sexta-feira, 6 de julho de 2012

Comissão aponta envolvidos em esquema de jogo do bicho

FOTO: OSVALDO RAMOS / DIVULGAÇÃO
Desvio. Mansões do comandante foram construídas por subordinados, que trabalhavam como pedreiros
FOTO: OSWALDO RAMOS - DIVULGAÇÃO

A Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG) vai acionar nos próximos dias as Corregedorias das polícias Militar e Civil, a Procuradoria Geral de Justiça em Minas e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para que esses órgãos tomem providências em relação ao envolvimento de policiais, um juiz e três promotores num grande esquema de corrupção que tem como principal beneficiário um bicheiro de Juiz de Fora, na Zona da Mata.

Depois de três meses, a comissão concluiu ontem a principal parte da investigação e apontou que, por trás do funcionamento clandestino de 22 pontos de anotações de jogos do bicho e de máquinas caça-níqueis na cidade, existe uma rede de corrupção em que os beneficiados pelas propinas chegam a lucrar até R$ 16 mil mensalmente. O esquema funcionaria há pelo menos dois anos.

Entre abril e junho, a comissão colheu 28 depoimentos de testemunhas e dos próprios acusados. Os relatórios de até 200 páginas trazem detalhes de como o bicheiro Frederico Arbex atuaria. Em troca das propinas, policiais civis e militares, conforme a comissão, seriam coniventes com o esquema. Na outra ponta, promotores e até um juiz não levavam as investigações à frente.

Ouvido pelos parlamentares, um outro bicheiro da cidade denunciou que recebeu a oferta para ter de volta um notebook apreendido numa operação em troca de R$ 10 mil. Na denúncia, o ex-bicheiro cita o delegado Fernando Camarota e os investigadores Alexandre Soares, o Carioca, e outro identificado apenas como Marcelo.

Em outro depoimento, um tenente contou ter sido ridicularizado pelo bicheiro Arbex ao tentar apreender caça-níqueis controlados pelo contraventor. Segundo o militar, o bicheiro garantiu que teria todo o material recuperado com a ajuda dos comparsas. Arbex é dono de seis lanchonetes e de uma boate em Juiz de Fora. Ele não foi encontrado ontem.
Mansões. Além da suspeita de cobrança de propina, a investigação trouxe uma outra revelação. Segundo o deputado Sargento Rodrigues (PDT), que preside a comissão, o capitão Yoshio Yamaguchi, comandante da 30ª Companhia da PM, outro suspeito de envolvimento no esquema para beneficiar o bicheiro, foi denunciado também por subordinados pelo desvio de materiais de construção que deveriam ser usados na reforma da companhia. Em vez de seguir direto para a unidade policial, parte do material era descarregada na casa do comandante.

Com um salário mensal de R$ 4.000, Yamaguchi teria erguido verdadeiras mansões ao longo de dois anos. Como mão-de-obra, diz a denúncia, ele obrigava os subordinados de quartel a fazer o trabalho de pedreiros. "O capitão tem cinco casas de luxo na cidade com um salário de R$ 4.000. Isso é suspeito", disse o Sargento Rodrigues.
Acusações
Veja alguns trechos do depoimento dado por um ex- bicheiro à comissão:

Propina. "Encontraram alguma coisa relacionada a jogo de bicho no computador e me pediram dinheiro para devolvê-lo. Só fiquei muito aborrecido porque não fazia acerto com a Polícia Civil".

Valor. "O preço exigido foi R$ 10 mil".

Promotores. "Não. Eles só ouviram. Não houve nenhuma orientação" (ao ser perguntado se foi orientado pelos promotores).
O esquema
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DEPOIMENTO
Policial diz que material foi só doação
Ao ser ouvido pelos deputados que integram a Comissão de Direitos Humanos, o capitão Yoshio Luiz Yamaguchi, acusado de desviar material de construção da corporação para investir em empreendimentos próprios, negou as denúncias. "Ele fala que nunca recebeu propina dos bicheiros e que os materiais de construção foram doados", disse o deputado Sargento Rodrigues (PDT). Agora, a comissão quer que Polícia Militar em Juiz de Fora faça a prestação de contas da reforma da companhia.

O delegado Fernando Camarota também foi ouvido e negou as denúncias de recebimento de propina. O presidente da comissão disse que a investigação vai continuar e outros citados nas denúncias deverão ser convocados.
CPMI. Sargento Rodrigues disse ontem que vai pedir ao Congresso Nacional que instaure uma Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) para apurar as denúncias. (NO)
SEM EXPLICAÇÃO
Juiz denunciado foi afastado
O juiz Murilo Sá, apontado por envolvimento no esquema, teria sido o único afastado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Em Minas, a assessoria do Tribunal de Justiça confirmou que o magistrado está fora de suas funções desde abril, mas não esclareceu os motivos.

Os promotores Marcelo Coutinho, Cleverson Guedes e Carlos Carvalho, segundo o ex-bicheiro ouvido como testemunha, teriam ignorado as denúncias sobre a oferta de propina.

Ontem, as corregedorias das polícias Militar e Civil, por meio de suas assessorias de imprensa, informaram que somente quando os inquéritos próprios estiverem prontos vão tomar as devidas providências e se pronunciar sobre o caso.

A assessoria de imprensa do Ministério Público informou que os promotores não ignoraram a denúncia e pediram ao denunciante que levasse o caso à Promotoria do Crime Organizado. A assessoria não soube informar se a corregedoria do órgão abriu inquérito. Os promotores e policiais citados estão trabalhando normalmente. 

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