segunda-feira, 30 de julho de 2012

Museu das Reduções, cujas miniaturas encantam os visitantes, luta para sobreviver


Nova sede, às margens da BR-356, e projeto reformulado dão fôlego à instituição de Amarantina

Casario colonial mineiro foi reproduzido fielmente em miniaturas expostas no Museu das Reduções

Expectativa de um futuro promissor, depois do sufoco da ameaça de fechar as portas. Essa é a realidade do Museu das Reduções, que funciona em Amarantina, distrito de Ouro Preto. O diretor, Carlos Alberto Xavier de Vilhena, conta que a arrecadação da bilheteria, dinheiro destinado aos custos fixos, não tem chegado ao necessário, R$ 9 mil por mês. Em média, a receita soma R$ 4,8 mil mensais. Motivo: o difícilacesso ao espaço. A sede é muito bonita, mas, de fato, fica escondida. A boa notícia é que o projeto ganhou terreno de 12 mil metros quadrados no Km 62 da BR-356.

Criado em 1980, talvez ele seja o museu mais encantador de Minas. Fazem a delícia de quem visita o local as 26 réplicas de imóveis históricos brasileiros, 25 vezes menores que os originais. Há edificações do período colonial, como a ouro-pretana Casa dos Contos, e obras-primas da arquitetura moderna, como o Palácio da Alvorada, de Oscar Niemeyer. As peças foram feitas com alvenaria e receberam acabamento em metal, madeira e cerâmica – tudo com preciosa minúcia. Isso exigiu até a criação de ferramentas adequadas para o trabalho em escala. A Igrejinha da Pampulha, por exemplo, traz a recriação do painel externo de Portinari e minúsculos azulejos.

O conceito do novo Museu das Reduções já está definido: será um parque temático ligado à educação ambiental e patrimonial, mas não se limitará a esses dois setores. Com direito a paisagismo, arenapara apresentações folclóricas, infraestrutura de serviços e espaço de exposições temporárias, ele vai contar com quiosques representando as regiões do Brasil, onde ficarão as réplicas.

Lá funcionará o Instituto Nacional de Desenvolvimento e Integração Cultural (Indic), criado para gerir o museu. Trata-se de aposta no turismo pedagógico – caminho descoberto a partir do momento em que professores passaram a visitar o espaço. “Pesquisa de alunos de turismo mostrou que temos potencial para receber de 15 mil a 20 mil visitantes por mês, se nossa sede ficar na margem da rodovia”, informa Carlos Alberto. No auge do museu, em 2006, o número de turistas chegou a 1,8 mil por mês. Naquele ano, ele ganhou prêmio do Guia Quatro Rodas. Hoje, a média é de 800 pessoas. “E esse número vem caindo”, conta o diretor. “O novo projeto representa mudança da água para o vinho”, aposta.
 
Orgulho de família 
 
O Museu das Reduções foi criado pela família Alves Vilhena, de Campanha, no Sul de Minas. Ennio e Sílvia eram bancários; Décio piloto de avião; e Evangelina funcionária pública. Todos já morreram. Aposentados, os irmãos observaram a habilidade de Ennio para construir miniaturas. Decidiram mergulhar no projeto. A inspiração veio de instituição que Sílvia e Evangelina conheceram na Holanda. Por volta de 1978, a família alugou pequeno ateliê em Amarantina. Em 1980, os irmãos compraram pequena área e construíram a sede. 
 
Ennio era o “artesão mor”, criou a técnica de construção e as ferramentas. Encarregava-se da alvenaria, de trabalhar o metal e a madeira bruta. Décio cuidava das plantas, da escala referencial e de entalhes finos. Sílvia era responsável por desenhos, pinturas e esculturas. “Evangelina coordenava tudo. Ela foi muito importante, pois aparava brigas e vaidades, cuidava da casa”, observa Carlos Alberto.
 
Entre os fãs do projeto, conta ele, estão intelectuais e escritores como Paulo Sérgio Rouanet, Ângelo Oswaldo de Araújo, Rui Mourão e Murilo Badaró, já falecido, que presidiu a Academia Mineira de Letras. Diante do empenho da família, Carlos Alberto sente “responsabilidade moral” de manter o acervo. Até pediu demissão no banco em que trabalhava para cuidar de tudo.
 
“O mais bonito, até mais que a obra, é o contexto em que surgiu a coleção. Este museu é a realização de quatro idosos aposentados, que foram em busca de um sonho”, explica ele. O diretor acompanhou o pai e os tios, com álbum de fotos nas mãos, em sua peregrinação em busca de patrocínio. “Várias vezes, as pessoas nos trataram com ironia, ao ver aqueles quatro com mais de 70 anos propondo a criação de museu para miniaturas”, relembra. O apoio veio da entidade filantrópica europeia Lateinamerika-Zentrum (LAZ).
 
No anexo, funciona uma escola de informática, que oferece aulas gratuitas e educação patrimonial para alunos da rede pública de Ouro Preto, Mariana, Nova Lima e Itabirito. Desde 2010, foram atendidos 4,5 mil estudantes, informa Carlos Alberto.
 
MUSEU DAS REDUÇÕES
Rua São Gonçalo, 131, Amarantina, distrito de Ouro Preto. Funciona das 9h às 17h. Fecha para manutenção às terças-feiras. Ingresso: R$ 8. Menores de 5 anos não pagam.

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