segunda-feira, 23 de abril de 2012

Alocução do 276º Aniversário do Grupo Monte Bastione e Homenagem ao Barão do Rio Branco


Foto Mergulhinha
Excelentíssimos Senhores Marechal Carlos Machado Bittencourt, patrono do Serviço de Intendência; Marechal Floriano Vieira Peixoto, nosso segundo Presidente da República; Marechal Hermes Rodrigues da Fonseca, também Presidente da República; Tenente Coronel João Carlos de Vilagran Cabrita, patrono da arma de Engenharia; Marechal Roberto Trompowski Leitão de Almeida, patrono do Magistério Militar, Marechal Manoel Deodoro da Fonseca, Proclamador da República e nosso primeiro presidente e Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, patrono da arma de Comunicações.

Com essa nominata histórica de ex-integrantes das unidades que deram origem ao 21º Grupo de Artilharia de Campanha, cito os heróis do passado. Como nos falou Rui Barbosa em Oração aos Moços: “presente entre vós em espírito é também estar presente em verdade”.

Excelentíssimo Senhor Deputado Federal Vitor Paulo, reservista do Exército Brasileiro que foi soldado neste aquartelamento; Excelentíssimo Senhor General-de-Divisão  Antônio Hamilton Martins Mourão, Vice-Chefe do Departamento de Educação e Cultura do Exército, em nome de quem eu cumprimento as demais autoridades militares que abrilhantam esta cerimônia, Excelentíssimo Senhor Embaixador Lúcio Amorim, Coordenador do Grupo de Trabalho da Copa 2014 e Assessor Especial do Secretário Geral do Ministério das Relações Exteriores, em nome de quem eu saúdo os demais diplomatas, senhoras e senhores convidados que nos brindam com suas presenças, meus comandados do Grupo Monte Bastione, BOM DIA!

A presença de todos neste pátio de formatura do Forte Barão do Rio Branco é motivo de enorme alegria para o comando do 21º GAC e todos os seus integrantes. Vivemos hoje uma grande festa - o aniversário de 276 anos da unidade da artilharia mais antiga do Brasil – e estamos comemorando essa data com a reunião daqueles que verdadeiramente fizeram e fazem parte dessa história. São vocês, os ex-integrantes e os reservistas que escreveram com suor e sangue a história desta e de outras unidades, e que hoje nos honram com as suas presenças. São homens da estatura dos heróis que saudamos. Aqueles, os heróis do passado, ajudaram a construir não somente o legado do 21º GAC, mas participaram também das diversas guerras em defesa da nossa pátria no Império e na República, construíram de fato as bases de um Brasil moderno, que hoje temos a responsabilidade de defender e honrar.

Nesta cerimônia cívico-militar três efemérides se encontram: a história do 21º GAC como tradicional unidade do Exército de Caxias, a história deste belo aquartelamento na entrada da Baia de Guanabara e a homenagem ao estadista brasileiro que empresta seu nome ao quartel, o Barão do Rio Branco, patrono da Diplomacia Brasileira.

Recordar a heróica e memorável história desses três motivos que nos reúnem aqui é relembrar a própria história do Brasil. Faremos, então, uma viagem no tempo, entrelaçando em um único relato as glórias desses três caminhos.

Iniciamos nossa jornada no dia 1º de janeiro de 1502, quando o navegador português Gonçalo Coelho chegou com três caravelas na entrada da Baia de Guanabara, confundindo-a com a foz de um grande rio. Podemos hoje imaginar que o comandante daquela pequena esquadra portuguesa viu justamente o local onde estamos neste momento – a praia do nosso Forte Barão do Rio Branco e as montanhas onde hoje se localizam os fortes de São Luiz e do Pico. Naquela data deram a este local de natureza exuberante o nome de Rio de Janeiro.

Nossa viagem continua sob a bandeira portuguesa. Em março de 1701, o Capitão Marcos da Costa Fonseca foi nomeado comandante da Bateria de Santo Antônio da Praia da Vargem, que contava já em 1711 com meia-dúzia peças de artilharia. Essa bateria, senhores, é a mais antiga referência histórica da artilharia neste local e foi a primeira defesa instalada na atual praia do Forte Barão do Rio Branco, praia localizada à frente deste pátio de formatura.

Em 16 de abril de 1736 nasceu o nosso 21º GAC, por ordem de Dom João V, quando, em Carta Régia, determina a criação do Corpo de Artilharia do Rio de Janeiro, embrião da nossa unidade. A infância de nosso grupo já foi vitoriosa, quando ainda jovem, entre 1752 e 1759, laureou-se na campanha de demarcação física do Tratado de Madrid entre Portugal e Espanha. Nessa campanha iniciou-se a simbiose perfeita entre o esforço diplomático e o feito militar, que se perpetuou em toda a história diplomática e militar brasileira, razão pela qual hoje também homenageamos nossos diplomatas.

Ainda sob o nome de Corpo de Artilharia, nossa unidade recebeu a missão de guarnecer as fortalezas da Baia de Guanabara, incluindo os fortes de Niterói. Assim, a instalação definitiva do 21º Grupo de Artilharia de Campanha nesse histórico aquartelamento, após sair do quartel de São Cristóvão, nada mais é que uma volta à sua velha casa.

Voltando a história deste aquartelamento, em 1775 foi fundado o Forte de São Luiz, por ordem do Marques do Lavradio, no reinado de José I, rei de Portugal. Preparado para defender a Fortaleza de Santa Cruz e para vigiar a entrada da Baia de Guanabara é hoje um precioso e impressionante patrimônio histórico mantido pelo 21º GAC.

Nossa unidade recebeu inúmeras denominações: Regimento de Artilharia do Rio de Janeiro, 1º Corpo de Artilharia de Posição, 1º Batalhão de Artilharia a Pé, 2º Regimento de Artilharia a Cavalo, entre outras. No século dezenove nossa unidade participou ativamente da história do Brasil, recebendo com salvas de artilharia a família real em 1808, debelando a Revolução Farroupilha, participando da Campanha contra Oribe e Rosas, do cerco a Montevidéu, e da Guerra da Tríplice Aliança.

Com o nome de 2º Regimento de Artilharia de Campanha, foi o nosso grupo que perfilou seus canhões no Campo de Santana, em 1889, no momento da Proclamação da República, eternizados na tela de Benedito Calixto. Mantendo suas tradições de combate, no alvorecer da república o nosso grupo participou da Campanha de Canudos, quando seu integrante e ilustre filho, o Capitão Salomão de Rocha entregou sua vida com a célebre frase “onde fica a bateria, fica o seu capitão”.



Benedito Calixto
"Proclamação da República", 1893
Óleo sobre tela
Câmara Municipal de São Paulo

Entrando no século XX, o 21º GAC percorreu também uma estrada de glórias. Abriu fogo na Revolta da Armada, participou da Campanha do Contestado, atuou contra os revoltosos do Forte de Copacabana em 1922 e participou dos combates nas revoluções de 1930 e 1932.

Nossa história ganhou, pelo Decreto nº 3.329, de 25 de Novembro de 1938, mais um motivo de enorme orgulho para os seus integrantes: o nosso atual aquartelamento recebeu a denominação de Forte Barão do Rio Branco.

Neste ano de 2012, em que reverenciamos o centenário da morte do Barão do Rio Branco, o comando do 21º GAC decidiu prestar-lhe esta homenagem, materializada pela instalação de um novo busto do “Barão”, ladeado pelo busto de “Caxias”, no único pátio de formaturas do Brasil no qual nossos dois patronos se encontram, simbolicamente.

A vida do Barão do Rio Branco será sempre para nós, militares, um exemplo e uma referência de brasilidade. Suas maiores contribuições ao país foram a consolidação das fronteiras brasileiras, em especial por meio de processos de arbitramento ou de negociações bilaterais, e, principalmente, a formação de uma mentalidade que sustenta até os dias de hoje a tradição diplomática brasileira.

Senhores Embaixadores aqui presentes! Homenageando o Barão, estamos homenageando todos os diplomatas do nosso Brasil. Parabéns pelo Dia do Diplomata, que será comemorado no dia 20 deste mês.

Mas a história de uma unidade de combate precisava de algo mais. Em 1942, após o torpedeamento de vários navios mercantes, entre eles o Baependi e o Itagiba, o Brasil foi à guerra. Com a denominação de 2º Grupo do 1º Regimento de Obuses Auto-Rebocado, o nosso grupo foi a primeira unidade de artilharia a cruzar o Atlântico em 1944, para combater, em solo italiano, o inimigo nazi-facista. Sob o comando do Coronel Geraldo da Camino, nas encostas do Monte Bastione, nossos heróis dispararam o primeiro tiro de artilharia da Força Expedicionária Brasileira, quando, às 14 horas e 22 minutos do dia 16 de setembro de 1944, foi dado o comando de PEÇA FOGO!

Reviver esses momentos, nesse histórico aquartelamento, realmente é percorrer a história do Brasil. Chegamos ao término de nossa viagem, 276 anos depois do nascimento do 21º GAC. Volto-me, agora aos heróis do presente. Aos soldados em forma e àqueles ex-integrantes de unidades aqui representadas. São vocês que continuaram e continuarão essa história.

Convoco os integrantes do 21º GAC a se espelharem nos heróis do passado e nos militares da ativa e da reserva que nos antecederam. Temos uma enorme responsabilidade em continuar a escrever essa história. Após a desativação do 3º Batalhão de Infantaria e a extinção do 19º Batalhão Logístico, o 21º GAC recebeu, também, a responsabilidade de manter as suas instalações e de acolher em seus quadros militares daquelas unidades. Esse elo nos une aos militares dessas unidades aqui presentes, e de outras unidades que foram extintas na guarnição.

Parabéns Grupo Monte Bastione! Parabéns à Diplomacia Brasileira! Parabéns a todos aqueles que escreveram a história do 21º GAC!

Bastione ! Artilharia ! Brasil !

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