segunda-feira, 21 de outubro de 2013

General de brigada aponta os desafios das fronteiras do Amazonas

O general de brigada Sérgio Luiz Duarte está desde fevereiro na região da ‘Cabeça do Cachorro’ no comando da 2ª Brigada de Infantaria de Selva, conhecida também por ‘Brigada Ararigboia’
[ i ]No comando da ‘Brigada Ararigboia’, o general Sérgio Luiz Duarte está na ‘região da Cabeça do Cachorro’ para defender a soberania nacional.
Manaus - Com 38 anos de Exército, o general de brigada Sérgio Luiz Duarte, 54, está desde fevereiro do ano passado no comando da 2ª Brigada de Infantaria de Selva, conhecida também por ‘Brigada Ararigboia’. Para o comandante, o Estado Brasileiro devia estar mais presente na região de fronteira.
O general Duarte comanda uma brigada que atende três municípios do extremo noroeste do Estado, São Gabriel da Cachoeira e Barcelos, mas ele é natural de Niterói, no Rio de Janeiro, e sua família reside em Brasília. Ele gosta de mostrar em público uma simpatia e bom humor incomum entre os militares de alta patente.
Ao recepcionar a equipe do PortalD24AM em São Gabriel da Cachoeira, perguntou de primeira: “Quem tem problema em viajar de helicóptero ou dormir em acampamento no meio da floresta? Se tiver, não tem problema porque vão ter que fazer tudo isto de qualquer jeito”, brincou, antes de abrir um simpático sorriso.
Qual o maior desafio do Exército aqui na Amazônia, especialmente numa região de fronteira?
A questão da logística, porque esta em uma área inóspita onde não temos estradas, só temos portos e aeroportos, então a grande dificuldade é a logística de se manter e ajudar o restante da população no desenvolvimento. Logística e comunicação são dificuldades que estamos superando, fruto de muito trabalho e muita parceria.
Há alguma dificuldade para combater os crimes que ocorrem na fronteira?
Estamos numa região praticamente toda coberta de selva com rios e muitos afluentes pequenos, muitos igarapés, então é impossível você conseguir fiscalizar toda a fronteira, mas nossa atuação é muito intensa. Os ilícitos são sempre em escala reduzida, em escala grande é muito difícil porque fazemos intervenção e neste ponto é muito importante todo o apoio que recebemos sempre da população indígena.
Esta população, por confiar no braço forte e na mão amiga do Exército Brasileiro, nos alerta porque estamos aqui na região Ianomami, no pelotão de Maturacá e qualquer novidade ou algo estranho que eles encontrem, sempre nos procuram.
Gostaria que o senhor explicasse como é esta relação com  os indígenas.
É a melhor possível. Já é uma característica do Exército Brasileiro incluir nos quadros militares pessoas na própria região, então, isto é muito notório nesta região, na ‘Cabeça da Cachorro’, onde praticamente todos os nossos soldados são nativos da região. Por isto, o relacionamento com os indígenas é excelente e eles se sentem muito honrados em ter os seus filhos juntos conosco.
Esta é uma região muito isolada, há dificuldades em se trazer militares para cá?
Pelo contrário, todos do comando da brigada somos voluntários. Então, não há ninguém que não queira estar aqui. Estamos aqui pelo espírito de cumprimento da missão por estarmos fazendo algo muito útil para o País e viemos sempre voluntários e orgulhosos. Dificuldades têm, pois estamos longe de nossas famílias e pela distância ficamos muito tempo sem visitar nossos familiares, mas isto não esmorece a vontade e a satisfação e, invariavelmente, todos quando vão embora, partem com lágrimas nos olhos.
O que o governo federal poderia fazer para melhorar a ação do Exército aqui na fronteira?
Ainda há um desconhecimento muito grande sobre a região Amazônica e menos ainda a região da ‘Cabeça do Cachorro’, então, o que pedimos e apoiamos é que sempre o Estado esteja aqui. E está vindo, com as limitações que nós falamos antes em relação à logística e meios para chegar aqui.
Os batalhões possuem locais para que os órgãos federais estejam presentes?
Sim, temos o Pavilhão de Terceiros, que não é ocupado por nenhum militar e foram feitos para que os órgãos que queiram estar permanentemente aqui, para ocupar estas instalações, a alimentação é por nossa conta e toda a segurança para que eles venham. As instituições sabem disto e até enviam pessoas para cá, mas, por restrições que não cabem a mim comentar, nem sempre enviam.
Está acontecendo nesses dias a ‘Operação Curare’. Como está se desenvolvendo essa operação que faz parte da operação Águia?
É uma operação no âmbito da Brigada onde fazemos uma intensificação do patrulhamento da faixa de fronteira, especialmente. São meios da própria Brigada, fluviais e (com a participação de) efetivo de mais de 1.100 homens e contamos com o apoio de meios do Comando Militar da Amazônia (CMA) de onde recebemos helicópteros e a Companhia de Forças Especiais e também com meios da Brigada de Infantaria Paraquedistas do Rio de Janeiro, que se juntou à nossa brigada nesta grande operação.
Quando iniciou a operação e em que fase ela está neste momento?
Ela teve uma parte inicial que foi de inteligência e agora está na fase com mais visibilidade. Estamos no meio da primeira semana (a entrevista foi feita na quinta-feira) e não costumamos dizer quando elas terminam porque a operação vai se prolongando. Existe, logicamente, um tempo em que os meios retornarão para Manaus e a operação é continuada, mas o esforço principal está sendo feito nestas duas primeiras semanas.
Qual o balanço até o momento?
Não podemos fazer o balanço em termos de material apreendido, mas de patrulhamento. Nós já patrulhamos três mil quilômetros a pé e com voadeira, além de meios aéreos. Hoje, já estamos com mais de 100 horas voadas. Quando se deparam como uma pista ou clareira no meio da floresta, vamos lá e fazemos o patrulhamento, este é o grande objetivo da operação. É importante dizer que não envolve apenas só o município de São Gabriel da Cachoeira, temos também um batalhão em Barcelos.

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