sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Do chope ao filé aperitivo, preços variam até 330% nos bares do Rio



A variação de preço do chope foi de 94%
Foto: Monica Imbuzeiro/15-09-2012
A variação de preço do chope foi de 94% Monica Imbuzeiro/15-09-2012
RIO – Carioca que é carioca não vive sem aquela ida periódica ao bar ou restaurante favorito para beber e petiscar. E basta mudar de bairro — ou até de rua — para que os preços mudem, às vezes de forma vertiginosa. Para medir a variação nos preços nesta “cesta básica”, O GLOBO selecionou 11 produtos e pesquisou os preços de 35 estabelecimentos. As diferenças de preços podem chegar a impressionantes 330% no bolinho de bacalhau (média por unidade na porção) e 277%, no caso do filé aperitivo. A menor variação encontrada, de 94%, foi no chope de 300 ml.
São seis bebidas — água mineral 300 ml, chope 300 ml, cerveja 600 ml, caipirinha, suco de laranja 300 ml, refrigerante lata — e cinco comidas quase onipresentes nos bares e restaurantes. Foram consultados estabelecimentos de 17 bairros — Barra da Tijuca, Benfica, Botafogo, Centro, Copacabana, Flamengo, Gávea, Grajaú, Humaitá, Ipanema, Jacarepaguá, Jardim Botânico, Lagoa, Lapa, Laranjeiras, Leblon e Tijuca.
A variação média das bebidas foi de 152%, e a das comidas, de 221%. A falta de padronização dos pratos — peso e ingredientes — explica grande parte das diferenças nas porções “beliscáveis”. Enquanto as versões mais simples do filé aperitivo se resumem a um picadinho (às vezes) acebolado, as mais rebuscadas costumam vir dentro do pão italiano, com molho madeira ou similares. Outras diferenças, como o percentual de bacalhau legítimo em um bolinho, estão menos à vista.
A porção do filé aperitivo do Universo da Cerveja, na Tijuca, sai a R$ 68, contra R$ 18 no Bar Rebouças, na Lagoa. A batata frita, que custa R$ 8 no Esplanada do Sabor, em Jacarepaguá, é encontrada a R$ 23,50 no Antonio’s, na Lapa — diferença de 193%.
O chope mais barato, entre os estabelecimentos pesquisados, é o do bar Bunda de Fora, em Ipanema, a R$ 3,50; o mais caro fica no bairro vizinho, o Leblon, onde a popular loura gelada sai a R$ 6,80 no Bar do Tom. Nascido de uma mistura simples de água, gelo, cachaça e limão e açúcar, o drinque mais tradicional do Rio, a caipirinha, registra diferenças de até 200%. As mais em conta foram encontradas no Bar da Foca, em Botafogo, e no Bar Rebouças, na Lagoa, a R$ 6.
A maior variação entre as bebidas, no entanto, foi da inocente água mineral (fundamental entre uma dose e outra de bebida alcoólica, para reduzir a desidratação e o mal-estar do dia seguinte) de 300 ml: 233%. No Esplanada do Sabor, por R$ 1,50; no Bar do Tom, R$ 5.
A pesquisa não nega a fama da Zona Sul de área onde as coisas são mais caras. É o caso de sete dos 11 produtos analisados — água mineral, chope, caipirinha, suco de laranja, refrigerante em lata, empada e bolinho de bacalhau (unidade). Por outro lado, também reúne cinco dos mais baratos — chope, caipirinha, frango a passarinho, filé aperitivo e bolinho de bacalhau (porção). A Zona Norte teve o filé aperitivo mais caro, e o refrigerante mais barato.
Apesar de ter o bolinho de bacalhau mais caro na porção, a Zona Oeste teve o petisco mais barato quando se considera a unidade, além de outros cinco itens em conta: água mineral, cerveja 600 ml, refrigerante em lata, batata frita e empada. A região do Centro, que abrange a Lapa, um dos principais redutos boêmios do Rio, reúne os maiores preços de cerveja 600ml, frango a passarinho e batata frita.
O diretor do Sindicato de Hotéis, Bares e Restaurantes (SindRio), Pedro de Lamare, disse que não poderia comentar os resultados da pesquisa. Ele argumenta que vários fatores podem influenciar os preços e considera normais as diferenças.
— O custo de ocupação (aluguel comercial, luvas) na Zona Sul, por exemplo, é mais alto, o que influencia bastante. Mas isso acontece em qualquer área turística — afirma. — Também depende da própria cultura de consumo. Há lugares em que os clientes exigem preços acessíveis, mas não é assim em todas as áreas do Rio.
De Lamare explica que o avanço do turismo nos últimos anos, ao mesmo tempo em que estimulou a abertura de estabelecimentos e o desenvolvimento dos já existentes, teve impactos nos preços.
— As manchetes sobre o Rio deixaram de ser policiais e passaram a ser sobre a recuperação econômica, o que gerou um ambiente favorável para o setor de bares e restaurantes. Mas, quando se tem um fluxo grande de turistas, os comerciantes têm menos incentivos para fazer promoções, por exemplo. Como as pessoas estão começando a decidir seus destinos a partir dos custos totais da viagem, os comerciantes do Rio têm que ter consciência da competitividade com outros destinos em nível internacional. Para aumentar a atratividade da cidade, temos que nos entender como parte integrante de um sistema. Não adianta ter hospedagem em conta e comidas e bebidas caras, ou vice-versa.
Para o microempresário Leandro Moraes, preço nem sempre é fundamental na hora de passar algumas horas de papo regado a petiscos e chopes.
— Às vezes, um bar ou restaurante até não é o mais barato, mas tem o caráter afetivo. É o garçom que te conhece há anos, a vista de um cartão-postal da cidade... depende bastante.
Os locais com preços mais salgados, afirma a publicitária e cervejeira Maíra Kimura, precisam justificá-los de alguma forma.
— Às vezes vale a pena pagar mais se o local tiver serviços ou produtos diferenciados, como produtos que não se acha em qualquer lugar e equipe bem treinada — acredita.
http://oglobo.globo.com/economia/do-chope-ao-file-aperitivo-precos-variam-ate-330-nos-bares-do-rio-7330809


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