O ministro da Defesa, Celso Amorim, disse hoje que o Brasil deve continuar a contribuir com a estabilização do Haiti, mas não pode perpetuar sua presença no país sob pena de criar uma “zona de conforto que não interessa a ninguém”.
A manifestação do titular da Defesa ocorreu durante reunião nesta manhã, na sede do Ministério, com o representante especial interino da Organização das Nações Unidas (ONU) para o Haiti, Nigel Fisher.
No encontro, Amorim falou sobre a redução gradual das tropas brasileiras que integram a missão de estabilização do país caribenho. Segundo o ministro, o Brasil já iniciou o processo de retirada de parte do contingente brasileiro, que deverá voltar a ter, em breve, cerca de 1.200 militares, número semelhante ao do período pré-terremoto (janeiro de 2010).
Ressalvando o compromisso do Brasil com a reconstrução da nação caribenha, Amorim afirmou, em resposta ao representante da ONU, que não convém ao Haiti a ideia de perpetuação da permanência de tropas militares na ilha. “Queremos que a situação melhore para que possamos sair”, disse. “E também que nossa permanência lá contribua para melhorar o país”.
Nigel Fisher apresentou ao ministro as linhas gerais do plano da ONU para consolidar a estabilização no Haiti. Segundo ele, o plano é dividido em quatro grandes eixos, entre os quais o fortalecimento da Polícia Nacional e do sistema judicial haitianos, além de ações de estímulo ao diálogo entre as diferentes forças políticas da nação.
Fisher lembrou da importância das eleições legislativas que ocorrerão este ano no Haiti para escolha de parte do Senado, e afirmou que a intenção do governo é ampliar para 15 mil homens o contingente da Polícia Nacional até 2016, melhorando a distribuição das forças de segurança no território do país. Ele disse ainda que a ideia é manter o atual contingente policial da ONU, e reduzir, em cerca de 50% nos próximos três anos, o contingente de tropas militares na ilha, hoje fixado em 6.300 homens.
Falta apoio da comunidade internacional
O representante da ONU ressaltou, durante o encontro, a contribuição decisiva do Brasil para a estabilização do Haiti. Ele também afirmou que a missão da Organização no país começa a mudar de foco, centrando-se com mais prioridade em aspectos ligados ao desenvolvimento da nação.
Amorim felicitou Fisher pela iniciativa e mostrou concordância com as preocupações de mudança de rumos da missão. Na avaliação do ministro brasileiro, o esforço da ONU deve mesmo concentrar-se em iniciativas que criem condições para o real desenvolvimento socioeconômico dos haitianos.
O ministro da Defesa criticou o que chamou de falta de empenho da comunidade internacional para tornar viáveis projetos estruturantes no país. Ele citou como exemplo o caso da hidrelétrica de Artibonite, projeto desenvolvido pelo Exército que recebeu cerca de US$ 40 milhões do governo brasileiro, e que pode desatar um dos mais complicados nós para o desenvolvimento do país: a falta de energia elétrica.
De acordo com Amorim, apesar do significativo aporte feito pelo Brasil, a hidrelétrica até agora não saiu do papel por falta de apoio de outros países e de organismos internacionais de fomento e redução da pobreza, a exemplo do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) ou do Banco Mundial.
Amorim e Fisher também conversaram, durante a reunião, sobre a situação política no Haiti, cujas eleições presidenciais estão marcadas para 2015. O ministro fez menção à possibilidade de auxílio do Brasil em áreas como justiça eleitoral, segurança e defesa. Ele lembrou a disposição do governo brasileiro de formar engenheiros militares haitianos com especialização em defesa civil. Mas esse apoio, disse Amorim, requer a demonstração de interesse dos haitianos em obter o conhecimento.
http://www.defesanet.com.br/ph/noticia/10857/Brasil-deve-ajudar-Haiti-sem-perpetuar-presenca-no-pais--diz-Amorim
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