Após 14 anos de interposição de recursos na Justiça, um policial militar e dois policiais civis tiveram o mandado de prisão decretado por serem considerados culpados pelo crime de tortura cometida, em 2001, contra o ex-garçom Alexandre de Oliveira. O PM Francisco Lagrota de Assis está preso no 2º Batalhão desde a semana passada. Já o então delegado Anderson Carrilho Lobato e o detetive Jorge Vaz são considerados foragidos pela Secretaria de Defesa Social de Minas Gerais (Seds). Em janeiro daquele ano, Alexandre foi preso em Bom Jardim de Minas e encaminhado para a delegacia de Andrelândia após ser considerado suspeito de estupro contra a filha de 1 ano e 7 meses. No entanto, após levantamentos da Tribuna, descobriu-se que a menina não apresentava nenhum sinal de violência sexual e que o sangramento vaginal que ela apresentava havia sido provocado pelo retorno de um tumor na área genital. Na ocasião da publicação da reportagem que revelou os equívocos da prisão do rapaz, Alexandre foi imediatamente solto. O jornal também questionou os motivos que levaram um pai inocente a assinar uma falsa confissão de culpa na delegacia.
A suspeita de que ele foi vítima de agressões levou a Secretaria de Segurança Pública do Estado, na época, a determinar investigação sobre o caso. Para piorar a situação dos policiais envolvidos na prisão de Alexandre, um laudo do IML confirmou que ele apresentava lesões no corpo compatíveis com as agressões relatadas por ele. Em Belo Horizonte, o ex-garçom Alexandre de Oliveira denunciou os três policiais por espancamento, violência psicológica e uso de aparelho de choque para que “confessasse” o crime que não praticou. Outros três PMs também responderam a processo por não terem impedido as agressões, mas, no caso deles, cuja condenação foi de dois anos e 15 dias de detenção, a pena já está prescrita.
Segundo a Seds, os mandados de prisão expedidos contra Anderson Lobato e Jorge Vaz, condenados há quatro anos e um mês de reclusão em regime inicialmente fechado, continuam sem cumprimento. O advogado Elpídio Gonçalves Pereira Neto, que representou Lobato na maior parte do longo processo, disse por telefone que não sabia que o mandado de prisão havia sido expedido contra o delegado. “Não tenho notícia disso. Estou sabendo por vocês. Há tempos não tenho contato com ele”, disse. Logo em seguida, alegando estar em trânsito e com dificuldade de falar por causa de problemas com o sinal, a ligação foi encerrada.
Já Leonardo Braga Schlitter, que representou o PM Francisco Lagrota no processo, disse que não é mais advogado do policial. “Ele se desvinculou da Associação de Soldados e Sargentos da PM, entidade para a qual advogo. Por isso, não o represento mais”, afirmou. Sobre o desfecho do caso, o advogado preferiu não se pronunciar. Alexandre de Oliveira também não quis falar sobre a sentença final. Com a perda da filha, que morreu de câncer em 2003, aos 3 anos, todos os fatos referentes ao caso são para ele sinônimo de dor.
Na tarde de ontem, a Tribuna protocolou, junto à secretaria do 2º BPM, ofício, solicitando entrevista com o policial Francisco Lagrota. Até o fechamento desta edição, o pedido ainda não havia sido analisado.
* colaborou Gláucio Grígori
http://www.tribunademinas.com.br/pm-e-preso-e-2-policiais-civis-estao-foragidos/