sábado, 22 de maio de 2021

Um mal menor, ainda é um mal - Por Otávio Santana do Rêgo Barros


Não se trata de arrependimento. É a constatação de um erro. Em 2013, ventos da mudança sopraram fortes em nossa sociedade. Cresceu o sentimento de que a velha política, a corrupção entranhada e a ineficiência de governos seriam varridas para o lixo da história. 

O governo aboletado no trono àquela época respirava dificuldades. Desperdiçara a bonança das commodities em maus projetos e em apoios ideológicos ultrapassados.

Simples vinte centavos agitaram multidões com colorações de todos os matizes. Gente ordeira, gente bagunceira e gente arruaceira. 

A continuação, um impeachment (mais um), um governo de transição e a eleição de novo grupo político de direita supostamente antenado com os anseios da sociedade do século 21.

Consumado o transpasso da faixa - com fidalguia pelo antecessor - o governo iniciou uma hipotética batalha do bem contra o mal que ainda o faz sangrar. 

A coletividade perplexa diante de brigas infantis, conchavos espúrios, novas verdades e, sobretudo, com a quebra de contrato assinado em 2018 (a tese do “novo” está se desmilinguindo) se pergunta onde errou.

Perante os desacertos no atual grupo de mando e da perspectiva de ressurgimento daqueles que provocaram tanta ansiedade por mudanças, frustradas até o momento, vale esclarecer.

 Não se trata de arrependimento. Afinal, nos dispusemos a encarar as aleivosias pretéritas. A transformação estava madura.

Constatação de erro sim, ao reconhecer que precisaremos saltar outra vez no precipício da incerteza de uma escolha eleitoral, rejeitando os maus políticos que não justificaram em faina o voto confiado de suas respectivas maiorias.

Recorde-se Hanna Arendt ao afirmar que não pode haver partidos acima de todos os outros partidos. É contra essa luta odienta e irracional que se peleja. 

Quando se infringe o direito de uma única pessoa, infringem-se os direitos de todas as pessoas, mesmo daquelas que se coloquem ao lado do violador.

Os direitos vêm sendo atacados. É consequência do recuo gradual nas questões morais que leva à irreverência de gestores apaixonados pelo cinismo anárquico.

Defenda-se o pensamento: “uma escolha do que se julga ‘um mal menor’ é ainda uma escolha simplesmente de um mal (Hannah Arendt).

A opção não pode se transformar em dilema. Uma escolha de Sofia. Seremos, sempre, forçados democraticamente a enfrentá-la. 

Deixemos o dilema para os grupos radicalizados e autofágicos. Encontremos em nossa consciência não maniqueísta a opção aos males menores que parecem teimar em renascer das cinzas.

Paz e Bem!

Otávio Santana do Rêgo Barros

General de Divisão do Exército

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