"Só aqueles que não conhecem a história estão fadados a repeti-la" (George Santayana)
Na última quinta-feira, eu e minha esposa, como de hábito, caminhávamos de manhã cedo. O sol maravilhoso de Brasília nos aquecia. O céu azulíssimo. O clima seco e uma brisa refrescante nos estimularam a aumentarmos o trajeto.
Da calçada víamos as mesas ao ar livre das cafeterias. Delicioso cardápio, servido em estruturas prontas para as exigências sanitárias impostas pela covid-19.
A mudança de percurso nos fez observar que na fachada de um prédio se destacavam duas bandeiras do Brasil penduradas na varanda, talvez revelando uma família orgulhosa de ser brasileira.
Muito legal! Seria bom que esse gesto fosse uma rotina em muitos outros lares. Afinal, símbolos unem coletividades, moldam comportamentos, emulam superações. E não olvidemos quão intenso são os desafios a serem superados em nosso país.
Uma pena! Fora de competições de futebol, quando os brasileiros se tornam os mais patriotas seres da terra, vestir-se de verde amarelo, cantar o hino nacional e enrolar a bandeira no corpo passou a ser gestual identificador de um grupo ideológico.
Não poderia ser assim. Os símbolos nacionais são de todos. São de negros, pardos, amarelos, brancos, qualquer cor de pele. São dos ricos, da classe média, dos remediados, dos que passam fome e dos que nem fome passam. São dos de direita, de centro, dos socialistas, dos de esquerda, dos sem coloração partidária.
Envergar o "auriverde pendão da minha terra" no intuito de marcar posição política é até admissível, mas se usado radicalmente tende a indicar uma apropriação indevida de um bem imaterial que pertence aos brasileiros.
No futuro, gostaria de observar outras bandeiras do Brasil penduradas em varandas e pensar: ali mora um brasileiro que se orgulha do seu país. Em quem ele vota? Não sei. Não importa. Não podemos caminhar como sonâmbulos rumo ao precipício, puxados pela mão de inescrupulosos.
Urge uma mudança de comportamento. Aplacaria a sede de enfrentamento político-ideológico de momento. "Diferenças não necessariamente significam conflito, e conflito não necessariamente significa violência" (Huntington). Somos todos um Brasil. Somos todos um único povo, uma única nação.
As divergências políticas precisam ser tratadas como divergências políticas, nunca como vinganças figadais que exigem o emprego da lei de talião. Ou pior, nenhuma lei, apenas a vontade irrefreável de títeres das bolhas digitais.
Paz e bem!
Otávio Santana do Rêgo Barros, General de Divisão R1