O esquema estava sendo investigado há cerca de nove meses. Segundo a PC, o proprietário da empresa será apresentado ainda nesta semana pelo advogado.
Nathália Carvalho
Repórter
18/9/2012
Repórter
18/9/2012
A Polícia Civil apresentou, na manhã desta terça-feira, 18 de setembro, os materiais apreendidos com base em três mandados de busca e apreensão que investigam um possível esquema de pirâmide financeira em Juiz de Fora, comandados pela empresa publicitária Mister Colibri. A operação foi desencadeada pela 7ª Delegacia da Polícia Civil, com apoio do Núcleo de Ações Operacionais da Polícia Civil (Naop), na tarde da última segunda-feira, 17, com base nas investigações iniciadas há cerca de nove meses. Segundo a PC, o proprietário da empresa será apresentado ainda nesta semana pelo advogado.
Na segunda, os agentes da polícia estiveram na sede comercial da empresa, localizada na rua Barbosa Lima, Centro, na residência do principal suspeito de comandar o esquema, no bairro São Bernardo, e ainda em uma concessionária de veículos no bairro São Mateus. A empresa é investigada pelos crimes de estelionato, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. O advogado da empresa, Denar Lima, esclareceu que as denúncias não procedem e que não há nenhuma irregularidade na Colibri. "Se alguém tem dinheiro para receber, esse valor será ressarcido. A empresa é totalmente séria e atua dentro da lei, logo, não há nenhum crime sendo cometido por aqui", comenta.
Entre os materiais, foram apreendidos joias, relógios, aparelhos eletrônicos, como máquinas fotográficas, computadores e celulares; perfumes importados, carteiras, cheques e documentos. "Acreditamos que esses produtos não possuem nota fiscal e estão com os preços superfaturados. Vamos enviá-los para o laboratório especializado em lavagem de dinheiro em Belo Horizonte para fazermos um levantamento da quantia", explica a delegada responsável pelo caso, Mariana Veiga. Ela diz que, como a transação era feita de maneira virtual, ainda não foi possível catalogar o número de pessoas envolvidas e o valor em real do esquema. "Com certeza, são milhares de associados aqui da cidade".
Segundo o chefe do 4º Departamento da Polícia Civil, delegado Rogério de Melo Franco, as investigações tiveram início a partir da desconfiança primária de empresas com promessas de alto retorno financeiro, acima do que o mercado atual é capaz de oferecer. "As premissas fraudulentas e ilícitas atraem os olhares, mas não passam de um simulacro de aplicação financeira. O que nos causa estranheza é a adesão de um alto número de pessoas no empreendimento, mesmo sabendo dos riscos", comenta.
Além disso, a delegada revela que a polícia já vem realizando trabalhos de investigação a respeito do assunto em outros estados e que a alta incidência de reclamações dos juiz-foranos, que não estavam conseguindo receber a quantia proposta inicialmente, trouxe à tona a gravidade da situação. "Por enquanto, essas pessoas têm sido recepcionadas como vítimas pela polícia", comenta. Segundo ela, até o momento não foi apresentada pela empresa a autorização do Banco Central a respeito da legalidade das transações financeiras.
Uma pirâmide que pode desabar
A promessa de retorno financeiro rápido e fácil é o grande diferencial das empresas que atuam com o esquema da pirâmide financeira. No site oficial da Mister Colibri, a primeira informação repassada reforça o fato: "Você se surpreenderá com os seus ganhos." Com sede oficial em Fortaleza, Ceará, a empresa conta com aproximadamente 130 mil membros no Brasil, segundo informa o site.
Para participar do investimento basta seguir um passo a passo. A primeira etapa é se cadastrar adquirindo um código (chamado de PIN), onde é necessário informar o nome do associado por quem foi indicado, conhecido como o patrocinador. Segundo um dos associados entrevistados pelo Portal ACESSA.com, "o investimento inicial varia de R$ 600 até o valor que a pessoa puder pagar." Depois de realizar o primeiro investimento, a empresa sugere que o associado utilize seu próprio business center e/ou assista comerciais para ganhar dinheiro semanalmente.
De acordo com uma associada, de 26 anos, que participa do negócio desde quando ele teve início na cidade, em fevereiro de 2011, os vídeos foram a primeira forma que a empresa sugeriu para obter o lucro. Pela conta mínima, o associado assiste a três vídeos de 30 segundos por semana e recebe um valor fixo de Loyalty Points (Lps), depois dos 30 primeiros dias de associação. Caso a pessoa indique novos membros, os valores aumentam e não há necessidade de esperar o período de carência. Já em outra conta, a chamada Family, a pessoa investe R$ 2.750, assiste a 12 vídeos e recebe US$ 100 por semana.
"Já o Business Center foi uma forma que eles arranjaram de continuar ganhando dinheiro, alegando que desde julho os vídeos não davam mais retorno", afirma a associada. Segundo ela, o esquema funciona como um E-commerce, onde vende-se qualquer tipo de produto, como perfumes e roupas, através da plataforma online do Mister Colibri. "Mas nem sempre os associados utilizam esse método, porque é necessário que você tenha um negócio próprio", explica. De acordo com o delegado, os associados informaram que as regras mudavam o tempo todo, de maneira a confundir os participantes.
Alguns entrevistados afirmaram que não estava recebendo qualquer tipo de retorno, que antes era dado em dinheiro ou em produtos de alto valor no mercado. "Quem entrou depois de maio deste ano, como é meu caso, praticamente não recebeu nada, nem o valor que investiu. Dei R$ 3.700 e tenho amigos que perderam muito mais", lamenta um associado.
Próximas ações da PC
Segundo a delegada Mariana Veiga, haverá continuidade no trabalho de monitoramento na cidade e os depoimentos das vítimas serão analisados juntamente com o material apreendido. Como a empresa não oferecia nenhuma forma de garantia do acordo entre as partes, a delegada explica que aquelas que se sentirem lesadas devem procurar a polícia na 7ª Delegacia da Polícia Civil, no bairro Santa Terezinha. "Agora, iremos localizar e avaliar os bens encontrados e entender uma possível forma de ressarcir os clientes lesados, que estiverem ao conhecimento da polícia", comenta.
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