24 de Fevereiro de 2013 - 07:00
Para usuários, Settra e representantes de taxistas, sistema de operadoras que atuam em JF é defasado
Por FABÍOLA COSTA
Pelo menos dez tentativas para ser atendido. Esta é a rotina enfrentada pelos consumidores que recorrem ao serviço de radiotáxi em horários de pico, dias de chuva e fim de semana em Juiz de Fora. Entre 14 e 20 de fevereiro (exceto nos dias 16 e 17), a Tribuna telefonou, em horários variados, para as três empresas que oferecem o serviço na cidade. Das 149 ligações, 107 não foram atendidas em função de sinal de ocupado, ou seja, 71,8% do total. Na avaliação de usuários, representantes dos taxistas e da própria Secretaria de Transportes e Trânsito (Settra), o serviço está defasado e não dá conta das necessidades da população.
Segundo dados da Settra, o sistema hoje é composto por 545 permissionários e 1.240 motoristas auxiliares. No radiotáxi, estão em operação as empresas Tele Táxi, com 230 associados, Albatroz, com 145, e Ligue Táxi, com 98. Juntas, concentram 473 veículos - 87% da frota (ver quadro). Não há dados oficiais da secretaria sobre a demanda no setor, como número de usuários do serviço, quantidade de ligações ou características das corridas. A Tribuna tentou contato com as três empresas. Duas falaram sobre o assunto, e só a Tele Táxi informou sobre a demanda: até 40 mil ligações por mês, uma média diária de 1.300 chamadas. Segundo a permissionária, o número é, pelo menos, o dobro do verificado há dez anos (18 mil acessos/mês).
O próprio secretário de Transportes e Trânsito, Rodrigo Tortoriello, comenta que já teve dificuldade de acionar o radiotáxi em, pelo menos, duas ocasiões. Ele reconhece que o táxi hoje "não atende a população em suas necessidades", inclusive o serviço auxiliar. "Temos que buscar alternativas para melhorar e estamos trabalhando", garante.
"Eu uso muito táxi. Quando tento ligar, o sinal sempre está ocupado. Parece até que tiram o telefone do gancho", reclama a jornalista Gabriella Lisboa Carlo. Ela costuma usar o transporte com frequência. Certa vez, comenta, quase perdeu uma viagem. Apesar de ter ligado com 50 minutos de antecedência, não era atendida. Quando conseguiu falar com a central, o táxi foi solicitado, mas não chegou. Gabriella diz que teve que correr para a rua e, por sorte, encontrou um carro passando. "Ultimamente, tenho preferido ir para a rua do que ligar. O serviço tem que melhorar, porque a insatisfação é geral."
A aposentada Maria Margarida Esteves de Sousa afirma que chegou a perder a formatura da neta por ineficiência do sistema. Ela acionou o serviço 45 minutos antes do horário marcado para o evento. "A atendente falou que mandaria o táxi logo. Eu até desci para a portaria do prédio. O tempo foi passando, o táxi não chegou, e nem me deram a menor satisfação." Margarida comenta que não tentou outro veículo, porque acreditou que o pedido seria atendido, mas não foi. A aposentada continua utilizando o serviço, mas reclama do atraso no atendimento às chamadas. "Não adianta pedir, porque o carro não vem. O táxi é um problema seríssimo em Juiz de Fora."
Centrais tiram telefones do gancho
A suspeita de usuários de que os telefones parecem ser retirados do gancho em horários de pico é confirmada por representantes da categoria. O presidente do Sindicato dos Taxistas, Aparecido Fagundes, avalia que, em horário de pico, a central evita atender o cliente, tirando o telefone do gancho, porque não tem condição de absorver a demanda. Aparecido explica que as empresas não deslocam o carro, porque não o conseguem. "Se atenderem a ligação do cliente, ele vai esperar pelo táxi, que pode demorar muito para chegar." Na situação atual e mediante compromissos agendados, é preciso que o chamado aconteça com antecedência, aconselha. Aparecido lembra que, caso o cliente tenha algum prejuízo com a espera, pode decidir responsabilizar a prestadora de serviço ou o próprio taxista que se comprometeu com a corrida. Por isso, muitas vezes, a postura adotada pelas empresas é a de ignorar a chamada.
Para o presidente do Sindicato dos Motoristas Auxiliares de Táxi de Juiz de Fora e Região (SindiTáxi Auxiliares), Marcus Kleverson Guedes da Costa, o radiotáxi é um sistema "arcaico". Ele comenta que, em cidades como Rio de Janeiro e Belo Horizonte, já é adotado o GPS, que facilita a localização dos veículos, agilizando o atendimento e tornando o sistema mais eficiente. O presidente avalia que é grande o universo de usuários que prefere acionar o transporte via telefone, mas não estima números. "Hoje os clientes estão limitados a três operadoras, que não dão conta em horário de pico." A sugestão de Costa é que sejam implantados telefones nos pontos mais disputados, pelo menos em 50 ou 60 deles, para distribuir a procura. Defende, ainda, a normatização do setor pela Prefeitura, com a padronização do serviço oferecido aos juiz-foranos.
Já na avaliação do presidente da Associação dos Taxistas, Luiz Gonzaga Nunes, o serviço de radiotáxi comporta a demanda. O problema, na sua opinião, é a concentração da procura, especialmente no fim de semana (aumento de até 40% no movimento) e em dias de chuva.
Lei não normatiza atendimento
Apesar de explorado pela iniciativa privada, o serviço auxiliar é outorgado e fiscalizado pelo Poder Público. O uso do sistema de radiocomunicação pelos taxistas é opcional e, se aceito, significa pagamento de taxa mensal em torno de R$ 100. A Settra é responsável pela concessão das permissões e fiscalização do serviço prestado.
O Decreto do Executivo 6.650, de 2000, regulamenta o serviço auxiliar e prevê obediência das permissionárias inclusive a normas "posteriormente baixadas". No artigo 10, consta a necessidade de o serviço "ser empenhado no sentido do melhor atendimento ao usuário, com pronta solução das reclamações ou deficiências encontradas". A questão é que a norma não padroniza o atendimento aos consumidores, nem estabelece critérios de qualidade, apenas exige que a central informe se o taxímetro será acionado no local da chamada.
O atendimento prestado pelas empresas de radiotáxi e o setor como um todo estão sendo debatidos por Settra e representantes da categoria, em uma série de reuniões realizadas este ano. A secretaria não divulgou informações sobre os encontros. Sobre o serviço auxiliar, o subsecretário de Mobilidade Urbana, Mauro Loyola Branco, comenta que a pasta concede autorização a estas empresas para prestação do serviço mediante o cumprimento das exigências legais constantes no decreto. As outorgas são passíveis de revogação. Neste momento, afirma Branco, há uma equipe trabalhando para rever o decreto, "de forma a garantir uma melhor prestação do serviço", garante, sem divulgar detalhes.
Especialistacobra agilidade do Poder Público
Na opinião do especialista em planejamento em transporte urbano e engenharia de tráfego, Luiz Antônio Costa Moreira, a procura pelo serviço está crescendo e, muitas vezes, a oferta torna-se ineficiente. "Estas variações sazonais precisam ser estudadas pela Prefeitura, responsável pela delegação do serviço através de seleção e outorga. Também é preciso agilidade do Poder Público na solução dos problemas apresentados nestes períodos de oferta ineficiente."
Segundo o especialista, quem já tentou ou ainda insiste em utilizar táxi no fim de semana costuma passar raiva. "As cooperativas nem atendem as chamadas telefônicas, pela inexistência de oferta", atesta. Em dias de maior procura, Moreira identifica a preferência dos taxistas associados pelos "passageiros de maçaneta" (na rua) ante os chamados da central.
O motivo, segundo ele, é que, muitas vezes, o usuário solicita o serviço via telefone, mas embarca no primeiro táxi que passa, prejudicando o profissional designado para atender a chamada. "Os usuários reclamam da dificuldade de acionar o radiotáxi, que é real. Entretanto, as cooperativas e os taxistas reclamam da falta de compromisso de quem solicitou os serviços. Assim, nos períodos de maior demanda, muitos taxistas não se apresentam como disponíveis quando solicitado, via rádio, pelas cooperativas." Para ele, o atendimento ineficiente afeta a credibilidade do serviço.
De acordo com o subsecretário de Mobilidade Urbana da Settra, Mauro Loyola Branco, o sistema é dimensionado para uma demanda média. Nos dias de chuva e à noite, no entanto, a tendência é de crescimento, explica. "Caso a oferta fosse dimensionada para a demanda nos picos, na maioria do tempo haveria um desequilíbrio entre a oferta e a procura." Sobre o possível aumento da frota, Branco afirma que a Prefeitura está buscando dados para definir a necessidade ou não de novas permissões. Para o subsecretário, a qualidade da frota é boa, vistoriada anualmente pela Settra. Ele destacou, ainda, as fiscalizações esporádicas, para verificar se veículo, permissionário e auxiliar atendem às exigências legais.
Sobre as demandas e as sugestões apresentadas pela categoria, o secretário de Transportes e Trânsito, Rodrigo Tortoriello, prefere não comentá-las. Ele afirma que a primeira dificuldade é obter um consenso entre as diversas entidades que representam o setor. "Temos que nos reunir para entender a situação, fazer um mapeamento e atacar cada um desses problemas." Ele afirmou, no entanto, que uma reestruturação do sistema está sendo pensada.
Apesar das queixas frequentes nas ruas, são poucas as reclamações formalizadas contra o serviço. No ano passado, a Settra contabilizou apenas 56 queixas de usuários, contra 42 feitas em 2011. Entre os principais problemas estão direção ofensiva (25%), agressão verbal (19,64%) e recusa de embarque (8,92%).
Empresas querem implantar GPS este ano
Duas das três empresas de radiotáxi pretendem implantar sistema eletrônico de rastreamento remoto via satélite - GPS (Global Positioning System). Na TeleTáxi, a previsão é de que a frota associada esteja utilizando o equipamento a partir de abril. Na Albatroz, a perspectiva é que o sistema seja implementado até junho. A Ligue Táxi foi procurada, mas não retornou as ligações.
O proprietário da Tele Táxi, Marcelo Américo Barezzi, informa que o programa está sendo desenvolvido há seis meses e entrou em fase de testes. Esta semana, explica, dez carros começaram a utilizar o recurso, para avaliar o funcionamento. Na opinião dele, o equipamento é necessário e vai reduzir a espera média de dez minutos para cerca de um minuto e meio. Barezzi explica que a central fará a localização do carro mais próximo do solicitante, e o motorista será avisado da corrida por mensagem de texto no celular. Com isso, eliminam-se etapas, como procura por taxistas disponíveis, espera pela resposta e repasse do endereço do solicitante via rádio. "Será possível despachar várias corridas ao mesmo tempo."
Segundo ele, a empresa hoje é obrigada a tirar o telefone do gancho para desafogar o sistema em períodos de congestionamento e não se comprometer com atendimentos que não poderão ser realizados a tempo. Na sua opinião, o radiotáxi consegue atender a demanda da cidade, o problema é a concentração da procura em horários de pico (7h, entre meio-dia e 13h30 e 17h) e dias de chuva. "Em 80% do dia, não é alta demanda. A maior procura ocorre entre sexta e sábado, das 19h às 3h."
Já a perspectiva da proprietária da Albatroz, Renata Alves dos Reis, é de implementar o sistema até o meio do ano. De acordo com ela, o rateio dos custos está sendo discutido com os associados. Renata destaca o ganho do sistema, com a possibilidade de imediata localização dos táxis, garantindo, inclusive, maior segurança na prestação do serviço. Hoje, explica, o sistema é computadorizado, com o cadastro do cliente.
Em relação ao sinal de ocupado, Renata garante que os telefones não são retirados do gancho. Ela afirma que, em períodos de maior demanda, os atendentes "seguram" o cliente na linha, para confirmar a disponibilidade de táxis, por isso o sinal de ocupado. Na opinião da proprietária da Albatroz, o sistema, da forma atual, comporta e "atende bem" a demanda. O entrave, avalia, é a falta de fluidez do trânsito
http://www.tribunademinas.com.br/economia/servico-de-radiotaxi-n-o-atende-demanda-1.1235540
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