segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Um novo fio maravilha - Por Otávio Santana do Rêgo Barros


 “Fio Maravilha nós gostamos de você, Fio Maravilha faz mais um pra gente vê...” (Jorge Ben Jor) 

Deixo claro, sou entusiasta torcedor do Sport Club do Recife - o Leão da Ilha do Retiro. Vamos adiante…

Em minha adolescência ouvi muitas vezes essa canção do Jorge Ben Jor (refrão logo acima), uma homenagem ao folclórico jogador Fio Maravilha que tanto cativava a torcida do Flamengo.

Atleta de poucos recursos técnicos, cumpria bem a sua missão: empurrar a “redonda” para dentro do gol.

O Flamengo era uma equipe equilibrada, com seus altos e baixos. O rubro-negro construía as jogadas, deixando ao icônico centroavante o esforço de farfalhar as redes.

Equipes são assim, ou deveriam ser, trabalham em conjunto, com um objetivo comum e o êxito é direito de todos. Não apenas do seu fio maravilha.

Hoje, os quadros componentes de alguns governos padecem de desafios semelhantes aos enfrentados por aquela equipe rubro-negra. Ajustar-se para que o seu fio maravilha, e neste caso somente ele, faça os gols. É um fio maravilha desejoso de ser ao mesmo tempo o goleiro, o meio-campo e o centroavante. Cobrar o escanteio e correr para cabecear no gol. 

É chegado o momento desse jogador compreender a impossibilidade de conquistar todos os títulos, quando a dinâmica da política muitas vezes lhe oferecerá tão somente a queda para divisões inferiores. 

Deve parar de fazer gol contra e adequar-se com humildade a cumprir o seu papel no grupo, dividindo, modestamente, a alegria pela vitória. 

Em caso de derrota, igualmente assumir suas responsabilidades, evitando atribuir a outros jogadores os erros pela tática escolhida ou pela jogada mal formulada.

A gestão da comunicação dessas equipes está mais próxima de uma liga amadora de várzea, do que da comunicação de uma Champions League.

É preciso atuar com uma comunicação integrada em alto nível, que planeje, que estabeleça metas, que execute os programas e que faça a medição do sucesso ou do fracasso da campanha realizada. E que seja verdadeira!

Na comunicação do tipo “formigas em pânico” - expressão usada quando as antigas TVs preto e branco refletiam apenas pontos na tela - os sistemas não estão interligados, os personalismos prevalecem ao jogo de equipe e cada jogador diz o que bem lhe vier à cabeça nas entrevistas à beira do gramado. É caminho seguro para o desastre da imagem do time. 

Alguém no vestiário precisa dar um grito de alerta. 

- Pessoal! Basta de patacoadas, de destemperos verbais, de agressividade com jornalistas, de decisões no talão da bota, de declarações chistosas das quais ninguém mais ri. 

É mensagem que atinge apenas aos antolhados torcedores. Ou aos interessados de ocasião, aqueles que não vendem, tão somente alugam apoios.

É uma comunicação que não funciona mais. Precisa amadurecer, respeitar e dialogar com contrários (tolerância mútua).

Para ilustrar, trago-lhes uma passagem do livro COMO AS DEMOCRACIAS MORREM, do Steven Levitsky e Daniel Ziblat: “a tolerância mútua diz respeito à ideia de que, enquanto nossos rivais jogarem pelas regras institucionais, nós aceitaremos que eles tenham o direito igual de existir, competir pelo poder e governar.”

Conquanto essa comunicação seja bisonha, a maioria da população ainda apoia a equipe e parte dela vive o sonho passageiro de acreditar que “pão e circo” serão suficientes à sua sobrevivência.

Acaba o trigo, morrem os atores, resta o Coliseu vazio e escuro à espera do novo técnico. O antigo, qual era mesmo o nome?

Paz e bem!

Gen Div e ex-porta-voz da Presidência da Republica

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