terça-feira, 14 de agosto de 2012

Suspeito de atirar durante chopada, que foi preso, é filho de policial militar. Irmão dele, de 17 anos, foi apreendido


Um jovem morreu e outros três ficaram feridos, entre eles uma mulher, ao serem baleados em uma festa com bebida liberada, na noite de domingo, em uma granja alugada no Bairro Cidade do Sol, Zona Norte. O tiroteio aconteceu durante uma briga generalizada entre cerca de 20 pessoas, que teria sido motivada por ciúmes. O caso chama a atenção pela gravidade da violência entre jovens diante de motivos fúteis. Durante a discussão, um dos envolvidos sacou um revólver e efetuou três disparos, causando pânico e correria entre os convidados. Diego Lima de Abreu Alcântara, 20, foi alvejado no peito. Ele chegou a ser socorrido pelo Samu, mas não resistiu ao ferimento e morreu antes de dar entrada no Hospital de Pronto Socorro (HPS). Um rapaz, 19, sofreu perfuração abdominal e, segundo a assessoria de comunicação da Secretaria de Saúde, passou por cirurgia no HPS, permanecendo internado na sala de urgência. Na tarde de ontem, ele respirava espontaneamente e seu estado geral era estável. Uma jovem, da mesma idade, foi atingida nas costas, mas assinou termo de responsabilidade e deixou o hospital. Já um adolescente, 16, sofreu fratura exposta na mão direita, passou por procedimento cirúrgico, e ficou em observação. Ontem ele estava lúcido e orientado.
O suspeito de atirar, 18, que é filho de um militar lotado na 4ª Região Integrada de Segurança Pública (Risp), foi preso em flagrante com a arma do crime durante rastreamento da 3ª Companhia de Missões Especiais (CME) da Polícia Militar. Ele estava junto com o irmão, 17, também detido. "Tudo aconteceu em uma chopada numa granja. O indivíduo que atirou viu a ex-namorada dele com um rapaz. Houve uma briga, ele sacou a arma e fez os disparos. Na arma, haviam três munições deflagradas", contou o policial responsável pela ocorrência, tenente Ademir Corrêa da Silva Júnior. Ele acredita que uma mesma bala possa ter acertado mais de uma pessoa, já que quatro vítimas foram alvejadas, sendo que uma teve a mão transfixada por um projétil. "Do Cidade do Sol, eles fugiram correndo para o Santa Maria. Só da Rotam, empenhamos três viaturas e 12 militares no rastreamento."
Os suspeitos foram detidos perto de um posto de combustíveis na Avenida JK. O suposto atirador estava com um revólver calibre 38, de cano longo prateado, com numeração raspada, carregado com três munições intactas e três deflagradas. Ele disse aos policiais que foi agredido a socos e chutes por cerca de 20 indivíduos, pegou o revólver de sua cintura e efetuou três disparos na direção dos envolvidos. "O irmão dele foi apreendido porque participou da briga e fugiu junto com ele", explicou o tenente.
Na delegacia
Na manhã desta segunda-feira (13), o movimento ainda era intenso na 1ª Delegacia Regional de Polícia Civil. O organizador do evento de 20 anos preferiu não se identificar, mas contou que a chopada começou às 14h na granja alugada para o evento. Segundo ele, cerca de 150 pessoas estavam presentes, e cada uma teria pago R$ 30 para participar e ter acesso à bebida liberada. "Só escutei os tiros e vi a correria. Não sabia que tinha gente armada na festa e não conhecia os envolvidos."
A namorada do jovem baleado no abdômen é ex-companheira do suspeito de atirar. "Eu já estava com medo dele e sabia que estava andando armado, porque sempre me ameaçava. Ele me viu na festa pela primeira vez com meu namorado e ficou com ciúmes. Teve uma briga e, quando houve os disparos, todos saíram correndo." A namorada de Diego, 16, disse que ele se envolveu para defender o amigo e acabou baleado. "Eu estava longe na hora da briga, mas ele entrou para ajudar. Só escutei os tiros e vi ele caído. Fiquei desesperada. Tinha muita gente apavorada, gritando e chorando." Segundo ela, a confusão teria começado depois de o suspeito ter agredido a ex. "Uma menina que entrou com a arma para ele", denunciou. "Foi tudo por causa de ciúme, coisa boba. Os tiros acertaram em quem não tinha nada a ver. Agora fica o trauma. Tem que ser feita justiça."
Segundo o delegado de plantão Francisco Corrêa Rezende, o suspeito de atirar, que se reservou ao direito de só falar em juízo, teve flagrante confirmado por homicídio e foi encaminhado ao Ceresp. Já o adolescente foi autuado por ato infracional análogo ao mesmo crime e apresentado à Vara da Infância e Juventude.

Indignação entre família e amigos

Corpo de Diego Alcântara, 20 anos, foi sepultado ontem no Cemitério Municipal
O assassinato de Diego Lima de Abreu Alcântara, 20 anos, morto com um tiro no peito durante a briga na chopada na Cidade do Sol, em pleno domingo do Dia dos Pais, transformou a vida da família em um pesadelo da noite para o dia. No enterro, na tarde de ontem, no Cemitério Municipal, amigos, vizinhos e familiares choraram a morte precoce de Diego e cobraram justiça. Muito abalados, os pais do jovem, que trabalhava em uma metalúrgica no Nova Era, não saíram do lado do caixão até o sepultamento. A mãe precisou ser amparada por amigas.
O avô materno de Diego, Aldo Luiz Aurélio, 66, contou que o neto morava com os pais no mesmo bairro onde ocorreu o crime. "Ele era como qualquer garoto, gostava de farra, de namorar. A confusão foi por causa da namorada de um amigo. Uma hora acontece coisa ruim." Segundo ele, o rapaz era o caçula e tinha uma irmã.
A avó, Sueli Lima de Abreu, 60, lamentou: "Perdi meu neto com 20 anos. É muita dor. Agora também estou preocupada com a minha filha, que está com depressão, e com o que vai ser. É preciso que façam justiça porque senão os amigos dele vão querer fazer, e isso provoca um ciclo de violência." Ainda muito abalada, a irmã do jovem, que já é casada, preferiu não conversar, mas disse que o irmão era um bom menino, que morava com os pais e que era trabalhador.
O outro jovem, 19 anos, baleado no abdômen também corria risco de morte. Ele passou por cirurgia e, na tarde de ontem, continuava internado no HPS. No cemitério, a ex-namorada e mãe de sua filha, uma menina de 1 ano e 7 meses, lamentava o episódio. "Essa violência não vai levar ninguém a lugar nenhum. Há um tempo, pedi para ele pensar na filha e evitar confusão", desabafou a auxiliar de cozinha, 20.

Assassinato pode desencadear rixa

A violência na Cidade do Sol levanta a discussão sobre as brigas por motivação fútil que vêm vitimando cada vez mais jovens na cidade. Com a facilidade de aquisição de armas, o resultado é catastrófico, como vem sendo acompanhado pela Tribuna. Avô do jovem assassinado, Aldo Luiz Aurélio chamou a atenção para essa violência juvenil que tem resultado em perdas crescentes. "Eu queria levá-lo para morar comigo em Saquarema (RJ). Peço a Deus para que as autoridades façam alguma coisa. Com acesso a muito armamento, vai ser difícil sobreviver." Natural do Rio de Janeiro, Diego veio morar no município na pré-adolescência. "Queria levar todos embora por causa das brigas de bairros. Ontem (domingo) o problema foi outro, foi namorada. Juiz de Fora está acabando com essa juventude, está demais."
Entre os jovens e adolescentes presentes no enterro, o clima era de revolta. Uma viatura do Choque da Polícia Militar esteve presente no local para evitar novas confusões. "Os que atiraram são do Bonfim. Não tínhamos problema nenhum com os meninos de lá, mas agora passaram a ser nossos principais inimigos. Se foram armados para dentro do nosso bairro, é porque já queriam confusão", afirmou um jovem de 19 anos. "Ele era um irmão para a gente. Não tinha nada a ver com a confusão e morreu por nada. O que fica agora é ódio. Ódio. Daqui a pouco, estão na rua, porque a Justiça é assim. Ainda mais que são filhos de um policial", revolta-se outro jovem, 20.
O namorado da garota de 19 anos baleada de raspão nas costas contou que, por sorte, não foi atingido. "Estávamos todos perto. Não sei nem como foi, só vi o cara já puxando a arma e atirando. Eu consegui correr", contou o rapaz, 19. "Também não vi nada direito, só o Minhoca (apelido de Diego) sangrando, e o sangue me espirrando. Não vamos deixar assim", dispara outro morador da Cidade do Sol.
O delegado Rodolfo Rolli, titular da 3ª Delegacia, responsável pela investigação dos crimes ocorridos na Zona Norte, informou que o caso será encaminhado ao Núcleo de Ações Operacionais (Naop), mas disse que, em muitas das ocorrências, os motivos apresentados, como ciúmes, servem para encobrir outros. "O fato de uma das vítimas ter sido baleada na mão mostra que o autor do disparo não tinha um alvo certo. Ele atirou a esmo para o lado onde estariam seus inimigos, evidenciando a rivalidade entre os grupos."

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