Uma autoridade municipal de Seul visita uma igreja na capital sul-coreana para verificar se as diretrizes anti-Covid-19 mais rígidas estão sendo bem seguidas - 13/09/2020 YONHAP/EPA/EFE
Em uma das derradeiras audições do programa The Voice, o cantor e compositor Carlinhos Brown, com sua sensibilidade e baianidade, acolheu sua jogadora eleita com a frase: “Protegendo-me, eu protejo você.” Desculpava-se pela impossibilidade de acarinhá-la com um abraço em face das condições restritivas impostas pela Covid-19. Belo exemplo Carlinhos. Isso dá música.
Na mesma semana, na missa dominical, após medição da temperatura, higienização com álcool, distanciamento entre bancos e aposição das máscaras faciais, que nos protege e protege aos outros, sentamo-nos, minha esposa e eu, aguardando o início da celebração. A comunidade com naturalidade também cumpria as normas sanitárias vigentes. Menos uma pessoa.
Idoso, sem máscara, ele olhava nervoso e firmemente quem o encarava, até com incredulidade, como se quisesse partir para uma briga de rua. Passei a missa inteira desatento, refletindo sobre a atitude daquele fiel, principalmente em razão do tema do evangelho (Mateus 22:37-39) que tratava do grande mandamento de Jesus Cristo: “Amarás ao Senhor Deus acima de tudo e ao teu próximo como a ti mesmo”. Reforço, “o próximo como a ti mesmo!”
O que leva pessoas a buscarem o dissenso de forma provocativa? O que justifica pessoas ofenderem a máxima de que o direito dos indivíduos se encerra quando se inicia o do próximo? O que leva pessoas ao desamor até espiritual? O que leva pessoas ao escárnio despropositado pelo riso que ultraja? Aliás, “o rir sem causa grave, denuncia sandice” (Miguel de Cervantes).
É esperado que a régua ao medir a consciência de cada cidadão esteja majoritariamente calibrada pelo senso comum. Há uma passagem na obra do Ray Bradbury, Fahrenheit 451, que merece ser oferecida para reflexão: “Se não quiser um homem politicamente infeliz, não lhe dê os dois lados de uma questão; dê-lhe apenas um.”
Aquele senhor de crença, por certo, estava politicamente infeliz. A cruz pesada da escolha, que o bom senso comunitário contestava, lhe exauria as forças. Eis o porquê, penso eu, de seu semblante fechado ante o açoite da reprovação.
Tem sido mais simples, a alguns, não decidir e seguir o destino passivo como manada humana ao som do berrante de uns poucos boiadeiros. A outros, talvez mais destemidos como aquele senhor, decidir por desconstruir ou afrontar como rebelde sem causa. E a maioria, com base no senso comum, avaliar criteriosamente o seu destino e enfrentá-lo fronte aberta. Melhor assim.
Agora, passados alguns dias, com humildade reflito sobre esta outra passagem: “Não julgueis, para que não sejais julgados.” Portanto, devemos esforçarmo-nos para seguir o caminho da composição. Sabendo que o certo e o errado são ponderados em referências de momento. Recomendo firmemente considerarem isso. Simples assim senhores, transformem as mesas de discussão em mesas de aliança. Repartam o pão.
Simples assim senhores, transformem-se em catalisadores de paz e bem-estar social. Repartam o peixe.
Paz e bem!
Otávio Santana do Rêgo Barros é general do Exército e ex-porta-voz da presidência da República. Escreve aqui às quartas-feiras.
https://veja.abril.com.br/blog/noblat/o-segundo-mandamento-por-otavio-santana-do-rego-barros/
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