quinta-feira, 29 de março de 2012

O eterno Sargento Lima - 21º GAC





Sgt Lima – Chefe da Peça
do primeiro tiro na FEB


Nascido no ano de 1912, em São Gonçalo do Pará (MG), o jovem Miguel Ferreira de Lima apresentou-se como voluntário nas fileiras do Exército aos 17 anos de idade, incorporando ao efetivo do 6º Grupo de Artilharia de Dorso – quartel em Quitaúna (SP). Dez meses após, foi transferido para o 1º Grupo de Artilharia e Dorso (1º GADo) em Campinho (RJ) – atual 21º Grupo de Artilharia de Campanha (21º GAC).


Sd Francisco de Paula
A foto do soldado Francisco de Paula (Fig. 1), prestes a carregar o obuseiro 105mm com uma granada onde está escrito: "A Cobra está Fumando", foi estampada na capa de diversos jornais brasileiros, lhe rendendo a fama involuntária de ser o "autor" do primeiro tiro da FEB.



No 1º GADo, conforme relato próprio, encontrou brilhantes oficiais, como os irmãos  José Maria e Antonio Carlos de Andrade Serpa, que o indicaram para o curso de formação de cabos. Seis meses depois de promovido, foi matriculado no curso de formação para sargentos.

Em 05 de fevereiro de 1942, já com a população do Rio de Janeiro assustada com o noticiário da guerra e com o grande movimento de tropa por toda cidade, foi promovido a 3º Sargento, quando assumiu o comando de uma peça de artilharia de uma das baterias do 1º GADo. Manteve a função no 2º Grupo do 1º Regimento de Obuses Auto-Rebocado (II/ 1º ROAur), com o qual integrou a Força Expedicionária Brasileira (FEB), na Campanha da Itália.

O Sgt  Lima, chefe da 2ª peça (peça diretriz) da 1ª Bateria de Obuses, comandada pelo Capitão Mario Lobato Vale, embarcou com a primeira tropa que partiu para a Itália, no 1º escalão da FEB. Em relato minucioso, descreveu como aconteceu a entrada em posição, para a realização do primeiro tiro da FEB que saiu de sua peça:

“… a Bateria formou-se em coluna, iniciando o deslocamento, integrada ao Grupo. Anoitecia e logo nos deslocávamos na total escuridão, tendo apenas as luzes de posição das viaturas acessas. O Coronel Geraldo Da Camino, comandante do Grupo, às vezes, controlava o trânsito das viaturas ao longo do itinerário. Íamos próximos do mar, passando por Staffoli e Livorno, chegamos à região de Camaiore. Entramos em posição à noite, com os guias nos dirigindo com bandeirolas brancas, em posições já balizadas anteriormente. Aguardamos em posição durante toda a madrugada. O pessoal tenso e ansioso por abrir fogo. Os comandos de tiro custaram a chegar, pois os observadores avançados tinham dificuldade para determinar as posições do inimigo. A missão de observador avançado é muito perigosa. O Tenente Ramiro Moutinho estava em Torre Nerone, uma posição que era constantemente bombardeada pelos alemães. Por volta das 14 horas, após termos comido nossas rações K, vieram os primeiros comandos da Central de Tiro…”,  “… a missão de tiro foi cumprida; isso em 16 de setembro de 1944, exatamente às 14 horas e 22 minutos, o que ficou para história do Exército”.

Após o primeiro tiro, permaneceu em combate até o final da guerra. Em mais uma passagem marcante, explicou o apoio ao ataque a Monte Castelo: “… Apoiamos o ataque final a Monte Castelo, onde toda a FEB atuou. Todos os Grupos, a Artilharia Divisionária, a Companhia de Manutenção, a Subsistência. Minha peça estourou quatro raias do tubo, eu telefonei para o Capitão e quatro horas mais tarde chegou a manutenção. Trouxeram um tubo novo, em uma viatura ¾ de tonelada. Veio um sargento mecânico e seu ajudante. Eles trocaram o tubo ali.

O tubo danificado foi recolhido, hoje está no pátio do Quartel da Unidade (21º GAC), com uma inscrição, vou sempre visitá-lo. Era meu tubo, é uma peça de meu obus que traz saudade”.

Guarnição de artilharia da FEB. O soldado Francisco de Paula aparece ao fundo, 
o terceiro da esquerda para a direita, de frente para a foto, 
já ocupando a posição padrão do C3 – Sd  carregador da peça


O “Sargento Lima” deixou esta função após o término daquele amplo conflito que abalou o mundo. Passou para a reserva, em 1950, sendo promovido a primeiro-tenente. Por sua participação na 2ª Guerra Mundial, recebeu a Medalha de Campanha e a Medalha de Guerra.

O 21º GAC, para não deixar se apagar a história de seus heróis que travaram inúmeras batalhas nos campos da Itália, anualmente comemora o aniversário do 1º Tiro de Artilharia da FEB. Já não poderá contar mais com a presença do “Sargento  Lima ”  (chamado assim, por preferência própria), devido ao seu falecimento em 26 de novembro de 2008.

Fonte: Revista Verde Oliva (Exército Brasileiro) Nº 201 – Abril/Maio/Junho 2009



No dia 16 de setembro de 1944 nas encostas do MONTE BASTIONE às 14:22 horas foi dado o 1º Tiro de artilharia da FEB em campos da Itália. O Cabo apontador ADÃO ROSA ROCHA e o Sargento comandante da peça de artilharia do II/1º RO Aur (hoje 21º GAC) puxam o cordel de disparo. O obuseiro expele uma língua de fogo, a granada sibila no ar e vai explodir nos contrafortes dos Alpeninos. Era o primeiro tiro executado pela Artilharia Brasileira em operação na Guerra fora do Atlântico, e ao SGT MIGUEL FERREIRA LIMA foi o executor deste feito.

Em 2009 a reunião dos veteranos 65 anos depois. A reunião dos veteranos aconteceu no Grupo Monte Bastione – 21° Grupo de Artilharia de Campanha, aquartelado no Forte Barão do Rio Brando em Jurujuba, Niterói, sucessor do 2° GO 105 FEBiano, por sua vez herdeiro de uma das nossas mais antigas e tradicionais unidades, o Corpo de Artilharia do Rio de Janeiro, criado por Carta Régia de Dom João V em 1736, para guarnecer as fortalezas que defendiam a Baia da Guanabara.

O fato mais importante desse evento reside no reconhecimento que os próprios alemães fizeram sobre o poder de fogo da nossa artilharia. Em seus registros consta a nota desanimadora:“Uma nova artilharia revelou-se na frente de combate”.

Um comentário:

  1. tenho a honra de fazer parte dessa historia, meu avo, foi o 1ºtenente capelão juvenal ernesto da silva... abraço a todos

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