Ao final do carnaval pandêmico, após observar nos meios de comunicação uma série de notícias que tanto me chocaram, arrisco-me a tratar de um tema que já foi, por muito tempo, adstrito quase que exclusivamente ao estamento militar: a liderança.
Existem muitas correntes de estudiosos a analisar a liderança. As que defendem que liderança é natural, já nasce com o indivíduo. As que defendem que liderança é adquirida do exemplo de outros líderes. As que defendem que liderança pode ser construída pelo estudo sistemático. E há, finalmente, as que defendem que as ações de liderança são desencadeadas a partir de curtos-circuitos emocionais provocados pelas situações de momento.
O retrato de festas e bares lotados, além de outras situações dantescas notadas nesse período, é fruto da dificuldade que a sociedade brasileira tem para edificar padrões de comportamento que respeitem os direitos coletivos.
Continuamos todos, após cinco séculos do achamento, egoisticamente de costas para o Brasil, ainda esperançosos de retornarmos ao continente mãe, levando as riquezas aqui bateadas, como comentou Vianna Moog em seu livro Bandeirantes e Desbravadores (Editora José Olympio - 2011)?
Se há um tema que ultrapassou as desavenças editoriais entre os grandes órgãos de imprensa, fazendo-os caminhar em paralelo, é a confiança de que o recurso diante da pandemia é evitar aglomerações e empregar medidas sanitárias. Só elas evitarão a propagação do coronavírus, fator gerador do aumento dos casos, de internações leves ou graves e de perdas em vidas queridas.
Mesmo perante esse esforço diário dos meios de imprensa - diria até maçante -, o que mais enxergamos no final de semana foram as pessoas, consciente ou inconscientemente, afrontando a orientação sanitária na busca insana por demonstrar o desapreço por sua própria vida.
Talvez não tenham observado alguém que se mostre capaz de conquistar a sua confiança, colaborando para um comportamento social saudável de grupo. Um líder que arraste pelo exemplo intelectual, físico e moral.
Alguns governantes não possuem esses atributos. Agem como jogadores de roleta russa ao promoverem ajuntamentos insensatos ou ao exigirem o seu direito de ir e vir, quando aos seus liderados é imposto apenas o direito de estar.
Líderes podem ser cunhados por propagandas bem elaboradas, nem sempre refletoras da verdade. Independente, para exercerem uma liderança catalisadora precisam cumprir e exigir o fiel respeito às leis; precisam administrar com honestidade de propósito; precisam angariar a confiança e a legitimidade que permitam induzir a sociedade a agir dentro do alargado conceito da cidadania.
Desde dezembro, quando tivemos as festas de Natal e Ano-Novo, somos informados por sanitaristas, acadêmicos, imprensa e infectologistas que “não existe jantar de graça”. Que a cada aglomeração promovida nesses dias especiais de nossas vidas, quinze dias depois teremos uma conta a pagar em vidas ceifadas.
A sociedade clama, daqueles que a dirigem, por não se omitirem diante de fatos e informações que possam ajudar a debelar o desafio. A enfrentarem com seriedade e atitude cristã a complexidade de gerir este momento do nosso país.
Perdoem a cegueira social desses foliões entusiasmados, senhores líderes, pois, em breve tempo, diante da continuada e dolorida perda de entes queridos e de seus meios de sustento, é para vocês que olharão implorando a solução. Se não encontrarem o amparo esperado aguardarão, em sofrimento, a abertura das urnas para a desforra.
Paz e bem!
Otavio Santana do Rego Barros - Gen do Exército e ex-porta-voz da Presidência da República
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