- Majestade, disse o conselheiro, fazendo uma genuflexão exagerada, meus cumprimentos! Brilhante o discurso hoje de manhã para a plebe ignara.
- Concordo inteiramente com o senhor. A massa só estará imune à doença após o vírus circular. Esse negócio de isolamento é coisa dos bárbaros encarnados.
- Se me permitir majestade, relembrarei aos demais conselheiros um exemplo histórico: a “peste escura”. Como consequência do elevado número de vidas ceifadas, a “velha região” se tornou mais rica e poderosa. Ótima referência para o nosso reino.
- Sob sua liderança cintilante, defenderei nos fóruns internacionais a inexorabilidade da morte.
O diálogo fictício (plausível de ter ocorrido...) foi adaptado aos desafios de gestão no enfrentamento à pandemia da COVID-19. Perdeu-se o senso de realidade. Bebeu-se do cálice envenenado da subserviência. A vaidade consumiu os gestores. A população está incapaz de aquilatar o perigo ao descuidar-se da autoproteção.
É a demência social
O diálogo enriqueceria um roteiro do gênero distópico. O livro entraria na lista dos mais vendidos, rivalizando-se com Fahrenheit 451 (Ray Bradbury) ou Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley).
De volta à realidade.
Na semana que se findou, perplexos, fomos impactados pelas notícias sobre decisões judiciais egressas da mais alta corte, envolvendo o Senado Federal. Por discussões na formação da comissão para investigar a COVID (a gestão ordinária do governo central). Pela discussão se os entes estaduais e municipais deveriam ser parte do escopo da CPI (por que não?).
Todos, quase nos olvidamos do mais importante: A VIDA!
Convivemos com a falta de kit de intubação e oxigênio. De vacinas e insumos farmacêuticos ativos (IFA) em atraso. Um número inaceitável de vidas ceifadas.
A crescente incapacidade de a sociedade indignar-se, não contribui para o firme enfrentamento dos desafios ora presentes na vida de nosso povo. As situações estranhas, antes inconcebíveis, vão se normalizando. Para alguns, as mortes estão se transformando em estatísticas.
Sabe aquela história do passarinho carregando no bico um pouco de água para ajudar a apagar um incêndio na floresta, ambiente de sua sobrevivência?
Somos incompetentes para colaborar ou vamos entrar em campo, mesmo que sejamos minúsculos para o tamanho da catástrofe?
O pouco é muito, quando se soma a outros poucos.
Sou oficial general, com experiência em operações de ajuda humanitária (comandei o batalhão de força de paz no Haiti) e em operações de combate ao crime organizado (comandei a força de pacificação nos complexos do Alemão e da Penha).
Mesmo nas mais perigosas e desafiadoras situações, sempre observei uma atitude de cooperação das pessoas atingidas por fenômenos indomáveis da natureza, como no terremoto em Porto Príncipe, ou pela insanidade social das favelas, sob domínio do crime organizado e das milícias.
Esqueçamos o egoísmo – às vezes nem percebido - e busquemos o entendimento desarmado de nossa sociedade. “É preciso amar as pessoas como se não houvesse o amanhã” (Pais e Filhos - Legião Urbana). Somos do bem!
A falta de educação social e de bancos escolares potencializa o comportamento da nossa gente. A falta de uma liderança inspiradora ajuda a piorar o cenário.
O Brasil está aprisionado no labirinto de sua própria história? Não! Onde está o barbante que nos tirará desse inferno astral? Encontremos!
Há um dever de casa a ser respondido por todos e que será cobrado pelo Professor Destino. Mestre duro e sobre o qual não temos domínio. É o dever de agir como cidadão responsável ao tecer a rede¬ social que nos protegerá, acaso tenhamos que saltar do trapézio da insensatez.
Paz e Bem!
Hoje, 19 de abril, Dia do Exército Brasileiro – Embrião em Guararapes. #ObrigadoSoldado.
Otávio Santana do Rêgo Barros
General de Divisão R1
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