Posso imaginar o burburinho persistente nas salas envidraçadas dos chefes de redação em jornais da terça-feira à tarde. Os editores e seus auxiliares, em reunião nervosa, premidos pelo tempo, tentavam definir a pauta no próximo dia.
Qual seria a capa?
A votação da PEC sobre o voto impresso, a reforma eleitoral com a inserção distritão, o desfile de viaturas blindadas e motorizadas em frente ao palácio do planalto, ou talvez a revogação da lei de segurança nacional.
Cada tema, e suas implicações, defendido por jornalistas experimentados desejosos de valorizar os seus nichos. Ao fim, prevalecendo o consenso do grupo, venceu a necessidade de informar à sociedade brasileira como um todo e aos agentes políticos partidários em seus microcosmos, quais os temas mais palpitantes para formação da opinião.
Sobre o deslocamento dos veículos militares, imaginando-me um editor da coluna opinião, o evento poderia ser analisado sob dois aspectos. Não excludentes.
Há aqueles que capturaram a imagem de uma cerimônia em homenagem ao comandante em chefe das Forças Armadas, um cargo previsto na constituição, mas, para fins práticos do dia a dia, honorífico.
Há aqueles que registraram como uma demonstração de força do poder executivo, quiçá em caráter intimidatório, contra os outros poderes da república.
As duas opções, ambas constrangedoras para as Instituições e para os seus quadros, pecam pelo princípio da oportunidade.
Restou claro, independente da razão para a sua realização, que o momento não casou com as agendas das casas legislativas, em hora de plena atividade.
Estavam tratando de temas sensíveis e, por consequência, críticos para o futuro estável do povo brasileiro. Afetou, portanto, o conturbado ambiente de crise pelo qual atravessa o país.
No passado, a confiança dos chefes de poder nas Forças Armadas era claramente demonstrada com o respeito à liturgia dos cargos e com o claro entendimento da missão definida no Artigo 142 da Constituição Federal. Uma instituição de Estado, que é serva, exclusivamente, desses preceitos legais.
A postura da autoridade – como no adágio: nem tão próxima que pudesse queimar-se, nem tão afastada que sucumbisse ao frio – fortalecia o respeito pelas Forças Armadas no seio da população brasileira, além de contribuir para promover dissuasão na defesa dos interesses nacionais em cenário internacional.
Desde o amálgama das três raças em Guararapes, homens e mulheres constroem e sustentam a segurança do território brasileiro e de seus interesses geopolíticos para a consolidação de uma nação na qual, geração após geração, os sonhos se concretizam.
Portanto, cabe a essa mesma sociedade, afetada pelos reflexos dessa crise, manifestar-se vigorosamente em defesa dos nobres guerreiros do mar, da terra e do ar.
Sociedade, assuma pás e picaretas e construa trincheiras largas e profundas, que inviabilizem a ação de aventureiros desejosos de incursionar na retaguarda das linhas da ética e da moral, ou sabotar a reserva principal da hierarquia e disciplina.
Se eles alcançarem o centro de gravidade do dispositivo dessas instituições, a desconfiguração das Forças Armadas passará para a história como uma derrota de todos nós, povo brasileiro.
As vedetas desse dispositivo defensivo são vocês, cidadãos da Terra de Santa Cruz, porquanto não durmam na hora.
Paz e bem!
*General de Divisão R1
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