Moradores do Poço Rico e de Santa Tereza, na Zona Sudeste, estão apreensivos com a criminalidade na região. Levantamento da Polícia Militar aponta que, de janeiro a abril deste ano, foram 43 furtos e nove roubos nos dois bairros. Uma tentativa de homicídio também foi registrada no cruzamento das ruas Antônio Dias e Maria Evangelista, na noite de 28 de maio, quando um homem foi atingido por dois tiros. De acordo com a população, têm sido frequentes ainda os casos de assaltos a taxistas, prostituição e consumo de drogas. O abandono das duas praças da área, a da República, no Poço Rico, e a Doutor Antônio Carlos Pereira, de Santa Tereza, afasta a comunidade, que reclama da insegurança.
Representantes dos bairros se reuniram com a PM em maio, na tentativa de buscar alternativas contra a criminalidade. "Não podemos continuar vivendo deste jeito, minha moto foi roubada, e eu mesmo tive que recuperá-la, porque a polícia não fez nada", reclama o presidente da Associação de Moradores do Poço Rico e de Santa Tereza, Sidnilson Ferreira. "Arrombaram até a sede temporária da associação, isso em um fim de semana em que mais três casas foram invadidas, temos que ter um policiamento melhor", acrescenta. Para o tenente Marcelo Alves, assessor de comunicação do 2º Batalhão da PM, responsável pela cobertura da região, é necessário que os moradores cooperem com o trabalho da corporação. "Existem pessoas que passam informações aos criminosos, o que facilita a prática de delitos. Contamos com a participação da comunidade para acabar com isso."
Taxistas também se mostram preocupados. Alguns admitem recusar corridas a certas áreas de ambos os bairros, dependendo do horário. "Sei que não posso fazer isso, mas já fui assaltado duas vezes no Poço Rico e uma no Santa Tereza. Tenho que pensar na minha segurança também", revela um profissional, que preferiu não ser identificado. Segundo o presidente do Sindicato dos Taxistas, Aparecido Fagundes, a situação se repete em outros locais, mas o problema tem sido recorrente nos dois bairros citados. "De uns tempos para cá, tem acontecido muito nessa região. A classe está muito insegura porque os casos têm sido frequentes." Segundo Fagundes, as ações de abordagem policial são a única medida que surte efeito. "Sabemos que a polícia tem feito o que pode, mas não podemos continuar trabalhando como estamos. Devemos solicitar uma reunião com a PM, para pedir mais abordagens."
Descaso
Para a vizinhança, o descaso com algumas localidades dos bairros é um agravante para o aumento da insegurança. Segundo a população, na Praça da República, no Poço Rico, é comum ver moradores de rua usando o Marco do Centenário da cidade como abrigo. "O monumento serve de banheiro público. Vale lembrar que eles só estão ali porque acharam um espaço sem lei ou ordem que possa acolhê-los com uma política eficiente. Enquanto isso, a população do bairro se afasta diante da impossibilidade de conviver seguramente com esse ambiente", denuncia o historiador Carlos Eduardo de Souza Miranda.
Na Praça de Santa Tereza, o quadro é semelhante. "Já vi a meninada usando drogas e pessoas fazendo sexo. De noite, ninguém se arrisca a passar por ali", conta a empregada doméstica Lizandra Ribeiro da Silva.
Abordagens
De acordo com a assessoria de comunicação da Secretaria de Obras, a PJF faz manutenção constante das duas praças, fazendo serviços, como limpeza e capina. A assessoria destacou, ainda, que a praça de Santa Tereza teve a iluminação revitalizada recentemente. Em relação aos moradores de rua, a secretária de Assistência Social, Tammy Claret, informou que equipes de abordagem atuam frequentemente na região, buscando oferecer os serviços da rede de atenção que a PJF possui: o Núcleo do Cidadão de Rua Herbert de Souza, o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas) e a Casa de Cidadania. "Vale lembrar que os profissionais atuam tentando oferecer os serviços à população de rua. A adesão ou não depende da vontade deles, que não pode ser contrariada."
PM diz não ter efetivo suficiente para agir
Segundo o presidente da Associação de Moradores do Poço Rico e de Santa Tereza, Sidnilson Ferreira, a Polícia Militar justificou, na reunião realizada com a comunidade, que não há efetivo suficiente para que o policiamento da região seja reforçado. "Sabemos que não é um problema que os policiais têm que resolver. Mas precisamos de mais cobertura, de rondas periódicas. Nos fins de semana, quando ocorrem mais crimes, não há cobertura. Não podemos continuar assim." O assessor de comunicação do 2º Batalhão de Polícia Militar, tenente Marcelo Alves, destacou, entretanto, que a corporação tem feito esforços para ampliar a cobertura. "Mesmo com esta dificuldade, já que o batalhão cobre 37 bairros, além da Zona Rural, estamos voltando nosso policiamento para a região destes bairros."
Para o especialista em segurança pública e professor da PUC-MG, Robson Sávio Reis Souza, a justificativa de que não há efetivo suficiente não pode resultar em insegurança para a população. "A obrigação do Poder Público é promover segurança pública para a população no espaço urbano. Senão, teremos os mais injustos dos mundos: aquele em que só terá segurança quem puder pagar pelo serviço privado. Quem não puder, fica à mercê da criminalidade e da violência."
Como alternativa à falta de cobertura atual na área, a população dos bairros está se organizando para realizar ações contra a insegurança por conta própria. "A ideia é criar redes de vizinhos, onde um acaba fazendo a vigilância da casa do outro, e vamos procurar a polícia para nos orientar em torno de outras ações, de repente em parceria com eles. Estamos fazendo nossa parte", destaca Sidnilson.
Na avaliação de Robson Sávio, iniciativas como esta sempre ajudam para o aumento da segurança. "A comunidade pode contribuir muito para que seu entorno fique mais seguro, realizando ações de vigilância, denunciando crimes, usando e ocupando os espaços públicos de forma mais eficiente, fazendo com que os vizinhos se conheçam, entre outras atividades. Mas não cabe à população responder por toda a segurança pública. Isso é responsabilidade do Poder Público e, sempre que haja deficiência neste serviço, as pessoas têm todo direito de protestar e reivindicá-lo." Segundo o tenente Marcelo, já existem cinco projetos como este na subárea de atuação do 2º Batalhão. "A Rede de Vizinhos Protegidos é uma ferramenta que apresenta um resultado muito positivo quanto à redução de alguns crimes, principalmente de furtos e roubos à residência. Todos os locais onde houve implantação da iniciativa apresentaram reduzidos índices dos crimes mencionados."
'Criminalidade está ligada a vários fatores'
A presença dos moradores de rua no Poço Rico tem sido motivo de crítica da população. No bairro, há uma concentração desta população por causa da sede do Centro de Referência Especializado de Assistência Social (Creas), na Rua Osório de Almeida, próximo à Praça da República. A unidade oferece aos moradores de rua, entre outros serviços, sessões com psicólogos e assistentes sociais, refeições e atividades lúdicas, atendendo cerca de 180 pessoas diariamente.
O presidente da Associação de Moradores do Poço Rico e de Santa Tereza, Sidnilson Ferreira, defende a necessidade de se "pensar soluções que não prejudiquem a vizinhança. Do jeito que está, o que queremos é que o órgão saia daqui." Para a Polícia Militar, "a maioria das pessoas que frequenta o Creas é desocupada e fica instalada nas praças. Muitos são dependentes químicos e cometem alguns furtos e roubos para sustentar seu vício", destaca o assessor de comunicação do 2º Batalhão de Polícia Militar, tenente Marcelo Alves. "Estamos realizando uma operação em conjunto com a Prefeitura de Juiz de Fora, Guarda Municipal e Demlurb, visando à desocupação das praças públicas e, consequentemente, à redução destes crimes nestes bairros.
Para a titular da Secretaria de Assistência Social (SAS), Tammy Claret, a associação entre o crime e a população de rua é resultado de um grande preconceito. "Na maioria das vezes, o cidadão que procura o Creas está em busca de reinserção social, porque já está com vínculos desfeitos com a família, com o mercado de trabalho e com a sociedade de forma geral." É o que também defende o especialista em segurança pública e professor da PUC-MG, Robson Sávio Reis Souza. "A criminalidade de um bairro está relacionada a diversos fatores e, na maioria das vezes, a população de rua está associada a pequenos furtos e outros delitos, mas não a crimes violentos ou assaltos à mão armada, por exemplo. O que costuma acontecer é uma criminalização da pobreza, que é altamente preconceituosa e sem base científica, já que não há dados que a comprovem, de fato."
Novo imóvel
A secretária Tammy Claret informou que o centro será transferido em breve para uma sede situada na Rua Professor Oswaldo Veloso, no Centro. "O que está fazendo com que o Creas se mude é uma questão contratual, até porque se o local fosse o responsável pela criminalidade, a solução não seria simplesmente transferi-lo para outra região, repassando o problema, sem procurar resolvê-lo." Para a população do Poço Rico e de Santa Tereza, entretanto, a mudança representa um alívio. Tammy Claret destaca que ainda não há data para a transferência, mas, na opinião dela, a mudança permitirá uma melhoria no atendimento à população de rua. "A adaptação do novo local está em fase de finalização, e os profissionais que vão atuar lá estão recebendo capacitação especializada. Além disso, a sede fica próxima ao Núcleo do Cidadão de Rua, o que permite uma integração entre os serviços. No novo espaço, estamos criando condições para desenvolvimento de oficinas e de atendimento individualizado e setorizado, o que vai acontecer, por exemplo, com os dependentes de álcool e drogas."
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