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Numa manhã ensolarada de 15 de agosto, chegamos cedo ao sitio histórico e arqueológico do Forte Barão do Rio Branco, onde hoje está sediado o 21º Grupo de Artilharia de Campanha, o também histórico Grupo Monte Bastione, famoso na Segunda Guerra Mundial por ter feito o primeiro disparo de Artilharia.
Seu Comandante, o Tenente Coronel Luciano Batista de Lima andava de um lado para o outro como Chefe dedicado a olhar se tudo estava em ordem, se os soldados estavam treinando, dando as últimas passadas da sua Ordem do Dia com o Tenente Mestre ad Banda da AD/1 e por aí vai.
Uma hora depois começaram a chegar os convidados ilustres, o primeiro deles, o Tenente Dálvaro, sobrevivente duas vezes do naufrágio do BAEPENDY, foi recolhido pelo vapor ARARÁ que também foi torpedeado pelo mesmo submarino alemão que se encontrava nas redondezas.
A história completa e emocionante, leia mais adiante na Ordem do Dia do Comandante que transcrevi na íntegra.
Chegou um ônibus com o General Nery e vários Artilheiros da Ordem dos Velhos Artilheiros. O mais antigo dos Chefes presentes, foi o General Jonas.
Chegou o General de Exército Paulo Cesar de Castro, antigo Chefe do Departamento de Educação e Cultura do Exército e ex-Comandante desta Organização Militar e, após as honras militares, a Banda da AD/1 saudou o velho Artilheiro com seu hino preferido: o do Fluminense.
Logo chegou o General de Exército Rui Alves Catão antigo Comandante Militar do Leste e Oeste.
Da ativa o mais antigo presente foi o General de Brigada Eduardo Arnaud Cypriano, Comandante da Base de Apoio Logístico de Exército.
Presente também o Chefe da Unidade Enquadrante, o General de Brigada Antônio Carlos Machado Faillace, Comandante da Artilharia Divisionária da 1 DE.
Antes de nos dirigirmos ao pátio de formatura, paramos diante do PC para inaugurarmos o busto do Marechal Mallet, patrono da Artilharia, que viera do antigo 8º GACosM sediado no Leblon onde hoje há um Batalhão da PM.
Muitas autoridades presentes no palanque como o Desembargador Egas Moniz de Aragão Dáquer, o Deputado Vitor Paulo dos Santos e o Tenente R/2 Sergio Pinto Monteiro, Presidente do Conselho Nacional de Oficiais da Reserva, acompanhado do Ten R/2 Art Paulo Coimbra Sauwen, ex-Presidente da AORE/RJ, Associação dos Oficiais da Reserva do Exército.
Prestadas as honras militares ao General Cypriano, que, elegantemente pediu autorização ao General Jonas, foi cantada a Canção do Expedicionário e ouvimos as palavras do Comandante em sua Ordem do Dia que transcrevemos:
“Alocução de Homenagem aos Náufragos do Baependy e Itagiba
Excelentíssimo Senhor General de Exército Jonas de Morais Correia Neto, em nome de quem eu saúdo as demais autoridades militares; Excelentíssimo Senhor Deputado Federal Vitor Paulo, reservista do Exército Brasileiro que serviu neste aquartelamento, em nome de quem eu cumprimento as autoridades civis que nos honram com as suas presenças; Tenente Dálvaro José de Oliveira , aqui neste pátio, em frente ao Oceano Atlântico, o senhor representa todos os náufragos hoje reverenciados, senhoras e senhores, meus comandados,
Um poeta que escreveu a história do 21º Grupo de Artilharia de Campanha em poesia de cordel, arte literária essencialmente brasileira, descreveu em versos a vibração, a disciplina e a forma singular com que a tropa desta tradicional unidade saúda seu comandante:
“Com a rotina diária
Os soldados não se abalam
Nos exercícios eles cantam
E pela noite se calam
O sol levanta brilhante
Mas – Bom dia Comandante
Até as montanhas falam”
Os soldados não se abalam
Nos exercícios eles cantam
E pela noite se calam
O sol levanta brilhante
Mas – Bom dia Comandante
Até as montanhas falam”
É justamente dessa maneira que vamos saudá-los, caros convidados, pois no Grupo Monte Bastione a vibração da tropa é tanta que o terreno responde com o brado vindo das montanhas.
21 GAC – BOM DIA !
Há exatos 70 anos atrás, no dia 15 de agosto de 1942, jovens como vocês, meus comandados, participavam uma missão nobre: embarcados em navios mercantes seguiam para o nordeste do Brasil, com o pessoal e material necessários para a instalação de uma nova unidade de Artilharia, o 7º Grupo de Artilharia de Dorso, atual 7º GAC, localizado em Olinda – Pernambuco.
Dois dias antes os militares dessa nova unidade deixavam o histórico aquartelamento do 21º GAC em São Cristóvão, na época 1º Grupo de Obuses 105 mm, sem sequer imaginar o que lhes ocorreria.
Naquela época, início da década de 40 do século passado, o mundo estava em plena guerra. Os aliados, defensores das liberdades democráticas, opunham-se aos governos totalitários do Eixo - Alemanha, Itália e Japão. O Nordeste Brasileiro, em particular, o chamado Saliente Nordestino, crescia de importância, como possível plataforma de apoio às operações em curso no norte africano.
A ruptura das relações diplomáticas dos países americanos fez com que os alemães alterassem o esforço de sua campanha submarina para o litoral do continente americano, a fim de bloquear o apoio dos Estados Unidos a seus aliados. Assim a decisão de atacar as linhas de comunicação marítimas certamente atingiria também o Brasil.
O almirante alemão Doenitz achou que aquele era o momento de dar início às operações dos U – Boats nas águas do Atlântico Sul. Para isso, designou um grupo de dez submarinos que passou a operar na costa brasileira.
Vamos reviver, agora, os fatos que reverenciamos nesta solenidade. Voltemos ao dia 15 de agosto de 1942.
Uma parte daquele efetivo do 7º Grupo de Artilharia de Dorso estava embarcado no navio Baependy. Sob a liderança incontestável do Major Landerico de Albuquerque Lima a tropa, a tripulação e os civis a bordo participavam do jantar, ao som da canção “Barril de Chopp”.
Em um ataque covarde e inesperado, o submarino alemão U-507 lançou, às 19:10, dois torpedos, ceifando a vida de muitos militares a bordo, tendo sobrevivido apenas 18 tripulantes e 18 passageiros.
Em poucos minutos o Baependy vai a pique, silenciando para sempre aquelas vidas, inclusive a do Major Landerico, que faleceu junto com a maior parte da sua tropa. Um dos oficiais que se salvou, o Tenente José Castello Branco Verçosa perdeu no naufrágio a esposa e o filho pequeno.
Dois dias depois a crueldade nazista continuou. Desta vez o alvo foi o navio Itagiba, no dia 17 de agosto, que durante o almoço também foi bombardeado, estando ao sul de Salvador. Nele estava o restante da tropa do grupo, sob o comando do Capitão José do Tito Canto.
Um dos feitos heróicos daquela data foi a atitude do 1º Tenente Alípio Napoleão de Andrada Serpa, que cedeu o seu próprio salva-vidas para um soldado, salvando assim a vida do subordinado. Seu ato heróico hoje é lembrado em uma placa de bronze neste aquartelamento, dando o nome do Ten Serpa ao estádio esportivo da nossa unidade.
Pouco depois do torpedeamento do Itagiba o navio Arará conseguiu realizar o salvamento de vários náufragos, entre eles o Ten Serpa e o então soldado Dálvaro. Entretanto, pouco depois, aproximadamente às 14 horas, novo ataque do “U-507” e o “Arará” submerge, levando ao fundo do mar o Ten Serpa e muitos companheiros de infortúnio que tinham escapado da morte, pouco antes, no afundamento do “Itagiba”. O Tenente Dálvaro, hoje aqui presente, sobreviveu também ao naufrágio do Arará e, mesmo dispensado das obrigações militares por ser náufrago, apresentou-se como voluntário para integrar a Força Expedicionária Brasileira, como soldado da nossa Bateria de Comando da Artilharia Divisionária.
A morte de brasileiros inocentes nas águas do oceano atlântico também foi lembrada pelo poeta:
“Só depois de atacarem
O nosso país aqui
Afundando nossos barcos
Itagiba e Baependy
É que o Brasil foi à guerra
Pra defender nossa terra
E entrou para decidir.”
Meus comandados,
Além dos navios Baependy e Itagiba que transportavam o 7º Grupo de Artilharia de Dorso, outros navios mercantes brasileiros também foram torpedeados pelos submarinos alemães. Hoje, ao homenagearmos os heróis do Baependy e do Itagiba, prestamos também nossa continência aos demais brasileiros que tiveram suas vidas ceifadas e hoje repousam no oceano atlântico.
Sabemos que o sacrifício desses heróis não foi em vão. O Brasil respondeu às agressões enviando seu povo à guerra, alinhando-se com as maiores potências do século XX na derrota de ideologias contrárias à liberdade e à democracia. Este sacrifício é aqui lembrado na presença de sobreviventes daquelas tragédias, de familiares e dos soldados que, em forma, continuam a escrever a história de glórias do Grupo Monte Bastione.
Bastione ! Artilharia ! Brasil !”
Após suas palavras o Comandante convidou o Gen Jonas, Gen Cypriano, Cel Odyn, filho do Major Landerico, Comandante do destacamento do 7º Grupo de Artilharia de Dorso, que faleceu no naufrágio do navio Bapendy, a Sra Ivony Tramontin, esposa do Cap Tramontin, sobrevivente do navio Itagiba e o Tem Dálvaro, sobrevivente dos naufrágios dos navios Baependy e Arará para realizarem a colocação da corbelia de flores no Monumento aos Náufragos.
O Monumento é composto de uma base de concreto com uma placa descritiva.
Em sua parte superior, duas placas de mármore negro, desalinhadas, representando as duas metades dos cascos dos navios Baependy e Itagiba, por terem sido torpedeados respectivamente em 15 e 17 de agosto de 1942.
Informações gravadas no mármore em uma placa de bronze com os dados mais marcantes de cada navio.
Em sua parte inferior um grande pedra de mármore branco representando as águas do Oceano Atlântico onde repousam os corpos dos militares desaparecidos.
Além do Monumento encontram-se dois banners com os nomes dos militares desaparecidos nos naufrágios e a peça Monte Bastione com sua guarnição envergando o mesmo uniforme utilizado durante a II Guerra Mundial.
O General Falillace, Comandante da AD/1 fez uso da palavra e em seguida a tropa desfilou em continência ao General Cypriano encerrando a solenidade.
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