segunda-feira, 8 de março de 2021

Não ataque morro acima - Por Otávio Santana do Rêgo Barros

 


Uma nuvem carregada verte incertezas sobre nossos destinos. Os dramáticos acontecimentos sanitários destas últimas semanas me fizeram recordar velhos tempos do Colégio Militar do Recife (CMR).

Era época do ginásio, estudávamos a teoria do heliocentrismo, na qual o sol é apresentado como astro central, em torno do qual a terra e os outros planetas do sistema giram em movimentos de rotação e translação.

A tese do astrônomo alemão Nicolau Copérnico foi uma verdadeira revolução na astronomia. Ao tempo em que amolava a igreja católica defensora de que a terra era inapelavelmente o centro do universo (geocentrismo).

Cinco séculos depois estamos às voltas com políticos que parecem querer desafiar essa teoria, acreditando-se o centro do universo.

Imaginando-se portadores da infalibilidade divina.

O mundo gira porque eu existo!

Trata-se de um comportamento presunçoso, de escárnio, vaidoso, que provoca desassossego em nossa sociedade já tão friccionada pela competição em todos os planos da vida terrena.

O Ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em

artigo recente, afiançou que os verdadeiros líderes

devem simbolizar um sentimento.

Eu agrego. Devem buscar reforçá-lo com a serenidade de palavras e gestos. Conclamar humildemente pela união de todos para superação das vicissitudes provocadas por divergências políticas e ideológicas que nada contribuem no vencimento da pandemia que se alastrou.

Na tradução de A Arte da Guerra (BIBLIEX-2003), clássica obra de Sun Tzu, conduzida pelo sinólogo inglês Lionel Gilles, faz-se referência ao “comandante como o árbitro do destino do povo, o homem de quem depende haver paz ou perigo para a nação.”

“O Chefe perfeito cultiva a lei moral e se apega aos métodos e a disciplina”. Parece-nos que Sun Tzu não é leitura de cabeceira de nossos governantes.

A falta de rumo dos dirigentes para liderar a crise sanitária que se instalou em nosso País, a meu ver de difícil controle pelas ações também da sociedade, nos levará a uma acentuada perda da unidade (nacional).

Por inépcia sobejamente identificada, chegamos muito atrasados ao mercado mundial de compra e venda das vacinas contra a COVID-19 e, portanto, a peleja será muito dura para reconquistar o terreno!

É como se tivéssemos deliberadamente acampado em terreno baixo e alagado. Agora, com a percepção do erro, precisaremos combater morro acima um inimigo já postado no terreno. Batalha com previsão de muitas perdas.

É fato a dificuldade de boa parte do povo brasileiro em avaliar a situação insustentável que nos metemos, identificar os responsáveis e os caminhos a seguir.

Algumas pessoas por sinecura – satisfeitas pela zona de conforto em que se encontram -, outras por incompreensão intelectual do problema e muitas por indolência de enfrentar o perigo.

Ainda em referência à obra citada, e na busca de hierarquizar a cadeia de comando para enfrentamento de batalhas (pode-se chamar de crise), ilumina-se o texto: “na guerra, o general recebe seus comandos das mãos do soberano”.

Nós, o povo em agonia, somos o soberano. Portanto, que sejam substituídos os dirigentes incompetentes e irracionais, que promovem confusões para lançar cortina de fumaça, criando incompreensão sobre seus desatinos.

Encontrem-se logo os líderes que saibam distinguir com clareza as ações transformadoras de uma refrega dessas dimensões.

Inúmeras são as lições do mestre chinês e, mesmo cifradas, facilmente compreensíveis. Leia-as com atenção e prepara-se para usá-las. Vai ser preciso.

Paz e bem!

Otávio Santana do Rêgo Barros

General de Divisão R1

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