segunda-feira, 22 de março de 2021

EFEITO BACKFIRE - POR OTÁVIO SANTANA DO RÊGO BARROS

 


Há poucos dias, recebi indicação para leitura do artigo “Por que você não deveria argumentar com radicais – o efeito backfire (blogs.unicamp.br/covid-19/) produzido pelo cientista político Davi Carvalho da UNICAMP. Gostei!

Trata-se de um trabalho na área da psicologia social no qual o autor discorre sobre a dificuldade de convencer pessoas extremadas a mudar de posição.

Pesquisas acadêmicas revelam que esses indivíduos, ao serem confrontados com uma realidade da qual discordam, tendem a assumir um comportamento mais radical em defesa de suas ideias. “As pessoas frequentemente ignoram informações novas que as contradigam, argumentam contra ou descartam suas fontes para manter crenças já existentes”. (David Redlawsk)

A reação psicológica ficou conhecida como efeito backfire. O autor esclarece que “não é fruto de ignorância ou burrice”, trata-se de um reflexo do chamado raciocínio motivado - forma de pensar na qual elegemos tão somente as evidências que nos confortam para chegar-se a uma conclusão à qual já tínhamos optado de antemão.

A teoria ajuda a compreender as defesas apaixonadas de posições polarizadas com as quais parte de povo acredita e declara amor ou ódio aos agrupamentos políticos de ocasião. 

Carl Sagan afirmou que as crenças não se baseiam em evidências, mas em uma profunda necessidade de acreditar. Acreditar em qualquer coisa embalada com laço colorido nas cores de preferência.

Quando posturas reacionárias tomam o rumo de escolhas políticas, como soe acontecer no Brasil, adentra-se em um campo de batalha onde os digladiadores, se sobreviverem, sairão com sequelas irreversíveis.

O fato novo – possibilidade de o ex-presidente Lula concorrer às eleições do próximo ano – agitou os grupos a favor e contra, empurrando-os ainda mais para os polos de suas posturas políticas e ideológicas.

Do baralho eleitoral, os valetes que despontam mais robustos são o atual e o ex-presidente. Natural que o sejam, trazem a força do cargo associado ao uso da caneta executiva ou do emocional de tempos passados.

É fácil desfiar um rosário de maus feitos e atribui-los a cada um deles, às vezes aos dois ao mesmo tempo. Segundo a teoria, seria “tiro no pé”. Apenas reforçaria o raciocínio motivado de cada grupo, já antecipadamente decidido por lutar pelo sufrágio de seus mitos.

O professor Carvalho ilumina uma possibilidade de enfrentar a tese inicial e prefiro usá-la como tábua de salvação. Convencer os indecisos, valendo-se de argumentação qualificada. 

As últimas pesquisas de intenção de voto (verdade que perderam, no mundo todo, parte da confiabilidade) trazem uma disputa cabeça a cabeça entre os dois preferidos. Ressalve-se, o somatório das intenções desses valetes, não ultrapassa a quantidade de intenções atribuídas aos outros contendores. Para tratar apenas de matemática...

Muitas pessoas que no último pleito depositaram suas esperanças naquele que refletia as aspirações de contestação ao governo da esquerda estão órfãs pelas posturas tomadas pelo governo da direita. 

Procedimentos iguais, sinal trocado!

Elas aceitariam de bom grado alguém que assuma o papel de aglutinador, que as acolha com projetos equilibrados e que as faça voltar a ter esperança.

Se essa tese que se avoluma em parte da sociedade encaminhar-se de forma adequada, aparecerão outros valetes para qualificar a disputa democrática, dignos de cooptar a predileção dos não impactados pelo raciocínio motivado.

Nobres valetes, tomem como estímulo o pensamento de Gandhi: “se tiver fé em que serei capaz de fazê-la, adquirirei certamente a capacidade de realizá-la, mesmo se não a possuía ao começar.”

Tenham fé. Vocês são capazes. Nos acreditamos!

Paz e Bem!

Otávio Santana do Rêgo Barros

General de Divisão R1

3 comentários:

  1. Olá, general Otâvio R Barros! Sou o autor do texto citado e fiquei lisonjeado pela sua leitura e apreciação. Concordo também com a análise da realidade política atual que fez a partir dos conceitos, muito bem descritos no seu texto aliás. Gostaria de pedir sua licença para compartilhar seu texto, no meu Facebook, em post privado aos amigos. Precisamos mesmo de novos valetes para 2022!

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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    1. Bom dia, o Gen Rêgo Barros publica seus textos em vários jornais pelo País e por sermos amigos há vários anos me envia os originais para ser postados aqui, local de encontro da Reserva Pró-Ativa do Exército. O Gen Rêgo Barros já autorizou que você o reproduzisse e ficou muito feliz pelo interesse. QQ dúvidas faça contato pelo meu e-mail: schmitz57@globo.com

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