Carlos Eduardo Pereira na hora da votação em General Severiano - Rafael Moraes / Agência O Globo
RIO - O administrador de empresas Carlos Eduardo Pereira, de 56 anos, candidato da Chapa Ouro, foi eleito presidente do Botafogo para os próximos três anos, com 442 votos dos 1.224 sócios alvinegros que participaram da eleição, nesta terça-feira, em General Severiano — havia 1.795 em condições de votar. Carlos Eduardo foi aliado do ex-presidente Maurício Assumpção no primeiro mandato e principal opositor no segundo. Embora tenha participado da diretoria de Carlos Augusto Montenegro, como vice-presidente geral, em 1995, quando o clube conquistou o título brasileiro, ele não teve o seu apoio. Montenegro apoiava a chapa Azul, encabeçada por Thiago Cesário Alvim.
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- O quadro social ansiava por mudanças. O clube tem que passar por um processo de abertura, fundamental para o seu futuro — disse o novo presidente, que já toma posse nesta quarta e que terá como o homem forte do futebol Carlos Alberto Torres, o capitão do tri.
O novo presidente quer reintegrar os quatro jogadores banidos por Maurício Assumpção — Edílson, Bolívar, Emerson e Júlio César — para os dois últimos jogos do Brasileiro, contra o Santos e o Atlético-MG.
- É importante ter cautela. Isso vai ser muito importante na nossa gestão. Vai ser uma marca, ter pé no chão, equilíbrio, tranquilidade - acrescentou Carlos Eduardo.
CESARIO ALVIM EM SEGUNDO
Thiago Cesario Alvim ficou em segundo, com 347, seguido por Marcelo Guimarães (234) e Vinicius Assumpção (200). Dois eleitores votaram nulo.
Com a bandeira de responsabilidade fiscal, Carlos Eduardo quer priorizar o saneamento do clube, cuja dívidda estaria em torno de R$ 1 bilhão — segundo estudo independente encomendado por beneméritos —, mantendo em dia o pagamento do Ato Trabalhista e do Programa de Refinanciamento Fiscal (Refis). Sua primeira missão será pagar até sexta-feira R$ 4,2 milhões de uma das parcelas do Refis. A segunda será juntar os cacos de um processo eleitoral que deixou evidente a falta de credibilidade e provocou rachas políticos no clube. A terceira será torcer muito contra Vitória e Palmeiras — o time baiano não pode vencer e o paulista sequer empatar. Só assim, o Botafogo não cairá para a Série B no sábado, antes mesmo de entrar em campo no domingo, às 17h, contra o Santos, na Vila Belmiro.
Nesta terça, eleitores foram às urnas na sede de General Severiano, mas não seu atual presidente. Rejeitado pela maioria da torcida e dos sócios, Maurício Assumpção preferiu evitar o contato. Se tivesse ido, observaria faixas condenando pesadamente sua administração. Observaria ainda integrantes das quatro chapas participantes do pleito com adesivos que diziam: “o pior presidente da história”. Para evitar tumultos, havia muitos policiais desde antes do início da votação, às 9h.
Com tantas dívidas, o Botafogo terá que lutar para voltar ao Ato Trabalhista, de onde saiu em 2013, para escalonar o pagamento de dívidas trabalhistas e evitar penhoras. Sem credibilidade no Tribunal Regional do Trabalho do Rio, Assumpção não conseguiu convencer os desembargadores da capacidade do clube em quitar suas dívidas.
Se não bastasse isso, o Botafogo terá também que buscar novas receitas. Atualmente, o clube arrecada cerca de R$ 100 milhões por ano, a pior relação entre receita e dívida dos grandes clubes brasileiros. Uma das esperanças é a volta do Engenhão, que tem prazo de entrega ainda para este ano. Mesmo assim, ao menos durante o Campeonato Carioca, é difícil que o estádio esteja integralmente aberto. Apenas os setores Leste e Oeste inferiores devem ser reabertos, o que atrapalha os planos de negócios.
O Botafogo tem mais uma dúvida no ar. Uma dívida de R$ 24 milhões com a construtora Odebrecht abre a possibilidade de o consórcio do Maracanã compartilhar a administração do estádio, que é uma concessão da Prefeitura do Rio para o Botafogo. Se não tiver 100% do gerenciamento do local, o clube pode perder capacidade de impulsionar o programa de sócio-torcedor, que atualmente é um fracasso. Com 8.564 pagantes, o programa é apenas o 19º do país, atrás de Ponte Preta, Grêmio Osasco e Chapecoense, além de todos os grandes clubes.
Os problemas não param por aí. Com 99% de chances de rebaixamento, a degola parece ser adiada a cada rodada como forma de tortura. Nos últimos cinco jogos no Brasileiro, foram cinco derrotas. De imediato, é preciso estimular um grupo desacreditado, abatido e com salários atrasados. No domingo, o alvinegro enfrentará o Atlético-MG, em jogo que deverá ser no Maracanã. A partida pode servir para a torcida abraçar o clube, em estado de penúria.
JEFFERSON DEVE SAIR
Para o ano que vem, na Série A, o que é improvável, ou na Série B, a missão é montar o time. O ponto de partida será a renovação de Jefferson. Goleiro titular da seleção brasileira, ele tem mais um ano de contrato, mas os problemas financeiros e as propostas que recebe de outros clubes podem deixá-lo mais longe do alvinegro. Entre os jogadores mais importantes, Gabriel, Marcelo Mattos e Daniel têm contrato em vigor e devem ficar. Se alguns jovens, como Dankler, Sidney e Murilo, podem ser valorizados, a expectativa é de uma grande mudança no elenco. A comissão técnica deve sofrer alterações, já que Vágner Mancini foi elogiado pelo comprometimento com o clube, mas não pelo desempenho do time. O diretor de futebol Wilson Gottardo também não deverá ficar.
Todos esses problemas parecem fáceis diante do desafio de elevar a autoestima do torcedor. Ele iniciou o ano vibrando com o Botafogo na Libertadores, que o alvinegro não disputava havia 18 anos, e termina 2014 torcendo contra os mais improváveis resultados e questionando a própria existência do clube.
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