segunda-feira, 21 de outubro de 2013

MINAS QUER O PAÍS COM OS PÉS NO CHÃO

CARLOS CHAGAS

Comemoram-se quinta-feira os 70 anos da divulgação do Manifesto dos Mineiros, primeiro grito de revolta contra a ditadura do Estado Novo,  implantado  em 1937 por Getúlio Vargas, então presidente provisório, primeiro, e presidente constitucional, depois. O mundo vivia a ascensão da ideologia  fascista que elevara os governos da  Alemanha, Itália, Espanha, Portugal, Japão e  outras nações infensas à democracia à supremacia ideológica e material da violência  sobre suas populações. A  moda pegou por aqui, mesmo sem os preconceitos de raça e de cor vigentes na Europa. Nossas  elites se acomodaram, satisfeitas com as vantagens e os benefícios que o governo lhes concedia.  As massas, mais ainda, por conta da concessão  do salário mínimo, da jornada de oito horas, das férias remuneradas, das pensões e aposentadorias, da educação  e da saúde gratuitas e até pela garantia do emprego,com a proibição  de demissões imotivadas.
O problema é que o novo regime atingiu a classe média, sem garantias constitucionais de liberdade de expressão, habeas-corpus, direito de ir e vir e  possibilidade de expor o contraditório.  Insurgiu-se o cidadão comum, ainda mais porque, na Europa, decrescia a maré  nazista e a Segunda Guerra Mundial prenunciava a vitória  das democracias, com a União Soviética e os Aliados fechando   o cerco sobre a Alemanha.
Coube a Milton Campos unificar as diversas sugestões de mineiros contra as tenazes da ditadura, preparando  um texto nada violento, mas firme, na defesa das instituições democráticas. Aos que se dispunham a subscrevê-lo, ele dizia “que em  Minas sempre haverá um  palmo de  chão  limpo onde os homens de bem possam se encontrar”.  Era a defesa do Estado Democrático. Mineiros ilustres e jovens promissores dispuseram-se a assiná-lo, mesmo  alertados por Milton de que se aquele protesto “não faria muitas ondas, certamente faria muitas vagas”. Na realidade, Getúlio Vargas mandou demitir quantos dos signatários ocupavam  cargos públicos, desde Promotores de Justiça,  Juízes, Advogados e dirigentes de  bancos privados até simples funcionários federais e estaduais.
Foi um  ato de coragem, o Manifesto dos Mineiros. Uma demonstração de que as Gerais sempre se antecipam à natureza das coisas. Saem na frente, apesar dos riscos. Sem radicalismos, nunca pretendendo virar o país de cabeça para baixo,mas  sempre    desejando vê-lo com os pés no chão…

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