Com a experiência de quem ajudou a planejar a ocupação do Alemão, o general da reserva Fernando José Sardenberg diz que agora o Exército já tem expertise em favelas
A GLO é constitucional e nos garante o trabalho de polícia. Para atuar numa comunidade, é importante grupamento de força, um efetivo grande, uma companhia, uma batalhão. Nós fazemos treinamentos regularmente. Temos capacidade de manter a ação o tempo que for preciso, ficar por lá. Pela GLO, podemos patrulhar, fazer revistas e efetuar prisões. Na época do Alemão, conseguimos um mandado de busca coletivo, o que permitiu que entrássemos em qualquer casa. Isso dificilmente é concedido, porém é fundamental, pois o bandido pode constranger as famílias na tentativa de se esconder das forças de pacificação. Mas o mais importante foi que as pessoas, ao verem a seriedade do trabalho, permitiam que revistássemos. É preciso criar uma relação de confiança.
Como estabelecer esta confiança?
Criamos um Disque-Denúncia próprio e estávamos sempre reunidos com moradores, igreja e a sociedade civil. Fazíamos patrulhas dia e noite, todos os dias, inclusive sábados, domingos e feriados. Só o Exército tem esta capacidade. Tínhamos também uma equipe de controle de danos. Se, por exemplo, uma das nossas viaturas encostasse no muro de uma casa, mandávamos consertar na hora. A população precisa ter confiança para que haja continuidade no trabalho. A colaboração é algo que tem que ser conquistada pelas forças de pacificação.
É mais difícil ocupar a Maré do que o Alemão?
Difícil não é. A complexidade maior vem da ausência do estado durante anos nas comunidades. Todos os comandantes da Força de Pacificação que passaram pelo Alemão produziram um trabalho que deu origem a um relatório de 600 páginas. Então, já temos a expertise. O Alemão tinha uma topografia que dificultava o patrulhamento. Já a Maré é plana e já tem locais de apoio, como o 24º Batalhão de Infantaria e o quartel do Bope.
Como deverá ser o planejamento da operação na Maré?
A primeira coisa que tem que ser regulado é o que o governo quer de nós. No início das ações do Alemão, o pedido foi o cerco. Depois evoluiu para a ocupação e pacificação. Tem que entrar com um efetivo grande, de 3 a 4 mil homens. Antes de ocupar, é preciso fazer um trabalho de planejamento e inteligência, com fotos aéreas da região e informações de lá de dentro. Depois é dividir a região por áreas de comando. Quando planejamos o policiamento nos complexos do Alemão e da Penha, criamos cinco bases em cada uma destas regiões. Depois disso, é patrulhar todos os becos e vielas. Na minha época, não ficou um metro quadrado sem ser revistado.
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