Do UOL, em Brasília
- Alan Marques/ FolhapressO general Fernando Azevedo e Silva fala na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado. Silva é sabatinado para o cargo de presidente da Autoridade Pública Olímpica
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"Como soldado, jamais escolhi cargo e procurei cumprir minhas missões com o máximo de dedicação". Foi com esta fala digna de uma situação de guerra que o general especialista em paraquedismo Fernando Azevedo e Silva abriu a sabatina na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado que aprovou seu nome para comandar a APO (Autoridade Pública Olímpica), na manhã desta terça-feira (15). "Pretendo fazer os ajustes necessários que o momento e a situação atual exigem. Nós não temos o direito de falhar", afirmou o general aos senadores sobre a organização dos jogos olímpicos de 2016, no Rio de Janeiro.
O tom polido e até afável do general no trato com os senadores durante a sabatina contrasta com a firmeza de suas declarações, que invariavelmente remontavam à disciplina militar. "Pretendo cumprir minha missão", afirmou o general pelo menos quatro vezes durante a sabatina no Senado. "Sou um militar da ativa, recebi uma missão e irei cumprir minha missão", reafirmou à reportagem depois do evento que referendou seu nome. Ele assume a APO em meio ao esvaziamento da importância do órgão e o atraso em praticamente todos os projetos para os jogos olímpicos.
"Como paraquedista sempre bradei um lema com minha tropa: Brasil acima de tudo", afirmou em resposta a uma pergunta do senador Francisco Dornelles (PP-RJ), sobre qual seria sua primeira missão como presidente da APO. De acordo com o general, ela já está definida pelo TCU (Tribunal de Contas da União), que emitiu acórdão sobre a organização da Olimpíada do Rio de Janeiro no dia 4, recomendando que o governo elabore e divulgue o quanto antes Caderno de Projetos Olímpicos e a Matriz de Responsabilidades dos jogos.
Os dois documentos devem trazer a relação de todos os projetos e obras previstos para os jogos olímpicos do Rio de Janeiro, além da responsabilidade de cada esfera do governo e do COB (Comitê Olímpico Brasileiro) na organização do evento, e já deveria estar pronto. O general havia sido indicado pela presidente Dilma Rousseff no início do mês, mas depende do aval do Senado para assumir a APO. A entidade é responsável por coordenar as ações do poder público com a iniciativa privada na realização dos jogos do Rio e fiscalizar o prazo de execução de todos os projetos.
O cargo estava vago havia cerca de dois meses, quando então presidente, Márcio Fortes, se demitiu. Apesar de não dar declarações públicas sobre o assunto, Fortes estava insatisfeito com o esvaziamento da APO e a resistência encontrada no cumprimento dos prazos. O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, chegou a declarar que a APO não servia para nada no início deste ano.
Apesar de não terem dificultado a vida do general durante a sabatina e terem aprovado o nome dele sem dificuldade, muitos senadores se mostraram descrentes em relação ao papel da APO e ao próprio legado dos jogos olímpicos para a cidade e o país. "O senhor me desculpe, mas já assume uma missão perdida e o principal legado das olimpíadas para o Rio de Janeiro será uma cidade mais desigual", afirmou presidente da comissão, senador Lindbergh Farias (PT-RJ), pré-candidato ao governo do RJ e que não perdeu a oportunidade de atacar o atual governador, Sérgio Cabral.
O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) mostoru preocupação com o legado o evento. "Vemos o legado do Pan de 2007: o velódromo vai ser demolido porque não está nos padrões olímpicos, o Engenhão interditado por problemas no projeto da cobertura, e por aí vai. Meu temor é tenhamos mais um legado sinistro com as olimpíadas", afirmou. Pelo menos outros três senadores manifestaram com os atrasos apontados pelo TCU.
"Como militar, eu gosto de vencer objetivo", explicou o general. "O primeiro é ser aprovado aqui no Senado. O segundo é soltar a Matriz de Responsabilidades e o Caderno de Projetos, caso eu seja confirmado no cargo, e por ai vai. Passo a passo", afirmou. De acordo com ele, não cabe a discussão do esvaziamento do papel da APO.
"A APO tem atribuições e funções definidas em lei, e a lei tem de ser cumprida", afirmou Silva ao dizer que vai fazer o máximo para coordenar as ações de preparação dos jogos e fiscalizar o andamento dos trabalhos. O general admitiu que todas a frentes da preparação do Rio de Janeiro para a Olimpíada de 2016 estão atrasadas. "Sim, está tudo atrasado mas ainda dá tempo. A data da abertura das Olimpíadas não vai mudar, é 5 de agosto de 2016. Cabe a nós fazer os ajustes necessários para que estejamos prontos até lá", disse.
Silva foi aprovado na Comissão de Assuntos Econômicos do Senado com 20 votos a favor do seu nome e um contra em votação secreta. A sabatina durou quase duas horas. De acordo com o presidente da comissão, agora o nome de Silva seguiria para ser referendado no plenário do Senado ainda na tarde desta terça-feira.
O general possui um currículo ligado à atividade esportiva nas Forças Armadas, e aparentemente foi uma indicação técnica do ministro Aldo Rebelo para o cargo. Especialista em paraquedismo e instrutor da atividade no Exército, o general participou da organização do Pan de 2007 e dos Jogos Mundiais Militares de 2011, ambos também no Rio de Janeiro.
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