domingo, 3 de março de 2013

JF recebe investimentos de R$ 80 mi em logística


03 de Março de 2013 - 07:00


Consolidação de montadoras estimula novos condomínios para abrigar operadores em vários modais, empresas e indústrias

Por FABÍOLA COSTA

Como disse o ministro de Desenvolvimento e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, na última sexta-feira, Juiz de Fora já é um polo automotivo. Pimentel esteve na cidade e fez palestra a empresários. Na ocasião, disse que o município tem chances reais de atrair outras montadoras. Os aportes feitos no setor no município, com a planta da montadora alemã Mercedes-Benz, a instalação do centro de distribuição da Fiat e a possível atração de outras montadoras devem consolidar o município também como centro logístico.
A Tribuna levantou que a cidade já começou a receber mais de R$ 80 milhões em investimentos, considerando três dos cinco empreendimentos do setor logístico em implantação. Nesse cenário, as montadoras têm papel determinante. O centro de distribuição da Fiat é considerado âncora, assim como a produção de caminhões da Mercedes-Benz.
Na lista dos condomínios logísticos previstos estão os da própria Mercedes, da MRV Log e das transportadoras Camilo dos Santos e Trans-Herculano, além da chegada do Grupo Pianna, distribuidor dos produtos da Brasil Foods (BRF). Para atingir o objetivo de se consolidar como polo logístico em até dois anos, a cidade conta com vantagens, como localização estratégica (perto dos três principais mercados consumidores do país), modais de transporte (rodoviário, ferroviário e aeroviário), Aeroporto Itamar Franco e Porto Seco.
Precisa, no entanto, ganhar em competitividade ante concorrentes mineiros e fluminenses superando "gargalos", como a disponibilização de mão-de-obra qualificada, a concessão de incentivos fiscais e a oferta de infraestrutura, em especial áreas e galpões para atrair empresas do ramo.
Para a Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Econômico (SPDE), o centro de distribuição da Fiat, com investimento de R$ 11 milhões, será responsável por alavancar a arrecadação de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) na cidade, que apresentou queda de 13% em 2012. Conforme o gerente de Logística da Fiat, Mauricélio Faria, o início das operações está previsto para 2014.
Inicialmente, serão 20 funcionários diretos. Segundo Faria, a localização estratégica foi determinante para a escolha da cidade. O executivo explica que, hoje, todos os veículos que chegam via Porto do Rio de Janeiro são transportados até Betim. "Com a criação do centro de distribuição em Juiz de Fora, encurtaremos esse trajeto, trazendo como benefícios a otimização dos custos e a agilidade nas entregas, além da redução de carretas circulando nas estradas." A avaliação da montadora é que o empreendimento contribuirá para o fortalecimento de Juiz de Fora como polo logístico.
Já a primeira fase do condomínio da MRV Log, localizado na BR-040, deve ser inaugurada em abril. Conforme o diretor da Log Commercial Properties, Sérgio Fischer, o investimento chega a R$ 64 milhões. "As obras estão em estágio avançado." Segundo Fischer, há dois contratos assinados, com uma faculdade e uma empresa de transporte e logística, cujos nomes são mantidos sob sigilo. "Temos recebido muita procura. Há demanda de operadores logísticos, transportadoras e pequenas indústrias." O condomínio logístico contempla cinco galpões, área bruta locável de 52 mil metros quadrados, pátio de manobra e estacionamento.
No caso da Mercedes-Benz, a intenção é ampliar o parque de fornecedores para sediar outras empresas terceiras e parceiras na produção de caminhões. Informações de bastidores dão conta de que a montadora já teria fechado contrato para as ações no núcleo. O diretor de comunicação corporativa, Mário Laffitte, não confirma o contrato, mas divulga a vontade de ampliar o parque de fornecedores ao lado da fábrica. Atualmente, quatro empresas estão sediadas no local: Grammer do Brasil, Maxion, Randon e Seeber. Conforme Laffitte, o projeto perdura. "Para a vontade se tornar realidade depende do fornecedor."


Centro vai atender a Brasil Foods

O Grupo Pianna escolheu Juiz de Fora para realizar a operação logística da Brasil Foods (BRF). Para isto, está investindo inicialmente R$ 5,5 milhões na criação de um centro de distribuição (CD) no Distrito Industrial. A princípio, serão abertas 55 oportunidades de emprego, informa o gerente Marcelo Viana. A perspectiva é de início das operações entre março e abril. O processo seletivo já foi iniciado, com oportunidades para funções, como coordenador de unidade, auxiliar administrativo e motorista.
Conforme Viana, a empresa ficará responsável pela distribuição da linha de congelados da Perdigão e da Sadia. A atividade logística consiste em receber os produtos da fábrica e levá-los, em caminhões refrigerados, aos pontos de venda (padarias, mercearias e pequenos supermercados) em um raio de atuação de 150 quilômetros. A empresa não comercializa os itens, apenas os entrega. O volume a ser movimentado não foi divulgado. Juiz de Fora, explica, foi uma cidade estrategicamente indicada pela BRF em função da localização.
Já Camilo dos Santos está transferindo e ampliando o centro de distribuição, instalado desde 2000 em Matias Barbosa, para Juiz de Fora. Para isso, adquiriu uma área de 150 mil metros quadrados na BR-040. Tanto neste espaço quanto no de 800 mil metros quadrados comprado próximo à Mercedes, a intenção é criar condomínios logísticos, alugando ou vendendo áreas e galpões para empresas interessadas em operar na cidade. Sem especificar cifras, o presidente do grupo, Eduardo Benjamin Santos, comenta que a intenção é atrair centros de distribuição de diversos perfis, oferecendo terreno a preço competitivo. Segundo Eduardo, o metro quadrado de área plana, localizada próxima à rodovia, custa, pelo menos, R$ 180. A meta é oferecer este espaço por cerca de R$ 120 o metro quadrado. "Queremos atrair negócios para Juiz de Fora, tornando-a competitiva e utilizando suas vantagens logísticas."
A Trans-Herculano também está construindo um centro logístico em uma área de 200 mil metros quadrados, próxima da mesma rodovia. Além da implantação de uma concessionária de caminhões, será disponibilizada área para indústrias interessadas em um espaço para armazenagem e possível distribuição. Segundo o diretor da empresa, José Herculano da Cruz Filho, diretor da Federação das Empresas de Transporte de Cargas de Minas Gerais, a ideia é montar a estrutura de acordo com o interesse de cada negócio. O projeto deve ser concretizado a curto prazo, disse, sem especificar datas.

Fiemg quer incentivos para região

Para o presidente da Fiemg Regional Zona da Mata, Francisco Campolina, o projeto de transformar Juiz de Fora em um centro logístico é viável, no entanto, é preciso criar "ambiência" para que se torne realidade. Campolina destaca o atrativo geográfico, os modais disponíveis, o Aeroporto Itamar Franco e o Porto Seco. Na sua opinião, no entanto, são necessárias ações políticas e fiscais. Entre elas, incentivos principalmente de Imposto sobre Serviços (ISS) e ICMS, e infraestrutura básica, como acessibilidade e galpões. "As margens da BR-040, nos dois lados, têm dono. É preciso transformá-las em vetor logístico da Zona da Mata para exportar e vender para o país inteiro."
Segundo o empresário, esse objetivo vem sendo perseguido há cinco ou seis anos. Campolina lembra que, há cerca de quatro anos, foi apresentada ao Governo mineiro a proposta de criar na cidade um entreposto aduaneiro, capaz de distribuir os produtos produzidos na Zona Franca de Manaus. "Infelizmente, perdemos para Uberlândia."

Estudo
Conforme o coordenador de projetos da Secretaria de Planejamento e Desenvolvimento Econômico da PJF, André Zuchi, a concessão de incentivo para serviços de logística está em estudo. A intenção é reduzir o ISS. Hoje, o teto é 5%, e o limite constitucional, 2%. Outra linha de ação é a "política agressiva de incentivo à infraestrutura", para criação de condomínios logísticos. Os loteamentos e condomínios empresariais já contam com benefícios, como isenção do IPTU por até dez anos e redução do ISS a 2%. Zuchi enumera os empreendimentos da iniciativa privada planejados e construídos na BR-040. "Juiz de Fora terá um grande movimento logístico, que vai potencializar nosso ICMS," aposta.
Em entrevista à Tribuna, a titular da pasta, Elizabeth Jucá, destacou a potencialidade e o fortalecimento do setor em Juiz de Fora. "Pode ser, no futuro, a característica da cidade, um centro logístico." Zuchi acredita na possibilidade de a cidade se tornar um centro de referência logística em cerca de dois anos, atraindo centros de distribuição e empresas do chamado "atacarejo", impactando na geração de emprego, na remuneração média e, principalmente, na arrecadação de ICMS e no retorno ao município através do Valor Adicionado Fiscal (VAF).

Mão-de-obra é gargalo para setor

Conforme o Instituto de Logística e Suplly Chain (Ilos), o setor movimentou mais de R$ 48 bilhões em 2011, alta de 20% ante o ano anterior (R$ 40 bilhões), considerando o faturamento das 142 operadoras mais importantes do país. A receita bruta média por negócio chegou a R$ 340 milhões, 10% a mais em relação a 2010. Segundo o Ilos, 70% dos operadores logísticos nacionais têm média de 16,6 anos de atuação no mercado em 2012 contra 14,8 anos verificados em 2011.
O diretor de Consultoria do Ilos, João Guilherme Araújo, destaca o aquecimento do setor, em função de estabilidade econômica, maior demanda do consumidor e descoberta do Governo de que, "sem infraestrutura, não adianta estimular o consumo". Segundo Araújo, para uma cidade se tornar um "hub logístico" é preciso contar com localização geográfica, além de oferecer multimodalidade e acessibilidade. A concessão de incentivos fiscais é considerada importante, mas não sustentável. "Há empresas com muito receio de se associarem a estímulos, que, de acordo com os movimentos políticos, podem ser perdidos."
O principal diferencial de um potencial centro logístico, afirma o diretor, é mão-de-obra em quantidade e qualidade suficientes. "Cada vez está mais claro e mais complicado para esse setor crescente a ausência de mão-de-obra, de motorista de caminhão a executivo de alto nível." O diretor destaca a necessidade de escolas de formação profissionalizante e parceria com o setor privado na formação e capacitação destes trabalhadores.
http://www.tribunademinas.com.br/economia/jf-recebe-investimentos-de-r-80-mi-em-logistica-1.1238906

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