hoje, sem exigir, nalgumas situações, aos que viveram esse passado que pudessem antecipar valores ou o seu entendimento para nós agora tidos por evidentes, intemporais e universais, sobretudo se não adotados nas sociedades mais avançadas de então.”
Trata-se de um trecho do discurso do presidente de Portugal, Marcelo Rabelo, proferido na Assembleia da República. (https://www.presidencia.pt/url/155137).
Daquém mar, humildemente ouso debruçar-me na fala do presidente na ânsia de acender uma luz e encontrar um homem de bem entre nossos governantes.
Rabelo passeou pela história daquele país irmão, com foco no amadurecimento secular, suas vitórias, suas derrotas, suas frustrações, suas ambições e, principalmente, seu futuro.
Um discurso calculado e ao mesmo tempo emocionante, de um verdadeiro estadista, a pregar a união. Exemplo a tantos mandatários em tempos de “eumismo.”
O governo português, após início claudicante, assumiu postura firme para o enfrentamento dos problemas oriundos do espalhamento do vírus Sars-Cov-2, da COVID-19 e suas nefastas consequências.
A fala do Presidente teve o condão de buscar a união. Não há forma diligente de enfrentar o desassossego sanitário e seus reflexos na economia sem unir forças. Olvidam-se as diferenças, varrem-se para debaixo do tapete as ingratidões, passa-se uma borracha no passado que teima em não cicatrizar.
O discurso tratou de impulsionar a sociedade portuguesa, de falar do passado com olhos postos no futuro. A COVID-19 foi tema dentro de temas. Mas todos encadeados para um fim comum.
Rabelo vem atuando como um excepcional garoto propaganda em defesa das políticas estudadas e postas em prática pelo primeiro-ministro António Costa – Portugal é uma república parlamentarista. A fala convence, mas o exemplo arrasta! E como arrasta, para o bem ou, infelizmente, para o mal.
Impossível não se fazer comparações com falas de nossos políticos em eventos oficiais ou rolés provocativos com ares de recreio em jardim de infância.
Uma gritaria incompreensível com as tias tentando organizar a bagunça. Apartando as brigas pelo brinquedo da moda ou pelo cotoco de lápis de cera. Alguém depois terá de limpar a desarrumação na área de lazer.
Os discursos são atabalhoados. A suposta razão da fala sequer é citada. As frases são repetidas, entremeadas por chistes, sem uma sequência que lhes dê coerência. Mesmo os mais atentos, vez por outra, se percebem em um vagar de pensamento fugazes desconectados no orador.
São falas divisivas. E não é hora de dividir forças para a ofensiva contra essa praga de dimensões a nano. Muitas frentes, muitas derrotas.
É hora de incorporar serenidade com humildade, mesmo que lhes sejam, senhores políticos, incompreensível abdicar de suas presunções, e ajuntar-se em prol de escapar deste labirinto de Creta no Palácio de Cnossos.
“Que saibamos fazer dessa nossa história lição de presente e de futuro, sem álibis nem omissões, mas sem apoucamentos injustificados querendo muito mais e muito melhor. […] Houve, há e haverá sempre um só Portugal.”
A nos emular, tomo o “arpejo” de união tocado por Marcelo em seu discurso para propor: houve, há e haverá sempre um só Brasil.
Paz e Bem!
Otávio Santana do Rêgo Barros
General de Divisão do Exército