Leio jornais diariamente. Um saudável exercício de contato com a realidade. Reconheço no jornalismo profissional uma fidedigna fonte para a formação de opinião. Embora me considere “digital”, ainda aprecio o periódico em papel, o folhear das páginas, a tinta impregnada nos dedos.
Na semana passada, fiz um levantamento nas capas dos principais jornais com foco na exposição das Forças Armadas, em especial do Exército Brasileiro, que denotasse prejuízo à imagem da instituição. Não foi uma surpresa a quantidade de citações, em vista dos últimos eventos trazidos pela Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investiga o envolvimento de agentes públicos e privados no combate à covid-19.
Contabilizei 23 chamadas de capa. A pesquisa se ateve àquelas que continham a palavra militar, general, coronel, Ministério da Saúde, Ministério da Defesa ou o nome de alguma das Forças. Há muitos anos não se tem uma fotografia tão desfavorável e insistentemente divulgada nos mais diversos meios de imprensa.
Uma crise de imagem se caracteriza por uma ampla exposição negativa durante muitos dias. Vive-se, portanto, uma crise de elevada temperatura e claros reflexos para a confiabilidade da instituição. Não há como fugir de enfrentar com postura firme e responsabilidade institucional essa saraivada de más notícias que ofende a imagem da Força e que se alastra pela opinião pública.
A imprensa não é a rainha absoluta da verdade. Acerta e erra, mas é fundamental para a fortaleza da democracia e para alertar os desvios de toda ordem. Criticar a imprensa não cicatrizará a ferida aberta nesse par de anos. Afinal, “jornalismo é publicar aquilo que alguém não quer que se publique. Todo o resto é publicidade” (Randolph Hearst). É importante saber conviver nesse ambiente e auferir ensinamentos da relação. Tornamo-nos atores de um processo opinativo.
O Exército é uma grife poderosa. É, portanto, notícia! Alguns desejam pôr-se a seu lado, usá-lo despudoradamente e ainda tirar uma “selfie” por interesse pessoal. Assim, é preciso alijar esses operadores e estancar a hemorragia que suga a crença genuína incorporada na população e que desassossega a alma da instituição.
O marechal Castello Branco defendia o afastamento das Forças Armadas do ambiente político-partidário. Criou regras que impediam o “ir e vir” de quadros entre os quartéis e esses ambientes. Sua postura reposicionou a instituição na linha mestra de agente de Estado.
Em um exame de consciência institucional, talvez fosse momento de, humildemente, restabelecer a exitosa estratégia do “Grande Mudo”. Empregada durante anos, mostrou-se valiosa para ultrapassarmos o bastião ideológico de Humaitá — metáfora do período pós-governo militar —, uma alusão à épica marcha do Chaco na Guerra da Tríplice Aliança.
Chegamos vigorosos ao século 21. Envolvemos os contendores. Sobrevivemos às vicissitudes. Conquistamos índices de aceitação que giram em torno de 75% de credibilidade. Nós somos profissionais em avaliar conjunturas com racionalidade. Não seremos ludibriados por maganos que desejam incorporar o nosso prestígio.
Deixaremos um robusto legado às futuras gerações por nos afastarmos deste imbróglio político-pessoal-partidário. Falta-lhe compreensão, à classe política, de nossos mais caros atributos. Quando dizemos sim, é sim. Quando dizemos não, é não. Por conseguinte, não devemos buscar adaptação ao ambiente carbônico que os envolve.
Uma parte dessa classe tem-nos enxergado como peões — sacrificáveis — no tabuleiro de um jogo de interesses. Não o somos! Sempre estivemos prontos para participar do processo de construção do país, desde que nossos movimentos se alinhassem com o regramento constitucional. O agir assim é dever contido em nosso juramento de soldado, evocado com emoção nos primeiros dias da caserna: “… cuja honra, integridade e instituições defenderei, com o sacrifício da própria vida”.
Estive na ponte sobre o Riacho Itororó (Paraguai), local de uma das batalhas da dezembrada. Sentado na margem escarpada daquele curso d’água pude aquilatar a energia que empreendeu Caxias para impulsionar os seus comandados contra o inimigo entrincheirado. Ouve-se, hoje, o brado do alquebrado soldado: “Sigam-me os que forem brasileiros!”. Do outro lado da ponte, o bem de nosso país. Entre nós e o objetivo há um obstáculo. Sobrepujemo-lo!
Paz e bem!
General de Divisão R1*
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