quarta-feira, 19 de setembro de 2012

PF E CIVIL ESTÃO NO CASO DA MISTER COLIBRI


Corporação federal pediu quebra de sigilos fiscal e bancário da empresa e de seus representantes no Brasil. Suspeito de estar envolvido no suposto esquema na cidade será ouvido amanhã.

Por Eduardo Valente

A delegacia da Polícia Federal de Juiz de Fora pediu a quebra dos sigilos bancário e fiscal da Omnia Serviços Publicitários e Representações Ltda., razão social da Mister Colibri, com sede em Fortaleza (CE), das empresas associadas ao grupo Dream Team Brasil no município, que já são investigadas pela Polícia Civil, e de todos seus representantes legais. Com isso, a expectativa é de que se chegue ao total movimentado pela suposta pirâmide financeira e seus possíveis beneficiados.
Conforme o delegado Humberto Brandão, haverá uma reunião amanhã com a delegada Mariana Veiga, da 7ª Delegacia de Polícia Civil, com o objetivo de concentrar os trabalhos de apuração. No mesmo dia, o suspeito de ser o responsável pela empresa que representa a Mister Colibri na cidade prestará depoimento na Polícia Civil. O acordo para que ele se apresente foi firmado entre a delegada Mariana e seu advogado José Roberto Fabre.
O suposto esquema local foi derrubado pela Polícia Civil na última segunda-feira, quando foram cumpridos mandados de busca e apreensão em três endereços. Menos de 24 horas depois, pelo menos 20 pessoas que se dizem lesadas procuraram a delegacia, em Santa Terezinha. Elas tiveram depoimentos agendados para os próximos dias.
Também ontem todo o material apreendido foi apresentado pela Polícia Civil em entrevista à imprensa. Na ocasião, o chefe de Departamento da 4ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp), Rogério de Melo Franco, e a delegada Mariana explicaram que os objetos, muitos importados, foram recolhidos na casa do suspeito, no Bairro São Bernardo, Zona Leste, no escritório da empresa Dream Team Brasil, instalado na Rua Barbosa Lima, e em uma revendedora de veículos de luxo, que pertenceria ao mesmo grupo, na Rua Morais e Castro, Bairro São Mateus, região Sul.
Os produtos ainda não foram catalogados, mas já foram identificados mais de dez relógios de grife, dezenas de semijoias, com pedras preciosas, câmeras digitais, tablets, notebooks, perfumes e bolsas de marcas famosas. Além disso, foram apreendidos cheques, que podem ser de supostas vítimas, e notas promissórias, de valores diversos. Todo o material será encaminhado para o Laboratório de Lavagem de Dinheiro da Polícia Civil, em Belo Horizonte. A linha de investigação apura os crimes de lavagem de dinheiro, estelionato e formação de quadrilha.
Conforme o delegado Rogério de Melo, as investigações tiveram início no ano passado, quando as atividades da Mister Colibri foram disseminadas no município. Como não havia vítimas reconhecidas, a polícia não conseguiu agir naquele momento, embora a situação tenha sido monitorada desde então. "Há alguns meses, as primeiras pessoas lesadas começaram a aparecer. É um fato que nos causa até certa estranheza, pela quantidade de pessoas esclarecidas entre elas", afirma o delegado.
Os mandados cumpridos na segunda-feira, conforme Mariana, foram solicitados à Justiça com base nas declarações das vítimas. "Todos os procedimentos foram legais. A partir de agora, a documentação apreendida será analisada. Muitas pessoas que se sentiram enganadas já começaram a aparecer na delegacia."
Uma das suspeitas é de que os produtos apreendidos seriam utilizados para pagamento de parte das dívidas com os associados. Embora a análise não tenha sido feita, a delegada afirma que os preços colados nos objetos estão acima do valor de mercado. Além disso, não foram localizadas as notas fiscais que comprovam a origem deles. Sobre isso, o advogado de defesa José Roberto Fabre informou que seu cliente vai apresentar todas as notas fiscais à delegada. "A Dream Team Brasil tem como uma das finalidades comercializar produtos. Ela é legalmente constituída, tem a contabilidade regular e recolhe impostos." O advogado deixou claro que não fala em nome da Mister Colibri, e sim da representante instalada na cidade.
Defesa
Por meio da rede social Facebook, o suspeito de comandar a empresa que representa um grupo de associados em Juiz de Fora se defendeu das acusações. Ele afirma que estava em um avião, em direção a Recife (PE), quando soube da operação da Polícia Civil. Afirma que tem o apoio dos advogados da empresa e dos representantes do Brasil e exterior. Segundo suas palavras, estas pessoas "estão agindo para que, com a sabedoria e precisão, se dê uma resposta à altura do absurdo que aconteceu."

Repercussão em todo o país

A operação da Polícia Civil na segunda-feira, em Juiz de Fora, repercutiu em diversos locais do Brasil. Na manhã de ontem, a Tribuna recebeu a ligação de pessoas de várias partes do país que se dizem lesadas com o suposto esquema da pirâmide financeira. Entre eles, um homem de Fortaleza (CE), 65 anos, que não quer ter sua história revelada, mas diz ter perdido mais de R$ 30 mil, e um comerciante, 44, morador de Niterói (RJ). Este último esteve em Juiz de Fora no dia 26 de agosto e afirma ter participado de um evento local que anunciou a criação do site de comércio virtual (e-commerce) da Mister Colibri. Neste dia, foi apresentado o primeiro produto da empresa, que seria um tablet. O equipamento pode ser encontrado na internet por valores entre R$ 400 e R$ 550. No e-commerce, o afiliado desembolsaria cerca de R$ 800. Outra forma de adquirir o produto seria vender 15 cadastros para novos membros, ao valor de R$ 75. Ou seja, R$ 1.125.
O morador de Niterói, que afirma ter investido cerca de R$ 96 mil, não viu o retorno financeiro, porque reaplicava o dinheiro recebido na suposta pirâmide. Agora, ele criou uma petição pública, via internet, para cobrar, dos representantes da empresa, o retorno do valor investido. Até a noite de ontem, 101 pessoas haviam assinado o documento virtual, que exige comprovação de documentos. A petição será entregue a autoridades policiais. "Tenho 88 pessoas que se cadastraram no grupo comigo. Já sofri todo o tipo de ameaça que se pode imaginar. Meu objetivo não era ganhar dinheiro fácil, apenas aceitei uma proposta de ter lucro extra assistindo vídeos. Isso não acontece mais. Hoje o LP (loyalty point), que deveria valer R$ 1, é encontrado até por R$ 0,10."
Segundo a suposta vítima, a referência para os associados de Niterói seria o representante de Juiz de Fora. "Nosso grupo é vinculado a eles. Tanto que fomos ao município para o evento de lançamento do e-commerce." No entanto, o advogado do suspeito, José Roberto Fabre, afirma que a empresa local Dream Team Brasil responde apenas por Juiz de Fora e cidades da Zona da Mata. 

Mudanças no suposto esquema

Segundo os delegados que participaram ontem da entrevista coletiva na Polícia Civil, o suposto esquema teria começado a perder força devido às mudanças de regras. Ou seja, aqueles primeiros cadastrados, que foram seduzidos com a promessa de ganhar dinheiro assistindo vídeos publicitários, foram surpreendidos com alterações. Nos últimos meses, a visualização dos vídeos era paga por pontos de fidelidade, conhecidos como loyalty points (LP), e a indicação dos novos membros resultava em encashable loyalty points (ELPs). Até agosto, estas moedas eram convertidas em dinheiro, ao valor de R$ 1 cada ponto. Depois, foi anunciada a criação de um grande site de comércio virtual, que ainda não está em operação. A partir desta nova etapa, os pontos seriam trocados apenas por descontos em produtos eletrônicos.
O LP também podia ser utilizado para compra de novos registros. Com isso, o associado conseguia vender seus pontos para futuros cadastrados e, assim, recuperar o dinheiro investido. Esta regra chegou a ser vetada no início de setembro. Mas, no último domingo, por pressão dos associados, o grupo voltou a aceitar 50% do pagamento de registro em LPs e ELPs.

http://www.tribunademinas.com.br/cidade/policias-federal-e-civil-est-o-no-caso-mister-colibri-em-jf-1.1157401

Nenhum comentário:

Postar um comentário