- Escrito por Editor com apoio da Seção de Comunicação Social do 21º GAC
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O leitor e leitora sabe que não pude participar da Cerimônia em Homenagem aos Náufragos dos Navios Baependi e Itagiba, comemoradas anualmente pelo 21º GAC, antes em São Cristóvão e agora no aquartelamento do Forte Barão do Rio Branco, onde este escriba serviu por cinco anos.
Eu estava em Recife, alojado no CPOR do Recife, onde fui condecorado com a Medalha Heróis de casa Forte da AORE/R.
E a todos que foram a quem perguntei, só recebi adjetivos, como o do General de Exército Paulo Cesar de Castro, antigo Comandante do 21º GAC e portanto, profundo conhecedor daquela cerimônia, e que assim se manifestou:
Prezado amigo, Mergulhão,
Bom dia!
O comentário é muito simples: “INESQUECÍVEL!”
Gen Castro
A mais bela homenagem aos Náufragos do
Baependy e Itagiba – no Grupo
Monte Bastione – Forte Barão do Rio Branco
O dia estava prometendo chuva, mas a unidade comandada pelo Cel Lima tem mesmo muita fé, pois mesmo com todas as previsões meteorológicas negativas o tempo se manteve firme e a formatura foi realizada na Praça Força Expedicionária Brasileira. Mas na falta de chuva, foram as lágrimas que choveram naquela unidade histórica, que um dia sediou a minha unidade, a 1ª/1º GACos. Saudades ...
A solenidade de Homenagem aos Náufragos dos Navios Baependy e Itagiba já é tradicional no 21º GAC desde quando a unidade era sediada em São Cristóvão. Mas este ano a unidade superou todas as expectativas, realizando uma das formaturas mais belas e emocionantes da história do Exército Brasileiro, como me contaram os meus amigos e “observadores avançados” que estavam presentes na cerimônia.
As primeiras convidadas a chegar na unidade e serem recebidas pelo Comandante foram as irmãs Maria Lydia de Andrada Serpa e Maria Antônia de Araujo de Andrada Serpa, sobrinhas do Tenente de Artilharia Alípio Napoleão de Andrada Serpa, um dos nossos heróis que morreu no naufrágio do navio Itagiba, com apenas 24 anos, no dia 17 de agosto de 1942 (Leia Mais) .
Poucos minutos depois chegou o 1º Tenente Dálvaro José de Oliveira, de 93 anos, que em 1942 estava a bordo do navio Itagiba junto com o Tenente Serpa, e que sobreviveu mesmo depois de ser náufrago em dois navios (no Itagiba e no Arará). Foi emocionante o encontro do Tenente Dálvaro com as sobrinhas do Tenente Serpa. Nem o Ten Dálvaro, nem as senhoras Maria Lydia e Maria Antõnia sabiam que nas mãos do Ten Cel Lobão, da AMAN, estava o espadim que pertenceu ao então Cadete Serpa (foto mais abaixo, em uma capa azul).
E, como se a sequência de chegada dos convidados fosse programada, chegou em seguida o General de Divisão Márcio Rosendo de Melo, Presidente da Associação Nacional dos Veteranos da Força Expedicionária Brasileira – ANVFEB, tendo sido o primeiro oficial general a receber as honras militares da guarda formada com o uniforme histórico da FEB. Vale lembrar que o Gen Rosendo também é filho de um “pracinha” da FEB que lutou bravamente na Segunda Guerra Mundial.
Outro ilustre convidado, entre tantos, foi o Cel Art Amadeu Martins Marto, comandante do 21º GAC que antecedeu o Cel Lima, e que foi recebido por ele com as honras de comandante, ficando muito emocionado. Os dois coronéis são amigos de loga data, pois serviram juntos como instrutores do Curso de Artilharia da AMAN, na década de 90.
Com o apoio de uma viatura do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Rio de Janeiro (CPOR-RJ), minha querida escola de formação dos valores que cultivo com orgulho até hoje, e gentilmente cedida pelo Cel Garcia, atual comandante, chegou uma tropa especial, comandada e muito bem liderada pelo meu amigo, e amigo do Cel Lima: o 1º Tenente Sérgio Pinto Monteiro. Foi a chegada triunfal da “Reserva Atenta e Forte”.
Chegou logo depois o General de Exército Paulo César de Castro, antigo comandante do 21º GAC e antigo chefe do Departamento de Ensino e Pesquisa, atual DECEx. O Gen Castro foi o militar mais antigo na cerimônia, e, um dos que mais se emocionou. A respeito da cerimônia ele me confidenciou o que já coloquei no início deste artigo: - Simplesmente INESQUECÍVEL.
Vindos do Rio de Janeiro no mesmo micro-ônibus que trouxe o Gen Castro e diversos militares da Ordem dos Velhos Artilheiros (OVArt), estava uma dupla especial: o Cel Eng Jacaono Batista de Lima e sua esposa, a Sra Eni Marli Koslovski de Lima, pais do Comandante. Foi um momento de especial emoção.
Para completar a lista dos antigos comandantes do 21º GAC presentes na cerimônia, recebeu também a continência da guarda no tapete vermelho o Cel Art Roberto de Souza Bezerra, que comandou o 21º GAC quando o atual comandante era o Oficial de Inteligência (S2) da unidade, ainda em São Cristóvão. Foi no comando do Cel Roberto que foi construído o “Monumento aos Náufragos”, cujo desenho, projeto e montagem foi feito pelo então Cap Lima (atual Cmt do 21º GAC) e pelo então 1º Ten Benedeto (atual S Cmt do 3º GAAAe). Sobre a formatura o que o Cel Roberto nos disse, registrei no final deste artigo.
A cerimônia iniciou por volta das 10:00 horas com a presença (foto no palanque, da esquerda para a direita) do Ten Dálvaro, Cel PM Wilton (ex-Comandante Geral da PMRJ), Cel Lima, Gen Castro, Gen Leite (estagiário da ESG), Gen Faillace (Cmt da AD/1), Gen Anápio, Gen Nery (Secretário da OVArt) e Gen Rosendo.
Após a apresentação da tropa pelo Cap Art Hélcio, comandante da 1ª Bateria de Obuses, Bateria Cap Mário Lobato Vale, foi dado o toque de “presença de ex-combatente”, em homenagem ao Tenente Dálvaro, que, além de ter sido náufrago de dois navios, foi também para a Itália como integrante da FEB, enquadrado na Bateria Comando da Artilharia Divisionária, comandada pelo Marechal Cordeiro de Farias.
O S3 da unidade, Maj Backer, leu, então, o seguinte texto:
Um dos heróis que morreu no naufrágio do navio Itagiba, em 17 de agosto de 1942, foi o Primeiro Tenente Alípio Napoleão de Andrada Serpa. No desejo de salvar a todos os seus comandados, morreu tragado pelo oceano, vítima da ação cruel e covarde dos nazistas.
O desassombro do Tenente Alípio Serpa, brioso oficial do nosso glorioso Exército, ficou como um belo exemplo para todos os brasileiros.
Enquanto o navio afundava, um soldado encontrava-se transtornado em busca de um salva-vidas. Ao vê-lo, o Tenente Serpa disse: "calma seu Figueiredo, muita calma!" e entregou o seu próprio salva-vidas para o soldado dizendo "sairei depois de todos os meus soldados, fique com o salva-vidas."
Quando foi Cadete na Academia Militar, o Tenente Serpa usou o espadim de nº. 289, o qual foi retirado de circulação "em virtude de ato de bravura, por ele praticado, por ocasião do torpedeamento do navio Itagiba". Tal peça foi recolhida ao museu escolar, com a ficha respectiva, sendo nela inscrita, em letras vermelhas, o motivo que determinou sua retirada de circulação.
Neste momento será feita a entrega do espadim que pertenceu ao então Cadete Serpa, doado pela Academia Militar das Agulhas Negras ao 21º Grupo de Artilharia de Campanha. A partir de hoje o espadim fará parte do acervo histórico do Grupo Monte Bastione.
Convidamos as Senhoras Maria Lydia de Andrada Serpa e Maria Antônia de Araujo de Andrada Serpa, sobrinhas do Tenente de Artilharia Alípio Napoleão de Andrada Serpa para juntamente com o comandante do 21º GAC, receberem das mãos do TC Lobão, da AMAN, o espadim Nº 289, que pertenceu ao nosso herói.
Como memorial ao seu ato heróico, o espadim do Tenente Serpa permanecerá sobre o monumento aos náufragos durante o tributo àqueles que morreram nos naufrágios.
A grande emoção ainda estava por vir. Logo depois que o Cadete colocou o espadim do Ten Serpa sobre o monumento, foi dado o toque de sentido. Surgiu por detrás do Monumento da FEB, como uma grande surpresa, o Músico J. Paulo (ex-integrante da Banda dos Fuzileiros Navais), “Master Piper” da Banda Brazilian Piper, tocando na gaita de fole o hino “Amazing Grace”, que é de autoria de John Newton, que também foi náufrago. Com traje tradicional escocês e acompanhado pela Banda Sinfônica do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, iniciou o hino e a tropa formada sobre as muralhas do Forte começou a realizar um tiro de fuzil em honra a cada militar desaparecido nos naufrágios, citados nominalmente pelo locutor. As lágrimas corriam nos rostos da assistência.
Para aumentar a emoção, mais 19 gaiteiros da banda Brazilian Piper ocuparam todo o monumento, em um ambiente de grande musicalidade e emoção.
As autoridade e convidados assistiram ao “Tributo aos Heróis” sentados e concentrados na execução da música e das salvas de fuzil. A foto abaixo mostra o conjunto das bandas, da tropa e a belíssima visão do palanque, com todas as bandeiras dos estados brasileiros hasteadas na Praça Força Expedicionária Brasileira.
Depois da leitura dos nomes dos 150 militares do 7º Grupo de Artilharia de Dorso falecidos nos naufrágios e da execução dos tiros, a banda executou uma sequência de toques de sinos. Ouvia-se apenas os sinos e o canto dos canários que pareciam participar das homenagens
A banda Brazilian Piper saiu do monumento executando “Scotland the Brave” e parecia que ia até subir no palanque, executando belas evoluções no centro da Praça FEB.
Chegando ao fim da cerimônia, o Cel Lima, Comandante do 21º GAC, convidou as Sras Maria Antônia Serpa eMaria Lídya Serpa, sobrinhas do Ten Serpa, a Sra Ivone Tramontin, viúva do Cap Tramontin(sobrevivente do Navio Itagiba), o Gen Castro, o Gen Faillace e o Gen Rosendo para a colocação de uma corbélia de flores no monumento em homenagem aos Náufragos.
Foi executado o Toque de Silêncio pela Banda de Clarins do REsC e um tiro de salva de artilharia pela histórica peça “Monte Bastione”.
Como último ato da formatura, o Cel Lima fez a leitura do alusivo relativo à data, praticamente escoltado pela comitiva do CNOR e da AORE-RJ.
Após o encerramento da solenidade, os Cadetes da AMAN e todos os convidados se retiraram do local ao som de “Highland Cathedral” (http://www.youtube.com/watch?v=SMRno9BMstE), executada pela Banda Brazilian Piper e pela Banda do Corpo de Bombeiros. A banda de gaitas de fole montou um “corredor escocês” para a saída de todos.
Após a solenidade, todos foram para o tradicional coquetel no salão nobre da unidade, e a opinião era unânime: foi a mais bela formatura na vida de muitos dos que estavam presentes, pelo simbolismo, pela beleza das músicas, pela musicalidade das bandas e pela belíssima apresentação da tropa formada.
Parabéns Grupo Monte Bastione!
SOLENIDADE DOS NÁUFRAGOS NO 21º GAC
Em 2001, como antigo Cmt do 21º GAC, participei da Solenidade dos Náufragos, ainda no aquartelamento de São Cristovão. Era uma homenagem simples mais simbólica, que referenciava aqueles que pereceram a bordo, sem poder se defender, do naufrágio dos navios Baependy e Itagiba.
Naquele mesmo ano decidimos erguer um monumento que materializasse o episódio para que aqueles companheiros jamais fossem esquecidos. Nesse projeto, o então Cap Lima foi fundamental para que o objetivo fosse realizado.
Passados 12 anos e agora no aquartelamento de Jurujuba, o antigo Cap Lima, agora Cel Lima, atual Cmt do 21º GAC, conseguiu fechar um ”ciclo”, com uma cerimônia bonita, simbólica e emocionante, homenageando o Ten Dálvaro, sobrevivente dos torpedeamentos, além do Maj Landerico, do Ten Alípio de Andrada Serpa e todos aqueles heróis que deixaram suas vidas nas águas do Oceano Atlântico, como é citado na descrição do monumento.
A emoção foi o sentimento estampado em todos os rostos que estavam presentes na cerimônia, desde a entrega do espadim do então cadete Alípio por cadetes da AMAN, pela nominação de todos os desaparecidos, com a salva de tiros e acompanhada pelas gaitas de fole, pela orquestra sinfônica do Corpo de Bombeiros Militar do Rio de Janeiro e, principalmente, pelas palavras emocionadas do comandante.
Parabéns integrantes do 21º GAC – Grupo Monte Bastione, pelo exemplo de preservação da história e do culto aos nossos heróis.
Cel Roberto
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