sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Traficantes do Alemão tinham plano para assassinar general que comandava ocupação


Antônio Werneck - O Globo
O general Adriano, que deixa hoje a chefia do CML, precisou ter a segurança reforçada
O general Adriano, que deixa hoje a chefia do CML, precisou ter a segurança reforçada Foto: Domingos Peixoto/14-3-2012
RIO - O general Adriano Pereira Júnior, comandante militar do Leste, revelou em entrevista exclusiva ao GLOBO que, em janeiro de 2011, cerca de um mês depois de o Exército tomar os complexos do Alemão e da Penha, foi descoberto um plano de traficantes para assassiná-lo. A descoberta foi possível graças à interceptação, pela inteligência militar, de uma conversa entre bandidos que dominavam as 23 comunidades da região. Desde então, o oficial passou a contar com segurança reforçada. O general Adriano está de malas prontas para uma nova missão, no comando central do Exército, em Brasília. A chefia do Comando Militar do Leste será passada hoje ao general Francisco Carlos Modesto.

— Eu não queria, mas a partir daquele mês fui obrigado a ter uma segurança pessoal nos meus deslocamentos. O serviço de inteligência descobriu que traficantes estariam pensando em alguma coisa, atribuindo ao general Adriano tudo de ruim que estava acontecendo com eles. Mas não deixei de correr e caminhar na orla de Botafogo e Flamengo — contou o general Adriano.

Ele deixa o posto após dois anos e quatro meses de gestão. A cerimônia acontece hoje à noite, no CML, no Rio. O substituto de Adriano, general Modesto, tem 60 anos, é casado e pai de dois filhos. Ele trabalhava no Ministério da Defesa, em Brasília, para onde segue agora o general Adriano, para coordenar o setor de logística no Estado-Maior Conjunto das Forças Armadas.

Para o Exército, missão no Alemão foi cumprida

O Exército tratou a ameaça a Adriano de forma reservada, como se fosse o último suspiro de uma organização criminosa que caminhava para a morte.

— Seria uma burrice dos criminosos (executar o plano), porque a tomada do Alemão ia continuar — disse o general.

A entrevista foi dada na terça-feira, na sede do CML, na presença do general Modesto.

— Minha passagem pelo Rio foi uma das mais ricas experiências da minha vida. Nesse período, a participação do Exército na vida da população foi muito forte — disse.

O Exército avalia que cumpriu sua missão nos complexos do Alemão e da Penha: durante a permanência dos militares na região, foram apreendidos 12 fuzis, 17 pistolas e revólveres, e 3.647 projéteis. Além disso, foram recolhidos cerca de 18 mil papelotes de cocaína, 1.200 pedras de crack, 54 quilos de maconha e 1.100 trouxinhas de haxixe. Os militares também apreenderam US$ 30 mil e quase R$ 90 mil. Cerca de 400 pessoas foram detidas e 226, presas.

— O maior desafio da minha carreira foi comandar o CML e trabalhar nos complexos do Alemão e da Penha, empregando a tropa na preservação da ordem pública — afirmou o general Adriano.

Ele disse que, depois dos cerca de 20 meses em que o Exército esteve na região, constatou as dificuldades do trabalho policial. Uma delas é a obrigação de se obter um mandado de busca e apreensão para entrar na casa de alguém. Como o mandado às vezes demora muito, permitindo ao bandido, por exemplo, escapar ou esconder armas e drogas, o oficial defendeu até que, em casos excepcionais, como no do Alemão, a exigência do documento seja abolida.

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