A placa com os dizeres "não há vagas" muito comum nos canteiros de obras até o final dos anos 90 é uma imagem que há algum tempo não faz mais parte da realidade do mercado de trabalho local. Há muitas vagas em Juiz de Fora, e não apenas na construção civil. Existem oportunidades para trabalhadores em praticamente todas as áreas, inclusive para aqueles que não possuem experiência. O fato pode ser observado nas vitrines de lojas, nos anúncios de jornal e também nas agências de recrutamento, além de órgãos oficiais de oferta e seleção, como Sine e Unidade de Atendimento Integrado (Uai). Apesar de não ser possível precisar a real quantidade de vagas disponíveis no mercado local hoje, empresários e analistas dizem que a cidade presencia uma escassez de profissionais. Por outro lado, os trabalhadores apontam que o principal problema são os salários e benefícios oferecidos na cidade, que estão abaixo dos pagos nas mesmas funções em outros municípios.
Um dos indicadores que comprovam o aumento das oportunidades de trabalho na cidade é o resultado positivo do Caged para o mês de janeiro, o maior desde o início da série histórica do Ministério do Trabalho, em 2004. O saldo foi positivo em 265 postos, mesmo com as demissões do comércio após o fim dos contratos temporários de final de ano. No mesmo mês do ano passado o saldo foi negativo em 736 postos.
Um setor que vem sofrendo dificuldades para contratar pessoal é o comércio. Segundo o presidente do Sindicato do Comércio (Sindicomércio), Emerson Beloti, o grande número de ofertas disponíveis tem ampliado a rotatividade, já que muitos estabelecimentos estão ofertando salários um pouco acima da média para atrair funcionários. "Há também uma falta de comprometimento. Os trabalhadores já entram nas lojas querendo sair." Ele também aponta para uma reconfiguração da área, com a entrada de pessoas na região no mercado. "Vemos muitas pessoas vindo de fora para preencher essas vagas.
Há mais tempo com demanda alta por profissionais, a construção civil tem buscado trabalhadores nas cidades vizinhas e até em outros estados. De acordo com o presidente do Sindicato das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon), Leomar Delgado, as construtoras contratam trabalhadores em Santos Dumont e Lima Duarte, por exemplo. "Muitos estão sendo recrutados até no Nordeste, porque senão as obras param", diz. Ele também atribui o problema ao crescimento do número de profissionais atuando em obras particulares e também ao seguro-desemprego. "Ao trabalhar como autônomos, ganhando o seguro-desemprego, eles têm condições de receber mais."
Nas agências de emprego, a situação é semelhante. Para a analista de recursos humanos do Grupo Let em Juiz de Fora, Maria Carolina Araújo, há ofertas em todos os setores, sobretudo nas área de produção de fábricas e no comércio. Porém, os candidatos estão mais seletivos. "Na maioria das vezes, eles reclamam que faltam benefícios, como plano de saúde, tíquete-alimentação ou refeição. Se antes as empresas selecionavam, agora, por conta da alta oferta, são os trabalhadores que selecionam as empresas."
A selecionadora da agência Yung Empregos Temporários, Karlen Benfica, diz que o crescimento da oferta de vagas está ocasionando maior rotatividade e também aumento da concorrência a partir de salários. "O principal fator que percebemos é que os trabalhadores estão migrando de empregos com muita facilidade, principalmente por conta da oferta de salário. Não há mais aquele medo de ficar desempregado", avalia. Ainda de acordo com ela, os setores com mais escassez de trabalhadores hoje, na empresa, são os bares e restaurantes e também os trabalhos voltados para as vendas, tanto internas quanto externas.
No Restaurante Sabor Bem Mineiro e Sushibar, a proprietária Kátia Cândido da Silva conta que está difícil contratar funcionários, mesmo sem experiência. Ela conta que oferece salário de R$ 2 mil para o cargo de sushiman, com plano de saúde e também odontológico, e muitos candidatos recusam. "A gente treina os funcionário aqui, mas as pessoas reclamam do horário, já que é para trabalhar à noite. Acredito que a falta de experiência não seja empecilho para nenhuma empresa hoje. Estamos procurando pessoas que queiram trabalhar." Na empresa de informática Ipasoft, o gerente comercial Junio César Neto, diz que nunca teve tanta dificuldade para achar funcionários como vem enfrentando agora. "Antes, tínhamos como escolher entre vendedores com experiência na área de informática. Hoje não encontramos mais trabalhadores com esse perfil."
Baixa remuneração estimula alta rotatividade
Enquanto os empregadores questionam a falta de interesse pelos postos oferecidos, a principal queixa dos trabalhadores é a de que os salários e a falta de benefícios não são atrativos. Para o presidente do Sindicato dos Metalúrgicos, João César da Silva, a reclamação do patronal de que não há profissionais qualificados no município não procede. "Somos um grande polo educacional, que forma milhares de trabalhadores ao ano. Acho que esse é o discurso mais fácil para o empresariado, que não olha para uma questão básica, que é a baixa remuneração em Juiz de Fora." O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) ainda não disponibilizou a relação dos salários na cidade do ano passado, por meio da Rais. No dados referentes ao ano anterior, contudo, a cidade apresentou a terceira pior média de remuneração entre as dez principais economias mineiras, ficando à frente apenas de Sete Lagoas e Montes Claros.
Ainda conforme Silva, o setor petrolífero, localizado a menos de 200km de Juiz de Fora, chega a remunerar seus funcionários duas vezes mais do que é pago no município para a mesma função. O sindicalista também avalia que até as mesmas empresas remuneram seus funcionários de forma diferente para cargo idêntico. "Há uma diferença de R$ 1 mil para a mesma função." Para ele, a situação de escassez só será revertida à medida que os salários crescerem e as condições de trabalho se tornarem mais atrativas.
O vice-presidente do Sindicato dos Empregados do Comércio, Wagner França, também aponta que o maior problema são os salários, sobretudo na área supermercadista, que não possui comissões, além da falta de benefícios, como tíquetes e planos de saúde e odontológico. "Muitos trabalhadores estão migrando para outros setores em busca de maiores remunerações, sobretudo a indústria, já que o mercado está aquecido como um todo. Se o empresariado não rever seus conceitos, não terá mais mão de obra."
Representante dos trabalhadores de telemarketing, o diretor de base da Subseção Juiz de Fora e Zona da Mata do Sinttel, Carlos Luiz Fernandes, também questiona a política de remuneração. "As empresas de telemarketing estão migrando das capitais para o interior para praticar salários menores. Há ainda empresas realizando treinamento não remunerado." Ainda de acordo com Fernandes, o perfil da atividade, aliado aos salários pagos, são os principais fatores que causam a alta rotatividade no setor.
Cursos oferecem capacitação
Para atender à expansão do mercado de trabalho local e qualificar a população, a cidade conta hoje com algumas opções de cursos profissionalizantes. Um deles é o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), desenvolvido pela Secretaria de Assistência Social (SAS). Voltado para beneficiários de programas federais de transferência de renda, o Pronatec está disponibilizando 124 vagas, distribuídas entre os cursos de pedreiro de alvenaria, pintor de obras, auxiliar de eletricista e impressor offset.
Segundo o subsecretário de Vigilância e Monitoramento da SAS, Thiago Horta, a expectativa é capacitar pelo menos 200 pessoas no primeiro semestre e outras 200 no segundo. Ainda de acordo com ele, a escolha dos cursos é feita a partir de estudo das necessidades de profissionais no município. Também estão abertas 55 vagas para os cursos de condutor de visitantes (área de turismo) e vitrinista (área de comércio), oferecidos através de parceria com o Senac. As inscrições para esses dois cursos podem ser efetuadas até o dia 5 de março. Ainda segundo Horta, há dois cursos em andamento pelo Senai com o objetivo de capacitar profissionais para dois setores que sofrem de escassez, o de operador de telemarketing (com 20 vagas) e o de costureira industrial (com 25 vagas).
Outro projeto é o Programa de Educação Profissional (PEO), desenvolvido pela Secretaria Estadual de Educação. Há vagas para técnico em automação industrial (35 vagas), em enfermagem (35), em farmácia (90), em logística (70), em nutrição e dietética (60) e em segurança do trabalho (120). O curso é voltado para alunos do segundo ou terceiro anos do ensino médio da rede estadual, e o cronograma será divulgado nas próprias escolas.
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