“Esperança! Esperança diante das dificuldades. Esperança diante das incertezas. A audácia da esperança!” São excertos do discurso de Barack Obama que eletrizou a convenção democrata de 2004. É isso: esperança. Conquistá-la é um esforço individual custoso se estamos mergulhados na caverna.
Este fim de semana, na ânsia de construir esperança, reli o sociólogo Manuel Castells, em sua obra O Poder da Comunicação. Buscava compreensão para os desafios que a sociedade brasileira enfrenta, tais como a avassaladora pandemia, a inepta falta de gestão dos poderes e o descaso dos indivíduos. Combinação dantesca.
A obra trata das relações de poder, base organizadora da sociedade. Segundo Castells, elas são construídas na mentalidade das pessoas por meio de processos de comunicação. Deseja influenciar, transforme a mente das pessoas. Construa boas mensagens. Atento: “a mensagem só é eficaz se o receptor está pronto para ela e se o mensageiro é identificável e confiável.”
Os meios de difusão são velhos conhecidos. A credibilidade ainda reside nos tradicionais, mas a idílica imprensa, sem inclinações políticas, está em extinção. No conflito entre cognição e emoção, as pessoas tendem a escolher a informação alinhada à decisão que estão propensas a tomar. O cérebro político é emocional. Indivíduos são “avarentos cognitivos” (Popkin, 1991).
Tudo isso serviu como pano de fundo para analisar a futura campanha eleitoral. São três agrupamentos. Um ligado ao ex-presidente Lula, um ligado ao atual presidente e um terceiro que aglutinaria atores mais ao centro, críticos das extremidades ideológicas.
Como a sociedade decidirá entre esses ajuntamentos? As pessoas votam no candidato que provoca os bons sentimentos e não naquele que apresenta os bons argumentos, portanto, a resposta à pergunta: com o emocional.
O novel agrupamento precisa martelar na opinião pública uma narrativa propositiva que reúna um número maior de ideias virtuosas. Nas palavras de Lakoff, “a batalha política é uma batalha de enquadramento”. É preciso ser ágil diante dela.
Seria utópico incentivar mudança de comportamento dos contendores da próxima ronda eleitoral? Obrigá-los ao debate aberto sobre políticas públicas. A mostrar sua visão de como tratarão os problemas e as soluções acordadas. Nada de histrionismos!
No processo decisório dos governos atual e anteriores, é fácil encontrar desvios comportamentais e de gestão. Esses ainda precisarão ficar às claras. É outra boa temática na púbere política que se almeja. As campanhas são momentos decisivos do processo de escolha. Mas a construção de uma candidatura é labor de informação e difusão de emoções.
As imagens relevantes moldam a mente do público, sendo difícil de alterar. O mais importante é o caráter, como o candidato se apresenta e como é realmente (sem os marqueteiros). A menos que algum evento realmente dramático ocorra próximo do momento da tomada de decisão, é isso que prevalece.
Uma pesquisa antiga relata que as pessoas destacam como as mais importantes características esperadas em candidatos: honestidade, inteligência e independência. Uma campanha que valorize a capacidade do candidato sob esses três pontos e que, ao mesmo tempo, ilumine ações contrárias em seus rivais, favorecerá aquele que seja portador mais claro desses predicados.
A grama do estádio foi trocada. A tática é conhecida. O novo deixou de ser novo. Será preciso que o velho super-herói vista uma nova capa. A antiga esgarçou. A kriptonita do poder está perdendo energia.
A imprensa há de ficar atenta. Seu trabalho na cobertura das autoridades detentoras do poder, por vezes, serve de palco para as ideias que reforcem as características dos personagens políticos. A ironia é que, à medida que a instituição da mídia desempenha seu papel na propagação de fatos desabonadores, ela enfrenta o risco de perder a legitimidade ante parte de seu público.
General da Reserva do Exército
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