terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Mica teve folia interrompida em Maricá


Dois dos bandidos mais procurados do Rio foram presos nesta segunda-feira, na Capital e em Maricá, na Região dos Lagos. No Morro do São Carlos, no Estácio, a PM prendeu o chefe do tráfico local, Marcílio Cherú de Oliveira, o Menor Cherú, 25 anos, numa ação em que um adolescente de 14 anos morreu e uma patrulha foi incendiada. Em Maricá, Paulo Rogério de Souza Paz, o Mica, 33, curtia o Carnaval com amigos numa casa de praia. Ele buscou abrigo em favela de Duque de Caxias, na Baixada, após fugir do Complexo do Alemão. O governo do estado solicitou à Justiça que os dois criminosos sejam transferidos para presídios federais em outros estados. A polícia também divulgou imagens da casa onde Mica estava escondido.
A primeira prisão aconteceu no São Carlos, às 3h30 da madrugada. Enquanto o bloco Boi Sem Chifre desfilava, policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) deram voz de prisão a Menor Cherú num bar. Comparsas dele reagiram, houve troca de tiros e cinco pessoas foram baleadas, entre elas Cherú e Wendel Timóteo Rodrigues Nunes, 14, que, baleado no abdômen, morreu.


Houve correria e pânico na hora do tiroteio, pois mais de 100 pessoas estavam no desfile do Boi Sem Chifre, concentrado em frente ao Bar Loira e Léo, que fica a dois quilômetros do Sambódromo.

Tiros em base da UPP

Segundo a PM, os policiais receberam denúncia de moradores de que Menor Cherú estava no bar. Ao ver o chefe rendido, cerca de 10 comparsas, usando duas motos e posicionados sobre lajes, começaram a atirar, na tentativa de resgatar Cherú. Na troca de tiros, um dos bandidos atingiu Cherú com tiro de pistola na perna esquerda. O traficante Thiago de Souza, o Dorei, braço-direito de Cherú, estaria com ele, mas fugiu.

Blazer da PM foi incendiada após o tiroteio. Polícia Civil investiga se explosivo causou as chamas | Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia
Blazer da PM foi incendiada após o tiroteio. Polícia Civil investiga se explosivo causou as chamas | Foto: Osvaldo Praddo / Agência O Dia
Depois do tiroteio, uma Blazer da PM foi incendiada na Rua São Carlos, como represália. E, em frente à sede da UPP no morro, um Polo foi apedrejado. Um das bases da UPP foi atingida por quatro tiros, mas ninguém se feriu. Peritos da recolheram dezenas de cápsulas de pistolas calibres 380, 9 e 45 mm no local. Réplica de madeira de fuzil foi recolhida.


Também ficaram feridos a tiros os mototaxistas Paulo Roberto Barros dos Santos (perna direita), 24, e Carlos Diego dos Santos (nas costas), 25. Amanda Martins, 17, levou tiro de raspão no braço. Nenhum corre risco de vida.

Armas de 14 PMs vão ser apreendidas, diz delegado

O delegado-adjunto da 6ª DP (Cidade Nova), Oton Alves, que registrou o caso como homicídio proveniente de auto de resistência, tentativa de homicídio (contra os policiais) e lesão corporal, disse que 14 PMs (dos 30 que participaram da ação) fizeram disparos. “As armas serão recolhidas para confrontos balísticos”, adiantou Alves. O delegado investiga informações de que o fogo na viatura teria iniciado com a explosão de uma bomba.

Menor Cherú tinha cinco mandados de prisão: 4 por tráfico e associação, e uma por homicídio.O Disque-Denúncia oferecia por sua prisão R$ 2 mil. Ele ocupava o lugar de Anderson Rosa Mendonça, o Coelho, preso em novembro.

Avó de Wendel, Eliane Rodrigues, 51, comentou a morte do garoto. “A comunidade está pacificada. É justo acontecer isso?”, questionou. O Batalhão de Choque e a Core reforçam a segurança no morro. Funcionário público registrou queixa, também na 6ª DP, alegando ter sido espancados por PMs.

Forças de segurança buscam Pezão em baile de Carnaval

Uma denúncia, não-confirmada, de que o chefe do tráfico no Complexo do Alemão, Luciano da Silva, o Pezão, estaria na madrugada de ontem num baile de Carnaval no conjunto de favelas mobilizou militares da Força de Pacificação e policiais da Coordenadoria de Recursos Especiais, elite da Polícia Civil. Na chegada deles, houve confusão: um agente da Core foi atingido por cadeira na cabeça e três pessoas passaram mal. Ninguém foi preso.

“Quando chegamos lá, fomos recebidos de forma violenta com pedradas, garrafadas, pauladas e cadeiradas. A tropa reagiu fazendo uso de armas não letais como spray de pimenta e balas de borracha. E os meliantes fugiram”, explicou o major Moraes, da Força de Pacificação. Segundo ele, cem homens participaram da ação e foi apreendida réplica de um fuzil AK-47.

Moradores disseram que os militares entraram no baile acionando spray de pimenta e atirando balas de borracha a esmo. “Eles foram ignorantes e acabaram a festa”, disse um operário.

Após seis meses refugiado em favela, Mica é capturado

Mica, 33 anos, alugou por R$ 8 mil casa luxuosa para curtir a folia | Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
Mica, 33 anos, alugou por R$ 8 mil casa luxuosa para curtir a folia | Foto: Paulo Araújo / Agência O Dia
Paulo Rogério da Souza Paz, o Mica ou MK, 33 anos, era um dos chefões do Comando Vermelho em liberdade até as 14h desta segunda-feira. O traficante — que estava à frente de parte da venda de drogas nos complexos da Penha e Alemão, na Zona Norte, e Mangueirinha, em Duque de Caxias — foi capturado numa luxuosa casa de praia em Maricá, na Região dos Lagos, onde pretendia aproveitar o Carnaval. Ele deve ser levado a presídio federal.


Mica foi preso na companhia de seis homens. Os suspeitos não têm antecedentes criminais. O imóvel, alugado por R$ 8 mil para a folia, tem quatro quartos e piscina. Não foram encontradas armas ou drogas no local.

De acordo com o delegado Rodrigo Santoro, da Delegacia de Roubos e Furtos (DRF), o traficante raramente saía do Complexo da Mangueirinha, onde buscou refúgio após a ocupação dos complexos da Penha e Alemão.

“Ele é uma pessoa que não era muito fácil de ser pega. Raramente saía da comunidade. No momento da prisão, ele disse: ‘Depois de seis meses, foi a primeira vez que saí da favela, para tentar aproveitar o Carnaval’”, disse Santoro.

Chefe da Polícia Civil, a delegada Martha Rocha comemorou a prisão de Mica. “Ao longo desses 12 meses, nós prendemos 23 lideranças do tráfico e 45 milicianos. Essa é mais uma prisão que a Polícia Civil faz sem disparar um único tiro, objeto único de investigação”, afirmou.

Adriano Imperador teve nome ligado ao bandido

Mica ficou nacionalmente conhecido após a Polícia Civil investigar a suposta relação dele com o jogador Adriano, ex-Flamengo e hoje no Corinthians. No inquérito, o traficante foi apontado como amigo íntimo do atleta. Adriano, inclusive, depôs sobre a compra de uma moto que teria sido feita por ele em nome de Marlene Pereira de Souza, mãe de Mica. Nada ficou comprovado contra o Imperador.

Mica tinha contra ele oito mandados de prisão, por tráfico, associação ao tráfico e homicídio. Ele tem 12 anotações criminais em sua ficha.

Em 2005, organizou ‘tribunal do tráfico’ e ‘condenou’ quatro comparsas, que colocaram fogo em um ônibus na Zona Norte, matando cinco pessoas. Mica executou o quarteto.

Reportagens de Diogo Dias, Francisco Edson Alves, Priscila Belmonte e Ricardo

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