Quando Vinicios Felizberto dos Santos, então um jovem recém-entrado na fase adulta, demonstrou interesse em seguir carreira militar, coube ao barbeiro Cosme da Silva Alvarez, de 43 anos, a tarefa de demovê-lo da intenção de ingressar na PM.
Preocupado com os riscos inerentes à profissão, o pai convenceu o filho a trocar a farda da Polícia Militar pela do Exército, onde julgou que o rapaz estaria mais seguro. Quis o destino, contudo, que o soldado encontrasse seu destino final justamente no Forte Barão do Rio Branco, em Jurujuba, em Niterói, na Região Metropolitana do Rio, onde estava de serviço na manhã do último domingo. Ele foi baleado no rosto pelo soldado Wallace Quintanilha Gomes e acabou morrendo horas depois.
- E pensar que ele queria ser PM, mas eu dizia que era muito perigoso... Isso é uma tragédia muito grande. A mãe dele está um caco, mal tem conversado com as pessoas. É uma dor enorme perder um filho dessa forma - desabafa Cosme.
No dia de sua morte, Vinicios atuava controlando a entrada e saída do forte. Por volta de 9h40m, segundo testemunhas, um outro cabo pediu que o soldado Quintanilha segurasse seu fuzil enquanto abordava um carro, procedimento que não pode ser feito com o militar armado.
As mesmas testemunhas relatam que Wallace, ao chegar para trabalhar, teria dito a colegas “estar com vontade de matar alguém”, antes de ir em direção à vítima e disparar à queima-roupa.
Vinicios, de 21 anos e há quase dois no Exército, foi levado primeiramente à Policlínica Militar do Exército, em Niterói. Em seguida, foi transferido para o Hospital Central do Exército (HCex), em Benfica, na Zona Norte do Rio, mas não resistiu ao ferimento e morreu pouco depois das 11h.
De acordo com o Comando Militar do Leste (CML), Wallace Quintanilha foi preso em flagrante e levado à carceragem do próprio forte. Tanto ele quanto a vítima pertenciam ao 21º Grupo de Artilharia em Campanha (GAC) da instituição. Um Inquérito Policial Militar foi aberto e, no próprio domingo, peritos analisaram a cena do crime — a arma usada pelo soldado também foi apreendida e passará por perícia.
Nesta segunda-feira, o militar detido teria confessado a versão contada por testemunhas, de que o motivo do tiro seria apenas a intenção de “querer matar alguém”. Oficialmente, contudo, o Exército afirma estar investigando se trata-se de uma execução ou de um disparo acidental.
- Meu filho era um ótimo militar, muito querido, e não tinha problema com ninguém no quartel. É só ver a quantidade de gente que foi ao enterro (realizado nesta segunda, com honras militares). Ele ia fazer prova para sargento, tinha namorada e planejava se casar, era todo um projeto de vida. E acaba assim, com um tiro - lamenta Cosme, acrescentando que pediu para conversar com o autor do disparo:
- Queria entender por que ele fez isso. O pessoal do Exército só me disse que não era o melhor momento, que talvez depois eu conseguisse. Tudo que eu sei é que esse soldado parecia muito transtornado quando chegou pra trabalhar.
Vinicios morava com o pai, a mãe e uma irmã de 8 anos numa casa humilde no sub-bairro de Badu, em Pendotiba, que assim como o forte fica na Região Oceânica de Niterói. Com o salário de militar, o rapaz ajudava a sustentar a família.
Ameaças na internet
No Facebook, várias postagens com uma foto de Vinicios fardado homenageam o cabo. Na mesma rede social, contudo, amigos da vítima também aproveitam para pedir justiça, e há até ameaças dirigidas a Wallace Quintanilha.
- Vai deixar saudade. Eu não me conformo - escreveu um perfil autodeclarado como soldado.
- Justiça seja feita. Se ela não for feita por bem, a gente faz do nosso jeito - afirmou outro internauta, que, no Facebook, também se identifica como soldado e se diz membro do próprio 21º GAC.
- Vida se paga com vida - disse um terceiro homem, fardado na foto do perfil.
Apesar do tom de vingança pregado pelos colegas militares, a família de Vinicios garante não compactuar dessa postura, e faz um apelo para que nenhuma medida nesse sentido seja tomada. “Que ele pague na Justiça, meu filho era um homem de Deus”, pondera Cosme. Da mesma forma, o pai assegura que não pensa em entrar com um processo por conta da tragédia:
- Não queremos processar ninguém. Nosso único desejo é que o Exército tenha mais preparo. Que coloquem lá dentro gente que realmente queira ficar, como o meu filho, e não qualquer pessoa desequilibrada.
http://extra.globo.com/casos-de-policia/cabo-baleado-morto-por-soldado-em-forte-de-niteroi-entrou-no-exercito-pedido-do-pai-ele-queria-ser-pm-10881896.html
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