10 de Janeiro de 2013 - 07:00
Enquanto projeto não é votado, vereadores se desentendem em plenário
Por FERNANDA SANGLARD
A polêmica sobre a ajuda de custo recebida pelos vereadores no princípio e ao final de cada ano legislativo - os chamados extras, penduricalhos ou 14º e 15º salários - tomou conta do plenário da Câmara Municipal na tarde de ontem. Apesar de os próprios parlamentares defenderem que o tema não pode ser transformado em assunto principal da legislatura, boa parte dos vereadores tomou a palavra para se referir ao assunto, o que acabou por esquentar o clima na Casa. A divulgação pela imprensa dos legisladores que devolveram a verba extra de R$ 15 mil recebida este mês e daqueles que optaram por manter o direito, assim como a autopromoção de quem fez doação dos penduricalhos serviu para inflar ainda mais os ânimos.
O primeiro a falar foi o vereador Roberto Cupolillo (Betão, PT). Ele fez questão de frisar que, apesar de ter recebido os extras nesta legislatura e na anterior, é contrário ao pagamento e faz doação dos extras aos movimentos sindicais e ao PT, "seguindo a tradição dos movimentos operários". Betão disse que os sindicalistas podem atestar os valores repassados e que só não pode afirmar para que fins destinará a verba recebida, na última sexta-feira, porque a decisão é tomada coletivamente, em plenária, pelas categorias que defende. Mas o vereador também criticou aqueles que abrem mão dos penduricalhos ou fazem doação dos valores como forma de autopromoção.
Citado, ainda que indiretamente, Antonio Aguiar (PMDB) - que ontem fez entrega amplamente divulgada do "auxílio-paletó" recebido para duas instituições da cidade - fez defesa breve de sua opção. "Estou chegando agora (na Câmara), mas tenho 30 anos de história profissional e carrego essa história, porque não estou aqui para ficar aprendendo a ser vereador." Oliveira Tresse (PSC) aproveitou para divulgar que também vai doar sua parcela às igrejas de Linhares e Nossa Senhora Aparecida e à Casa de Oração de Bom Jardim. Exceto José Márcio Guedes (Garotinho, PV), todos os demais vereadores que abriram mão da ajuda de custo neste mandato fizeram questão de comentar as declarações, também repercutidas pelo presidente da Casa, Julio Gasparette (PMDB). Mas foram as colocações do vereador Noraldino Júnior - autor, juntamente com Wanderson Castelar (PT), do projeto que pretende acabar com o pagamento dos extras - que serviram para esquentar mais o debate. Ao tentar defender Aguiar e também a imprensa, Noraldino acabou por explicitar desconfiança em relação às doações de Betão.
Irritado com as proporções da discussão, Gasparette tentou defender Betão e colocar fim ao mal-estar criado, mas a situação ficou difícil de ser contornada. "Peço um pouco de calma e respeito à posição dos vereadores, não gostei e não sou favorável ao pronunciamento que o senhor (Noraldino) acabou de fazer", asseverou o presidente da Câmara. Anteriormente, Luiz Otávio Coelho (Pardal, PTC), que também está na lista dos que devolveram o 14º, já havia entendido mal a colocação de Gasparette sobre o "uso demagógico" desse artifício.
Em clima de pacificação, Jucélio Maria (PSB) e Castelar defenderam a opção de também abrir mão dos penduricalhos. "Minha decisão correspondeu à coerência das questões que tratei como candidato e vou tratar como vereador", defendeu Jucélio, pedindo que os colegas mantenham o trabalho e a luta para garantir que a imagem da política são seja vista com distorções. Castelar disse respeitar a posição de Betão e dos colegas que fazem outros usos da ajuda de custo, mas defendeu que haja maior controle sobre o dinheiro público. Fazendo quase que uma súplica aos pares para que votem pelo corte dos penduricalhos, ele pontuou ser preciso "efetivamente pôr fim a este capítulo". O fim, no entanto, depende da votação do projeto, que pode ocorrer na próxima terça-feira.
http://www.tribunademinas.com.br/politica/extras-esquentam-o-clima-na-camara-1.1213584
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