Por Guilherme Arêas e Pedro Brasil
A repercussão de um protesto publicado na rede social Facebook fez com que um cobrador de ônibus de Juiz de Fora fosse afastado de seu cargo em menos de 24 horas após ele, supostamente, hostilizar uma usuária do transporte coletivo. O caso ocorreu na tarde de terça-feira, quando uma mulher de 57 anos, que trabalha como lancheira em uma escola, teria pedido ao trocador, 22, que fechasse a claraboia do ônibus da linha 522 (Teixeiras), devido à pancada de chuva que caía no horário. A irmã da mulher, uma idosa de 71 anos, estaria sendo atingida pela água que entrava pela abertura no teto do veículo. Ao pedir para que o cobrador fechasse o compartimento, a usuária teria sido tratada com agressividade pelo rapaz. Conforme boletim de ocorrência registrado pela mulher, o profissional teria dito "que não faria aquilo, que não é obrigação dele e que, se ela quisesse, poderia descer do coletivo, pagar outra passagem e fechar ela mesma". Após desembarcar, a mulher ainda teria sido vítima de agressões verbais por parte do cobrador, que teria feito gestos obscenos na frente dos demais passageiros. Um fiscal da empresa foi chamado e repassou o caso ao departamento jurídico, e a Viação Tusmil decidiu ontem pelo afastamento do profissional. Após a repercussão na internet, o rapaz teria inclusive recebidos ameaças de morte.
"Desci do ônibus e chorei muito, pois ele falava palavrões e fazia sinal com a mão, se referindo à minha filha, que não tinha nada a ver com a situação", disse ontem a lancheira, emocionada. Ela conta que a confusão teria ocorrido quando ela voltava para o Centro, após levar a irmã para uma consulta no Hospital Maternidade Therezinha de Jesus. "Quando o ônibus parou em frente ao fórum, na Avenida Rio Branco, fui falar com o motorista, mas ele deu razão ao cobrador e disse que ele não estava sendo pago para isso."
O encarregado da Tusmil, Cleiton Dilly, informou que a empresa reprova a atitude do funcionário, que foi afastado e poderá inclusive ser demitido se as acusações forem comprovadas. O departamento jurídico da companhia vai apurar o caso e avaliar as imagens da câmera instalada no coletivo. "Não aprovamos esse tipo de situação, até pelo fato de que os profissionais são treinados e passam por cursos de capacitação para lidar com o cliente da melhor forma possível." A Secretaria de Transporte e Trânsito (Settra) também lamentou o ocorrido e disse repudiar qualquer ação de desrespeito promovida por profissionais do transporte coletivo urbano.
Publicação na rede
Uma jornalista que estava no ônibus no momento da confusão publicou no Facebook a imagem do cobrador e um texto descrevendo a situação. "Como jornalista e como cidadã de bem, que inclusive paga (caro) para usar este transporte público, era mais do que minha obrigação relatar todo o fato", escreveu na postagem, que foi compartilhada por quase dois mil usuários do Facebook até a noite de ontem. Dezenas de internautas aproveitaram para comentar situações de desrespeito que também teriam sofrido nos ônibus da cidade. A jornalista ainda gravou depoimentos das vítimas e publicou o áudio no YouTube. Com a repercussão do caso, ela criou o grupo "Reclamações Transporte Público JF" no Facebook. O objetivo é canalizar reclamações, críticas, sugestões e denúncias publicamente feitas às empresas de ônibus, à Settra e à Astransp.
A Assessoria jurídica do Sindicato dos Trabalhadores em Transporte Coletivo de Juiz de Fora (Sinttro) informou que vai entrar com uma ação pedindo a retirada imediata das imagens e cobrando danos morais contra a usuária que postou o vídeo e a denúncia na internet. Além disso, a assessoria acrescentou que o cobrador estaria sendo reconhecido nas ruas e ameaçado de morte após a veiculação das imagens.
Settra recebeu 48 reclamações este ano
A Settra recebeu, este ano, 48 reclamações formais relacionadas à conduta dos profissionais de ônibus. A auxiliar de limpeza Sueli Rosa Alves foi uma que já procurou a secretaria para se queixar de um motorista da linha Graminha. "Eu entro com a minha filha, e ele não espera a gente passar da roleta e nem sentar. Arranca com tudo, e a gente corre o risco de se machucar." O eletricista de manutenção José Maia, 56, também garante que há um motorista problemático no seu bairro. "Ele para fora do lugar, arranca de qualquer jeito e ainda assedia algumas mulheres que usam o ônibus. Muita gente no bairro tem problema com ele." A professora Rosana de Souza Dias, 56, disse que chegou a mudar seu local de trabalho depois de ter sido maltratada por um condutor. Ela contou que, certa vez, estava com sacolas indo para a escola onde lecionava na Zona Norte quando o motorista teria gritado para ela sair da frente por estar atrapalhando o desembarque dos trabalhadores. Envergonhada, ela desceu no ponto seguinte e pediu transferência para não correr o risco de cruzar novamente com o homem.
O passageiro que se sentir lesado ou desrespeitado pode entrar em contato com o Serviço de Orientação ao Usuário (SOU), pelo telefone 3690-8218, na sede da Settra (Rua Maria Perpétua 72, Ladeira), ou ainda no JF Informação. É importante, se possível, levar o nome do funcionário, número do carro, hora e data do fato. Com este registro, a Settra investiga a situação, ouve o funcionário, busca registros das câmeras e analisa histórico de reclamações do profissional. A pena varia de acordo com a gravidade do caso, podendo ir desde advertência até a demissão do profissional.
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