27 de Janeiro de 2014 - 23:00
Presidente da CDL/JF, Vandir Domingos, foi morto com 4 tiros em estacionamento na Marechal; câmeras flagraram ação; suspeito se apresentou no final da tarde e disse que estava sendo perseguido
Por Daniela Arbex, Renata Brum, Sandra Zanella (colaborou Cíntia Charlene)
Alex (de camisa rosa e de costas) foi ouvido na sede da Delegacia de Homicídios, em Santa Terezinha
Ao se entregar à polícia, suspeito chegou à pé e sozinho, com o rosto tampado
Velório ocorreu no salão principal da Câmara Municipal; sepultamento acontece às 10h30 desta terça
Camisa e arma do suspeito foram encontradas em rua do Bairro Olavo Costa
Samu tentou reanimar vítima por cerca de 30 minutos
Populares acompanham os trabalhos policiais do lado de fora
Vandir Domingos foi empresário lojista há 36 anos
O suspeito de matar a tiros o presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Juiz de Fora, Vandir Domingos da Silva, 63 anos, dentro de um estacionamento na Rua Marechal Deodoro, no Centro, apresentou-se, no final da tarde desta segunda-feira (27), no 27º Batalhão de Polícia Militar. Às 17h40, menos de nove horas depois do crime, Alex Sandro Furiati, 34 anos, que usava boné e cobria o rosto com uma camisa de malha rosa, entrou a pé na sede do batalhão, localizado na Zona Norte. Ele estava sozinho e tinha uma das mãos levantadas para o alto. Com passagem anterior pela polícia por porte de arma, o suspeito disse que já tinha trabalhado para Vandir em uma de suas lojas, tendo sido demitido. Em diversas cartas, encontradas posteriormente pela polícia na casa de Alex, no Marumbi, ele afirmou que estaria sendo pressionado porque "sabia demais" e estava sendo perseguido. Um laudo psiquiátrico de 2011 também foi localizado, indicando que Alex sofre de esquizofrenia paranoica, mas ainda é cedo para tirar conclusões. Foi o próprio suspeito quem informou para a Polícia Civil o endereço onde teria descartado a arma utilizada no crime, um revólver calibre 32 com quatro munições deflagradas, além de outros objetos. O material foi apreendido em um terreno baldio na Rua Oscar Kelmer Filho, no Bairro Olavo Costa, Zona Sudeste.
Além de receber quatro tiros, que atingiram a vítima na região do tórax, Vandir foi golpeado na região do pescoço com chuço, uma arma artesanal, sofrendo outras quatro perfurações próximas ao ombro. O homicídio ocorrido por volta das 9h, numa das vias mais movimentadas da cidade, chocou a população e mobilizou as polícias Civil e Militar, que, já nas primeiras horas da investigação, trabalhavam com a hipótese de execução. O presidente da CDL foi morto em um estacionamento na parte baixa da Marechal. Mensalista do estabelecimento, ele se preparava para embarcar em seu Toyota Corolla, quando foi surpreendido pelo criminoso, que chegou ao local carregando uma mochila nas mãos. Atacado primeiramente no pescoço com o chuço, Vandir ainda teria tentado se defender entrando em luta corporal com o bandido. Funcionários do estacionamento disseram ter tentado intervir, mas foram intimidados pelo atirador, que sacou uma arma da bolsa, disparando várias vezes contra a vítima, já caída no chão. Das seis munições do revólver usado no ataque, apenas duas estavam intactas. Uma equipe do Samu ainda tentou reanimar Vandir por mais de meia hora, mas ele não resistiu às quatro perfurações no abdômen, falecendo no estacionamento. O suspeito fugiu a pé em direção a uma galeria com acesso para a Rua Halfeld.
Pouco depois das 11h, peritos chegaram ao estacionamento e realizaram os levantamentos na cena do crime. O corpo de Vandir foi removido por uma funerária por volta do meio-dia e encaminhado para necropsia no Instituto Médico Legal (IML). O proprietário do estacionamento preferiu não comentar o caso, mas afirmou que estava muito abalado com a morte de seu cliente mensalista, o qual conhecia há mais de 20 anos. Durante toda a manhã, a movimentação foi intensa na Marechal. O crime atraiu curiosos e também os chefes das polícias Federal e Civil. O delegado chefe da Polícia Federal, Cláudio Dornelas, ofereceu ajuda para solucionar o caso investigado pela Delegacia Especializada de Homicídios e Antidrogas. O chefe do 4º Departamento de Polícia Civil, Rogério de Melo Franco Assis Araújo, confirmou que, apesar dos ferimentos feitos com o chuço, a morte do empresário foi causada pelos tiros. A delegada regional Sheila Oliveira também esteve presente. Familiares do empresário também se dirigiram ao local.
Toda a ação criminosa durou cerca de 20 segundos, e parte dela foi gravada pela câmera de vigilância do estacionamento. A imagem do suspeito foi divulgada pela polícia e reproduzida durante todo o dia nas redes sociais, onde a família também se manifestava e pedia justiça. Uma mensagem da esposa Maria José Silva comoveu os internautas: "Meu amor, minha paixão, covardemente foi levado de mim, mas Deus é pai, vai me ajudar a aceitar e perdoar. Agradeço a todos nossos amigos e amigas pelo carinho."
Negociação
Cerca de 20 minutos após o crime, o Centro de Operações da PM recebeu a ligação de uma pessoa que se identificou apenas pelo primeiro nome e afirmou ter cometido o homicídio. Do outro lado da linha, o homem ainda disse que se entregaria apenas na presença de uma Comissão de Direitos Humanos. À tarde, houve um novo telefonema, e o suspeito teria sido convencido pelo Serviço Reservado da PM a se entregar. Comandante do 27º Batalhão e comandante interino da 4ª Região da PM, o tenente-coronel Moisés Ricardo Pinto, confirmou a negociação. "Mantive contato com o suspeito pelo telefone. Ele se mostrou uma pessoa muito angustiada, demonstrando a intenção de se entregar. Conseguimos convencê-lo, mas ele exigiu a presença da Polícia Militar, da Polícia Civil e da imprensa. Chegando ao batalhão, ao sentir a garantia da sua integridade, ele se entregou", revelou. Levado, em seguida, para a Delegacia de Polícia Civil, em Santa Terezinha, Alex Sandro Furiati foi ouvido até por volta das 21h. Ele afirmou ter comprado o revólver calibre 32 por R$ 1 mil, mas não informou a procedência. Ao final do depoimento, teve o flagrante confirmado, sendo encaminhado para o Ceresp.
O enterro do empresário será realizado às 10h30 desta terça-feira, no Cemitério Municipal. Casado com Maria José há mais de 40 anos, ele deixa ainda três filhos e três netas.
CDL/JF decreta luto de três dias
Após ser periciado no IML, o corpo de Vandir Domingos foi velado, desde o final da tarde desta segunda, no saguão da Câmara Municipal. O filho mais velho do presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Juiz de Fora, Alexander Silva, 37 anos, afirmou desconhecer possíveis inimigos do pai. "A situação demonstra a vulnerabilidade a que todos nós estamos expostos. Como é fácil comprar arma, é fácil ser vítima de uma execução", disse, embora acredite que a ação não tenha sido motivada por um episódio de violência urbana, mas voltada diretamente contra o pai. Mauro Luciano Matias, vereador de Simão Pereira do mesmo partido de Vandir, o PRP, também esteve no IML com o filho do empresário. "Fomos pegos de surpresa. O Vandir era querido e, mesmo sendo empresário, lidava com qualquer tipo de pessoa, tendo entrada em qualquer lugar."
Em nota, o prefeito de Juiz de Fora, Bruno Siqueira (PMDB), disse ter recebido a notícia da morte de Vandir com extremo pesar. "Juiz de Fora perde uma liderança importante e que sempre se destacou na luta por uma cidade mais justa e desenvolvida. Deixo aqui não somente meu lamento, mas minha solidariedade aos familiares e amigos neste momento tão difícil", escreveu.
Declarando luto oficial de três dias, a diretoria da CDL/JF lamentou a morte de seu presidente. A entidade informou que a parte administrativa permaneceu fechada nesta terça. Neta terça, o atendimento ao público, que acontece na unidade da Rua Marechal Deodoro, acontecerá em regime de plantão e será retomado após o sepultamento da vítima.
O vice-presidente da CDL, Marcos Tadeu Casarim, que passa a responder interinamente pela entidade, disse que espera o cumprimento da justiça. A CDL/JF se solidarizou com a família do presidente e destacou que, em 11 anos de trabalho, foram muitas as conquistas alcançadas pelo seu empenho e dedicação. "O nome do nosso presidente estará sempre associado à entidade como líder e precursor que foi. Juiz de Fora perde uma grande personalidade, e a CDL/JF perde grande parte de um alicerce construído com muito empenho por anos", afirmou.
Trajetória
Natural de Dom Cavati, município mineiro localizado no Vale do Rio Doce, Vandir Domingos da Silva nasceu em 17 de dezembro de 1950. Empresário lojista há 36 anos, Vandir foi presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de Juiz de Fora por 11 anos, vice-presidente da Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas de Minas Gerais (FCDL/MG) e proprietário de várias empresas na cidade. Também tem duas cantinas na UFJF, uma na Faculdade de Letras e outra no ICH. Morador de Simão Pereira (MG) há 14 anos, ele viajava diariamente para Juiz de Fora, onde estabeleceu suas raízes profissionais. Foi presidente do Sindicato das Indústrias do Vestuário de Juiz de Fora, vice-presidente da Fiemg, governador da Associação Internacional de Lions Clubes Distrito LC (2003/2004) e presidente do Lions Clube Juiz de Fora-Centro(2010/2011). Em Simão Pereira, Vandir foi candidato a prefeito nas eleições de 2012 pelo PRP, quando obteve 567 votos, o correspondente a 22,78% dos votos válidos. Foi a segunda vez que participou da disputa eleitoral. Desde 2011, presidia o Esporte Clube Duarte de Abreu, sediado naquele município.
Recém chegado de uma viagem internacional, Vandir embarcou para os Estados Unidos no dia 9 de janeiro, com a esposa, Maria José Silva, a delegação da CDL de Juiz de Fora e um grupo da Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas. Em Nova York, participou da maior convenção internacional de comércio. Retornou à cidade no dia 17, dando continuidade aos projetos e ações para a comemoração, em 2014, dos 50 anos da CDL.
http://www.tribunademinas.com.br/cidade/ex-funcionario-confessa-execuc-o-1.1417779
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