Entre países não há amizades, apenas interesses. Atribui-se essa fala ao Ex-secretário de estado americano, John Foster Dulles. Alguém, em sã consciência diplomática, discorda?
Custa compreender a obstinação de próceres do estado brasileiro em atacar um país parceiro, do qual, mais do que nunca, somos dependentes para o equilíbrio da balança comercial.
Igualmente, em momento de crise sanitária, parece fora de propósito, porquanto os chineses são responsáveis pelos insumos que permitirão ao Instituto Butantã e à FIOCRUZ produzirem as vacinas contra a trágica Covid-19.
Em 2020, a China participou com 32,3% no volume exportado pelo Brasil. É mercado vivaz, que gerou nesse período a entrada recorde de USD 67.685 bilhões. Impossível não levar a sério a magnitude dos números.
Consta que em 1989, no bicentenário da Revolução Francesa, questionaram o líder chinês Deng Xiaoping sobre a relevância daquele fato para a civilização ocidental. Calmamente contestou Xiaoping:
- Muito cedo para fazer-se juízo de valor!
Verdade ou ficção, a resposta traz o cerne da filosofia chinesa e revela a forma pragmática como aquele país trata aliados, neutros e inimigos. O tempo e a sabedoria, caminhando lado a lado, são os senhores feudais a indicar o destino e as circunstâncias para o povo chinês.
O Brasil é uma criança diante da longevidade daquele gigante. O que são quinhentos anos desde a chegada de Cabral, quando comparados ao início da dinastia Xia há quatro mil anos (referência entre sino-historiadores da consolidação do estado chinês)?
Logo, representantes brasileiros, vale a pena afrontar o grisalho dragão adormecido? O agitar de varas de marmelo, pequenas e inflexíveis, não lhe faz nem cócegas. Embora possa irritá-lo levemente.
Bravatas elaboradas em noites insones, sopradas por supostos formuladores de comunicação digital ou palpiteiros de Google serão respondidas por meras notas diplomáticas protocolares sutis ou vigorosas, a depender.
Talvez, a resultante das últimas estultices seja um puxão de orelha e como professoral castigo recebamos a notificação de que um pequeno “entrave burocrático” adiará em semanas a chegada dos insumos farmacêuticos ativos (IFA), comprometendo a produção das vacinas salvadoras.
Se a vida não lhes parece, senhores próceres, um dom a ser preservado, atenham-se a afrontá-la em ambiente reservado. A Ética e a moral, supostas em suas personalidades, não lhes permitem banalizá-la, nem que seja por propósito de agitar a turba ideológica.
Paz e bem!
Otávio Santana do Rêgo Barros
General de Divisão do Exército
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