domingo, 17 de janeiro de 2021

Não à estupidez - Por Otávio Santana do Rêgo Barros

 


Estou cansado, mas quem não está? As notícias sobre os números alarmantes do coronavírus e sobre a preparação letárgica para a vacinação não são alvissareiras. 

Desde o primeiro caso de COVID-19 assistimos a um bate-cabeça em todas as instâncias da administração pública. Ademais, uma antecipação grotesca de disputas eleitorais.

A “verdade” hoje é fluida. Logo, os interesses prioritários da sociedade exigem transparência das autoridades por meio de uma comunicação profissional. A comunicação sobre o tema vacina é amadora. Esperanças por dias melhores se evaporam, na crescente desconfiança da imunização.

Vejamos o exemplo do Instituto Butantã, referência acadêmica, tendo que se “virar nos trinta” para atender a três santos: o governo federal, o governo estadual e a empresa SINOVAC.

Em função de interesses diversos, o Butantã antecipou dados, ainda que verdadeiros, dissociados do padrão usado para pesquisas mundo afora.

Cobrado pela imprensa, pela academia, pela sociedade (escoimo os extremistas, esses criticariam mesmo que fosse estrondoso sucesso) precisou vir a público outra vez e apresentar a chamada taxa de eficácia geral. Aquela no “limiar da aceitação” pela OMS. Para leigos, foi um balde de água fria.

Com a população impactada pela desinformação das mídias sociais, do WhatsApp, de pronunciamentos levianos de autoridades vamos ter dificuldade em convencê-la a imunizar-se, especialmente a parcela mais simples e menos intelectualizada.

Vimos, ainda, ideológicos obtusos que se comportavam como hoolingans em final de campeonato, a torcer desbragadamente para que o índice de eficácia do Butantã ficasse abaixo do considerado aceitável pela OMS.

Domingo passado, na TV aberta, um senhor destroçado por perdas de pessoas queridas afirmou: “são duas situações, antes de acontecer (a perda) e depois”. Ele teve perdas, eu tive perdas, muito tiveram perdas.

A COVID não é brincadeira, ela mata, ela deixa sequelas, ela muda o nosso psicológico. Não há fórmula mágica para contê-la. Ou tomamos a vacina (de qualquer instituto) que seja certificada; ou partimos para um lockdown que não aguentamos mais; ou vamos para a galera ver o mundo acabar, deitados no barranco da insensatez e hipocrisia.

“Eu não tenho nada contra os estúpidos, e sim contra a estupidez” (Jacques du Lorens). Aceitem, se quiserem, os estúpidos, mas não comprem a sua estupidez. A escolha é sua.  

Paz e bem!

Otávio Santana do Rêgo Barros

General da Reserva e ex-porta-voz da Presidência da República

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