Comemoram-se quinta-feira os 70 anos da divulgação do Manifesto dos Mineiros, primeiro grito de revolta contra a ditadura do Estado Novo, implantado em 1937 por Getúlio Vargas, então presidente provisório, primeiro, e presidente constitucional, depois. O mundo vivia a ascensão da ideologia fascista que elevara os governos da Alemanha, Itália, Espanha, Portugal, Japão e outras nações infensas à democracia à supremacia ideológica e material da violência sobre suas populações. A moda pegou por aqui, mesmo sem os preconceitos de raça e de cor vigentes na Europa. Nossas elites se acomodaram, satisfeitas com as vantagens e os benefícios que o governo lhes concedia. As massas, mais ainda, por conta da concessão do salário mínimo, da jornada de oito horas, das férias remuneradas, das pensões e aposentadorias, da educação e da saúde gratuitas e até pela garantia do emprego,com a proibição de demissões imotivadas.
O problema é que o novo regime atingiu a classe média, sem garantias constitucionais de liberdade de expressão, habeas-corpus, direito de ir e vir e possibilidade de expor o contraditório. Insurgiu-se o cidadão comum, ainda mais porque, na Europa, decrescia a maré nazista e a Segunda Guerra Mundial prenunciava a vitória das democracias, com a União Soviética e os Aliados fechando o cerco sobre a Alemanha.
Coube a Milton Campos unificar as diversas sugestões de mineiros contra as tenazes da ditadura, preparando um texto nada violento, mas firme, na defesa das instituições democráticas. Aos que se dispunham a subscrevê-lo, ele dizia “que em Minas sempre haverá um palmo de chão limpo onde os homens de bem possam se encontrar”. Era a defesa do Estado Democrático. Mineiros ilustres e jovens promissores dispuseram-se a assiná-lo, mesmo alertados por Milton de que se aquele protesto “não faria muitas ondas, certamente faria muitas vagas”. Na realidade, Getúlio Vargas mandou demitir quantos dos signatários ocupavam cargos públicos, desde Promotores de Justiça, Juízes, Advogados e dirigentes de bancos privados até simples funcionários federais e estaduais.
Foi um ato de coragem, o Manifesto dos Mineiros. Uma demonstração de que as Gerais sempre se antecipam à natureza das coisas. Saem na frente, apesar dos riscos. Sem radicalismos, nunca pretendendo virar o país de cabeça para baixo,mas sempre desejando vê-lo com os pés no chão…
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