terça-feira, 9 de abril de 2013

Delegado defende mobilização do Exército para combater tráfico



Miguel Goes
Delegado Jobson Cabral
O estado, a sociedade, estão perdendo a guerra para os narcotraficantes. Essa é a opinião de Jobson Cabral, delegado da Polícia Civil de Alagoas, especialista no assunto. Em entrevista à repórter Luciana Martins do Primeira Edição, ele explica tudo, em detalhes, sobre drogas – a diferença de maconha para crack e cocaína, o efeito que elas provocam no organismo humano. Segundo Cabral, o usuário de crack – a droga mais devastadora em circulação no Brasil – vive em média 10 anos. Segundo o delegado, o combate a esse mal terrível deve começar em casa e na escola, razão porque ele acha que a rede de ensino deveria incluir no currículo, aulas sobre os males das drogas. Ele defende a mobilização do exército para controlar as fronteiras e impedir a entrada de drogas no país. “O que o exército faz hoje? Nada. Então, por que não acioná-lo para lutar contra as drogas?”.

O que leva uma pessoa a ingressar no submundo das drogas?
Na maioria das vezes a pobreza, a falta de segurança, a falta de fé, de uma educação familiar adequada para que o jovem possa se integrar a sociedade sem problemas. O que acontece é que na maioria das vezes existe uma desagregação familiar, que é o primeiro passo que leva o jovem à droga e quando se desagrega da família, ele vai querer ser aceito em outro grupo e grande parte deles já está contaminado com as drogas e aí com a falta de fé, de apoio da família, o jovem é levado a entrar no submundo das drogas.

Por que é mais fácil induzir ou atrair o jovem para esse ambiente de dependência e degradação?
A partir do momento que você começa a sair da faixa etária de criança e atinge a adolescência, você quer uma afirmação na vida e como este jovem ainda não tem a sua mente formada, a fraqueza e a falta de pulso, de firmeza com o seu propósito de vida, fazem com que ele seja iludido por pessoas que já estão contaminadas com o vício das drogas.

Em resumo, qual a diferença entre maconha, crack e cocaína?
Todas três são drogas ilícitas. A maconha, digamos assim, não causa 100% de dependência física, causa mais uma dependência psíquica. Já o crack é uma droga muito mais forte, inclusive é uma das piores drogas porque em 10 segundos, quando você aspira o crack, a fumaça percorre o seu cérebro e atinge a corrente sanguínea, atinge seus neurônios e transforma o dependente numa pessoa muito inquieta, com taquicardia, e com movimentos que oscilam entre euforia e depressão, você se afasta de todo mundo. O usuário de crack, você conhece porque ele foge da realidade, ele se isola do habitat onde ele mora, ele passa a não cuidar de si, não toma banho, deixa a barba por fazer, ele se desgosta, essa pessoa vive num submundo. A cocaína, quando tem um teor de pureza entre 90 e 100%, causa euforia, e é uma droga usada na camada média/alta e quando você usa muito ela corrói o septo nasal, que na gíria policial a gente chama de nariz de rato porque tem o nariz corroído. A cocaína é composta da pasta base da coca, querosene, tiner e vários produtos corrosivos, imagine isso entrando no nosso corpo. É terrível.

Por que o consumo de crack se disseminou tão rapidamente?
Porque além de ser uma droga barata, os efeitos que ela provoca são mais rápidos e duram entre 20 e 25 minutos dependendo do organismo e como hoje há muita pobreza, pessoas sem objetivos e perspectivas de vida, acabam entrando no mundo das drogas e procuram o crack porque é a droga mais barata e de fácil acesso. Daí a necessidade de políticas públicas, o governo tem que trabalhar fechando as fronteiras, apertando o cerco porque quando ela chega aqui é fracionada. Hoje você pega um mini traficante, com 1kg, meio quilo porque eles distribuem, ela é espalhada em todo o país.

Qual a sensação que o crack provoca e o efeito que vem depois?
Entre 10 e 12 segundos o crack provoca euforia, e muitas vezes o usuário fica violento e perturbado, e depois vem a depressão, a taquicardia, momento de perturbação mental, suor frio após o uso da droga. Geralmente o usuário de crack faz o uso de 6 a 10 vezes por dia dependendo do dinheiro que ele tenha na hora. É devastador. O crack é uma das piores drogas.

O que acontece com um dependente depois de alguns anos consumindo crack?
O usuário de crack tem uma vida útil de no máximo de 10 anos, a tendência dele é morrer ou no confronto da polícia ou pelo efeito que a droga causa no organismo. O usuário de crack fica com o corpo debilitado, ele vai definhando, perde peso, vai deixando de gostar de si próprio, causa cirrose hepática, atinge o fígado, o rim, todo o sistema digestivo é atingido, além do próprio cérebro. Você se torna uma pessoa sem cérebro de tão devastador que é essa droga.

O senhor acha que o internamento compulsório (obrigatório) de viciados, como já se faz em São Paulo, deve ser adotado em todo o País?
Esta não é a solução, mas eu penso que é uma questão de saúde pública. O usuário é um doente que precisa ser tratado, mas a gente não pode forçar, porém temos que nos preocupar com o ser humano. A polícia, com a ajuda de profissionais da saúde, tem por obrigação encaminhar esse paciente para ser tratado porque se deixar como aconteceu na cracolândia, nós teremos um genocídio lento porque a cada dia vai morrer mais gente. Eu sou a favor da internação compulsória porque tem que cuidar do ser humano. É horrível você deixar a pessoa naquele estado de degradação, de miserabilidade, e não cuidar. O que a gente quer ver é o ser humano tratado. Aqui na delegacia eu não faço apenas o trabalho de repressão, a gente tem por obrigação de extirpar da sociedade os traficantes, mas eu aconselho, chamo os pais dos usuários, converso com o próprio usuário e explico que a droga não tem futuro.

Exceto a maconha, a droga consumida no Brasil vem de fora. Não há como erguer barreiras nas fronteiras e impedir que ela entre no País?
A maconha mais pura e mais procurada é a maconha paraguaia, de melhor qualidade, e nós aqui chamamos de manga rosa por causa do cheiro, da pureza dela e vêm caminhões e caminhões que passam as fronteiras e elas são vendidas no país também. O restante das drogas vem de fora porque são raros os laboratórios de refino de cocaína aqui, mas tem em Manaus, São Paulo e aqui mesmo, em Maceió nós já estouramos um laboratório de refino no Aldebaran. Agora, não há como impedir porque é humanamente impossível você acabar o tráfico de drogas porque é uma coisa que dá dinheiro. Se eles preparam o refino da droga é porque sabe que vai ter a procura da droga, mas é possível sim fazer um trabalho coerente, que una a Nação com maior contingente de policiais federais que atuem nas fronteiras para coibir junto com o exército. O que é o exército faz hoje? Nada. Deveria colocar o exército para trabalhar nas fronteiras, nós não somos um país de guerra, então qual o papel do exército? Se não tem guerra a gente tem que colocar essas pessoas para trabalhar nesta batalha – que não deixa de ser uma batalha – contra as drogas que esta acabando com os nossos jovens e adolescentes.

O Congresso Nacional estuda a reforma do Código Penal com proposta de descriminalizar o consumo de drogas. Isso é bom para o Brasil?

Na minha concepção, Jobson Cabral, o nosso país ainda não tem uma cultura como a Holanda, a Suíça onde a droga já é liberada, nós não temos essa cultura ainda. Fica difícil porque somos um país aculturado, a verdade é essa. É preciso primeiro se investir maciçamente na educação, levar aos jovens nas escolas a orientação sobre o uso de drogas, eu cansei de dar palestras em escolas, mas, infelizmente, nenhum deputado até hoje entrou com um projeto para que fosse obrigatório a cada três meses uma palestra de um profissional para alertar sobre os riscos da drogas, principalmente na faixa etária de 13 a 16 anos que é quando você está se descobrindo, descobrindo o corpo, a sexualidade e seria necessário este trabalho nas escolas. Primeiro você tem que educar e aí sim o jovem vai poder fazer a sua escolha, mas da forma como está hoje se você falar que a droga está liberada, a curiosidade é grande e os jovens vão entrar para o mundo drogas e vai aumentar muito mais o uso indiscriminado delas.

É possível conciliar a liberação das drogas com a proibição de sua produção e comercialização? Isso não seria uma contradição absurda?
Se eu sou contra a liberação das drogas, não tem como conciliar. O trabalho tem que ser feito prioritariamente de educação, de conscientização e depois, sim, se faz uma pesquisa para saber se é isso que a sociedade brasileira quer e não como está acontecendo com essas marchas de liberação da droga onde o que você vê é o anarquismo imperando, é a polícia entrando em confronto com essas pessoas porque o país não está preparado para a liberação da droga.

O Brasil está perdendo a guerra contra os traficantes?
Por mais que a polícia esteja fazendo seu trabalho, enquanto os nossos governantes, o Congresso Nacional não se preocupar com a repressão nas fronteiras, as drogas vão aumentar e consequentemente os negócios, porque o crime organizado trabalha lavando esse dinheiro das drogas e aquece o mercado de armas, de carro roubado, tudo se movimenta em torno da droga. Se o Brasil se preocupar em apertar, principalmente, as fronteiras com a Colômbia, os países que têm narcotraficantes e com grandes empresários que controlam essa organização criminosa, aí vamos desaquecer o trafico de drogas aqui. Da forma como está a tendência é que a polícia perca essa batalha para os traficantes.

Nenhum comentário:

Postar um comentário