O mundo parou para acompanhar as notícias sobre o assassinato consumado na manhã de sexta-feira, de 22 de novembro de 1963, na cidade de Dallas, Texas.
O presidente dos Estados Unidos da América, John Kennedy, fora atingido por um disparo de fuzil contra sua cabeça vindo a falecer horas depois.
Na realpolitik, a cadeira do homem mais poderoso do planeta não poderia ficar vacante. O mundo livre dependia das decisões de quem a ocupasse, para livre manter-se.
Estados Unidos e União Soviética disputavam o domínio dos corações e mentes no período alcunhado pelo escritor George Orwell de “Guerra Fria.”
Pronto o vice-presidente Lyndon Johnson se fez presente para dar luzes às ações de superação da crise, assumindo o papel de liderança consentida, conquistada com movimentos precisos, falas objetivas e sincera humildade.
É sobre seu estilo de liderança estimuladora que trataremos. Uma emulação aos nossos gestores, particularmente do campo político, tão carentes desse atributo.
Inabilidade política, falta de capacidade para planejar, falta de modos, vaidade como combustível são alguns dos deméritos que nos ofendem diante dos desafios sociais, econômicos e principalmente sanitários trazidos pelo surgimento do Sars-Cov-2 da Covid-19.
Quando nos debruçamos sobre os presidentes americanos, algumas figuras surgem naturalmente: Abraham Lincoln, Franklin Delano Roosevelt, Ronald Reagan e, mais recentemente, Barack Obama.
Quase nunca a imagem de Lyndon Johnson nos vem espontaneamente. Embora esse homem tenha sido responsável pela aprovação da lei dos direitos civis, um marco dos direitos humanos, que permitiu aos negros o efetivo direito ao voto e à sociedade o enfrentamento do segregacionismo tão impactante naquele momento.
Sua longa experiência legislativa lhe indicava que deveria construir pontes tanto junto aos democratas, quanto aos republicanos.
Espelhou-se no ex-presidente Franklin Roosevelt, um promotor de união entre extremos, buscando a confiança mútua, condição fundamental nesses momentos.
Focou uma agenda doméstica enxuta, apresentando-a à nação apoiado no púlpito do Congresso – uma clara deferência – quebrando o protocolo de comunicar tais declarações a partir do salão oval da Casa Branca.
Definiu com clareza os atos a aprovar, evitando abordar temas simplórios que sugassem energia preciosa. Queria produzir um “momentum” que impulsionaria outras novas propostas.
Usava histórias para fixar os pontos mais fortes da narrativa e pessoalmente dialogava com editores dos grandes jornais para colher percepção e envolvê-los na apresentação do projeto junto a opinião pública.
Definia com precisão quem teria de convencer no Congresso ainda que fosse um adversário. Como prova do acerto de estratégia, Everett Dirksen, político oponente, defendeu a aprovação da lei dos direitos civis ao subir à tribuna declamando Victor Hugo: “mais forte que qualquer exército é uma ideia cujo momento chegou.”
Sabendo o limite de suas ações, compreendia a sensibilidade de não se envolver em uma área sob a qual não teria ingerência (independência de poderes) ou não fora convidado a opinar.
Aglutinava apoiadores por meio de ideias, os ferramentava para defendê-las, mas nunca os convencia pela imposição do cargo. Os convencia com base em argumentos dialogados. Não em propostas do tipo: “manda quem pode, obedece quem tem juízo”.
Muitas vezes atribuiu o sucesso das empreitadas a outros atores, ainda que soubesse a importância da sua figura, para conseguir harmonia na agenda política.
Sabia respeitar o cargo. Não se lhe tomava tempo com coisas que não merecessem a dignidade que o mandato lhe impunha.
Outras considerações sobre Lyndon Johnson poderiam ser postas à mesa para avaliação dos leitores e comparação com os condutores de nosso ambiente político.
Fica uma sensação de desesperança ao não identificarmos uma liderança nacional que ao mínimo tangencie o perfil descrito neste artigo.
É angustiante sermos conduzidos indefesos rumo ao abismo da hipocrisia, da intolerância, da insensatez e da tirania da presunção, essa mais perigosa para o país ante a possibilidade de transformar-se em tirania política.
Paz e bem!
Otávio Santana do Rêgo Barros. General de Divisão R1
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