quinta-feira, 3 de dezembro de 2020

ESAON - Por Otávio Santana do Rêgo Barros

 


A sobrevivência em ambiente hostil como a selva é uma das primeiras instruções nos cursos de combate do Exército Brasileiro. Exige do soldado redobrada atenção para superar o estresse emocional e o desconhecido da atividade.

No limite da fadiga, a capacidade de discernir é muito prejudicada e o erro pode levar à consequente perda de foco. Algumas vezes, à perda de vidas.
Nesse contexto, soldados treinados entendem que se torna imperioso fazer um ESAON.
O acrônimo representa cinco fases distintas e encadeadas para a retomada do controle.
Estacione ou seja pare.
Sente-se ou seja descanse.
Alimente-se ou seja se fortaleça.
Oriente-se ou seja defina a estratégia.
Navegue ou seja movimente-se rumo ao objetivo.
Venhamos à selva de pedra de nossos dias. Acabamos de concluir exitoso processo eleitoral. A democracia agradece!
Elegemos nossos prefeitos, que no jargão militar, são os homens-bússola de cada cidade.
A despeito do sucesso essa aparente calmaria pode ser indício de tempestades que se avizinham na nossa velha nova política.
É hora de decidir por um ESAON. Não percamos o controle. Os políticos vitoriosos, os derrotados, todos os eleitores da moderna ágora.
A campanha transcorreu, na maioria das cidades, de maneira serena e as influências externas ao processo foram escoimadas pelo eleitor.
É bem verdade que nos chamou a atenção o alto índice de abstenção, talvez pelo temor da praga COVID, talvez pelo desalento contra as manobras políticas que ainda se fazem presentes em nosso dia a dia.
Eleição municipal e sua governança é chão de fábrica. A linha de montagem não é interrompida rotineiramente por decisões atabalhoadas dos diretores do alto escalão.
Aliás, nessa última, os condottieres mais destacados tiveram pouca expressividade na indução ao voto. É possível que, como relata Thomas More na epístola do seu tratado Utopia: “os que são rudes e bárbaros só aceitam os que, à sua semelhança, se apresentam bárbaro e rude“.
E a população já parece fartar-se de políticos bárbaros e rudes.
O resultado final ansiado pela sociedade é um produto bem acabado que ofereça bem-estar e esperança de vida por dias melhores.
Portanto, essas escolhas municipais deveriam ser ainda mais valorizadas. A repercussão das decisões do prefeito (oriente-se) pode ferir de morte o dia a dia do corpo social na urbe por ele administrada.
As prefeituras são a sala de estar para a população. O diálogo é mais aberto e olho no olho. Mesmo nas cidades com milhões de habitantes, o alcaide está mais próximo dos cidadãos e pode consultá-los se o desejar.
O bom político assim deve proceder para melhor decidir o azimute, mas sem loucuras de qualquer ordem. Sem enfrentar chavascais, charcos e espinhos (verso da canção do Guerra na Selva) se puder desviar-se. Sem concessões e benefícios que sejam estendidos apenas àqueles de seu grupo umbilical. É necessário governar para todos.
Evidenciando o exposto, o professor Marco Aurélio Nogueira, em recente artigo, afiança: “política não existe só para que se conquiste o poder. Seu sentido principal é criar vida comunitária – civitas [...]”
Os eleitores devem se fazer ouvir e buscar o seu atendimento de demandas. Cobre, mas cobre com vigor! O poder lhes pertence!
Se os seus escolhidos lhes oferecem ouvidos de mouco, a próxima eleição estará no horizonte para substituir-lhes, a esses políticos. Defina-se outro azimute que conduza mais diretamente e com menor esforço a objetivos almejados pela comunidade. Troquem o homem-bússola. Façam o ESAON.
Paz e Bem!
Otávio Santana do Rêgo Barros, general do Exército, ex-porta-voz da presidência da República.

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