quarta-feira, 29 de julho de 2015

Brasil fica de fora de maior acordo comercial dos últimos 18 anos

Acordo sobre tecnologia de informação teve quase 20 anos de negociações.
Serão 201 produtos e componentes livres de tarifas de importação.

Michelle BarrosSão Paulo, SP
O Brasil ficou de fora do mais importante acordo comercial multilateral dos últimos 18 anos, que reduz tarifas para uma longa lista de componentes de informática. Anunciado pela Organização Mundial do Comércio depois de entendimento entre Estados Unidos e China, o acordo sobre tecnologia de informação abrange volume ainda maior do que o comércio do setor automotivo.
O acordo saiu depois de quase 20 anos de negociação na OMC. No total, 201 produtos e componentes eletrônicos, como GPS e tela sensível ao toque, vão ficar livres de tarifas de importação.
Dos 161 países que fazem parte da OMC, 54 assinaram o acordo. Isso quer dizer que só estes países aceitaram importar produtos estrangeiros sem cobrar tarifa. Nas lojas deles, produtos nacionais e importados vão competir de igual para igual. O outro grupo de países vai continuar taxando os produtos importados. O Brasil está nessa.
Pior para quem está pensando em comprar um eletrônico aqui. “Você compra um telefone celular ou um aparelho de vídeo e áudio no Brasil pelo dobro do preço que outros países vendem. Então isso encarece para nossa população. O Brasil estar fora de um acordo como esse significa um atraso de tecnologia, um atraso de integração econômica e internacional, um atraso na indústria eletroeletrônica brasileira”, diz o economista e empresário Roberto Giannetti.
O governo diz que ficou de fora porque os termos do acordo não eram os melhores para o país. “O Brasil não podia excluir produtos de sua cobertura e ao mesmo tempo não recebeu a oportunidade de incluir aqueles produtos que nós exportamos. Por isso, não havia vantagem em fazer esse tipo de acordo”, explica Paulo Estivallet de Mesquita, diretor do Departamento Econômico do Itamaraty.
O representante do Itamaraty diz que o Brasil já está no lucro. Isso porque os nossos produtos e o de todos os integrantes da OMC podem ser vendidos sem imposto para os 54 membros que assinaram o acordo. “O Brasil ganha na medida em que as reduções tarifárias que foram acordadas valem também para o Brasil. E o Brasil não perde nada porque nada nos impede de reduzirmos as nossas tarifas se for julgado conveniente”, completa Mesquita.
O Brasil tem ido na contramão da principal tendência de comércio internacional da última década, que tem sido a procura por acordos intrablocos, entre blocos e bilaterais em todas as regiões do mundo.
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