quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

O Exército do Ponche Verde - Gen Ex R/1 Paulo Cesar de Castro

Em uma manhã de três de dezembro de dois mil e dezesseis, na catarinense Chapecó, centenas de pessoas estiveram unidas por emoções, dores e lágrimas. Flores, faixas, cartazes, fotografias de jogadores e camisas da Associação Chapecoense de Futebol foram vistas mundo afora. O povo simples, sincero e ordeiro demonstrou seus sentimentos ao longo do itinerário percorrido pelo cortejo fúnebre do aeroporto até a Arena Condá. Esse modesto estádio abriu seus portões para o velório coletivo de atletas, dirigentes e jornalistas, vítimas fatais de trágico acidente aéreo na Colômbia. Através da televisão, milhões de brasileiros solidarizavam-se com os chapecoenses naqueles momentos de luto. Compartilhavam a mesma dor dos que choravam por entes queridos, amigos e heróis do esporte.
Eis que um verdadeiro dilúvio se abateu sobre a cidade. Chovia torrencialmente, mas um doloroso cerimonial deveria ser cumprido, malgrado o alagamento do pátio de estacionamento de aeronaves e do gramado do estádio.
Nesse cenário, desponta o Exército Brasileiro.
Nossa Força recebeu respeitosamente os caixões com os restos mortais transportados até Chapecó nas asas da Força Aérea Brasileira. A família verde-oliva orgulhou-se do desempenho de sua tropa que, sob aquelas condições de tempestade inclemente, trazia das aeronaves, ritual e impecavelmente, os ataúdes lacrados. Graduados, com braço forte, uniformes encharcados e corações feridos, desfilavam até a guarda de lanceiros. Estes boinas pretas, com garbo e porte marcial, apresentavam armas à passagem pelo tapete vermelho daqueles que tanto fizeram por merecer.
Aqueles guerreiros do Exército eram cavalarianos do velho Corpo da Guarnição da Província de Goiás (1842), atual 14º Regimento de Cavalaria Mecanizado (14º R C Mec), “Lanceiros do Ponche Verde”, aquartelado em São Miguel do Oeste (Santa Catarina). Evidenciaram rusticidade, responsabilidade e dedicação no cumprimento do dever, sob condições climáticas e afetivas assaz adversas. Podia-se ver a chuva escorrendo pelos rostos e uniformes dos soldados de Caxias e de Osorio. As imagens eram transmitidas ao vivo para inúmeros países. Falavam por si mesmas e expressavam, em verdadeira grandeza, o valor da mão amiga de nossos irmãos de armas.
Não hesitaram. Não tremeram. Contudo, é certo que sentiram, no fundo da alma e no arrepio da pele ‒ e de muito perto ‒, as perdas irreparáveis daquelas vidas inesperadamente ceifadas. Afinal, “a farda não abafa o cidadão no peito do soldado”, afirmou o Marquês do Herval. Legaram exemplos de abnegação, disciplina, persistência, equilíbrio emocional e sobriedade.
Um observador atento salientará que houve exame de situação profissional, meticuloso planejamento, detalhado reconhecimento e árduo treinamento. O mesmo observador afirmará, sem errar, que aquela tropa executou a manobra sob firme liderança militar em diferentes escalões de comando. Nossa gente demonstrou por que o Exército e as Forças coirmãs ostentam, junto ao povo brasileiro, índices de credibilidade invejáveis.
O cerimonial não foi apenas integralmente cumprido, foi exemplarmente cumprido por tropa de elevado moral. Orgulhemo-nos dos nossos cavalarianos do 14º R C Mec. Eles ultrapassaram o objetivo de cumprir a missão com êxito, foram mais do que o Regimento, transformaram-se e revelaram ao mundo o Exército do Ponche Verde, o Exército Brasileiro.     
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