terça-feira, 21 de julho de 2015

Para governo, CPI do BNDES põe economia em risco

Receio é de que investigação sobre o BNDES tenha mais impacto na atividade econômica que trabalhos que apuram esquema na Petrobrás

AE
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O governo avalia que a CPI anunciada pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para investigar contratos do BNDES pode paralisar a instituição e causar sérios prejuízos à economia. O receio do Planalto é que o impacto da comissão sobre a atividade econômica seja ainda pior do que o provocado pela CPI da Petrobrás, aumentando a temperatura da crise política. 
 
A avaliação foi feita ontem em reunião da presidente Dilma Rousseff com ministros da coordenação política do governo. Em conversas reservadas, auxiliares de Dilma dizem pouco poder fazer para impedir a CPI, mas acreditam que até mesmo empresários vão atuar para esvaziá-la.
 
Segundo informações obtidas pelo Estado, a equipe econômica estuda abrir uma linha de capital de giro, financiada pelo BNDES, para socorrer empresas em dificuldades financeiras após a Operação Lava Jato, da Polícia Federal, com o objetivo de evitar quebradeiras e demissões em massa. Ministros dizem, porém, que nada disso será levado adiante se a CPI vingar. 
 
Rompido com o governo desde que o lobista Júlio Camargo o acusou de ter cobrado propina de US$ 5 milhões, em depoimento ao juiz Sérgio Moro, Cunha quer pôr o PMDB na presidência e até mesmo na relatoria da CPI do BNDES, o que preocupa o Planalto. Além disso, o Senado ameaça abrir uma comissão parlamentar de inquérito para investigar o mesmo assunto, criando nova fonte de problemas para Dilma. 
 
Para piorar o quadro, o governo sabe que o grupo de Cunha e a oposição vão tentar constranger o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na CPI e temem que a crise bata com mais força à porta do Planalto. Na semana passada, a Procuradoria da República no Distrito Federal abriu investigação contra Lula, acusando-o de tráfico de influência internacional e no Brasil. 
 
A suspeita levantada pelo Ministério Público é a de que Lula tenha usado o seu poder para facilitar obras da empreiteira Odebrecht em países da África e da América Latina, com financiamento do BNDES. Em nota, o Instituto Lula disse que o procedimento aberto pela Procuradoria no DF é “absolutamente irregular, intempestivo e injustificado”. Na sexta-feira, advogados do ex-presidente apresentaram uma reclamação disciplinar ao Conselho Nacional do Ministério Público para requerer apuração da conduta do procurador Valtan Timbó Mendes Furtado, pedindo a suspensão do inquérito. 
 
Coutinho. “Não há possibilidade de ingerência política no BNDES”, disse Luciano Coutinho, presidente do banco. “Os processos de governança do BNDES são extremamente rigorosos. Temos plena convicção da nossa capacidade de esclarecer e demonstrar a contribuição do BNDES para o desenvolvimento.” A estratégia do governo é tentar pacificar a relação com Câmara e Senado durante o recesso, liberando emendas parlamentares e acertando nomeações de segundo e terceiro escalões. Embora na reunião de ontem a avaliação tenha sido a de que Cunha “extrapolou e passou dos limites”, a ordem é isolar o presidente da Câmara, e não atacá-lo. 
 
“Eu quero ver isso como uma questão de momento em que ele (Cunha) se sentiu injustiçado”, afirmou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo. “Espero que essas iniciativas não se traduzam na busca de desestabilização das relações políticas e do próprio quadro institucional. Não creio que ele faria isso.” 
 
Por ordem de Dilma, ministros também tentarão se reaproximar do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
 
Em pronunciamento na TV Senado, na sexta-feira, Renan elogiou Cunha e chamou de “tacanhas e ineficientes” as medidas propostas pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy. Disse, ainda, que ajuste fiscal sem crescimento econômico é como “cachorro correndo atrás do rabo”, porque não sai do lugar. 
 
“O senador Renan é aliado, é integrante do PMDB e os aliados não estão proibidos de fazer críticas”, amenizou o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha. / COLABOROU VICTOR MARTINS

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