segunda-feira, 31 de maio de 2021

A estreita senda da racionalidade - Por Otávio Santana do Rêgo Barros

 


A ampliação da crise política será o destino inevitável do Brasil nos próximos meses? Dependerá de nossas atitudes como cidadãos.

Entretanto, é inquestionável que ela se encorpa diariamente, tendo entre suas principais causas o tribalismo digital que tomou de emboscada a nossa sociedade nos últimos anos.

Tucídides, autor da clássica obra A Guerra do Peloponeso (435 a.C), demonstrou que o desencadear de um conflito se dá à medida que os contendores deixam de avaliar com a razão e avançam emotivamente rumo à colisão de vontades, à busca da hegemonia. Os estudiosos da história geral alcunharam essa circunstância como “Armadilha de Tucídides.”

O professor Graham Allison, diretor do Belf Center for Science and International Affairs, em um estudo na Universidade de Harvard, elaborou uma lista com dezesseis situações, posteriores ao ano de 1500, nas quais estados em ascensão buscaram romper a supremacia pretérita de outros estados — reafirmando a Armadilha de Tucídides —, culminando com guerras que cobraram em sangue, economia e bem-estar social aos seus envolvidos.

Mostra-se compatível estabelecer um paralelo e identificar a mesma armadilha no nosso ambiente político, com possibilidade de irromper-se um conflito social de dimensão não avaliável em médio espaço de tempo, dada à polarização vigente e ao maniqueísmo que tomou conta de parte dos grupos antípodas (estados em disputa).

O projeto do professor Allison demonstra, ainda bem, que nem sempre se chega às vias de fato. Para se evitar o conflito, devemos pelejar firme e sobriamente já no atual momento.

Há poucos dias escrevi um artigo de título: A atitude profissional das Forças Armadas, no qual asseverei acreditar que o caminhar desse embate não se tornaria uma crise em nível institucional. Defendi que os sistemas de freios e contrapesos ajustaria a temperatura.

Não se passaram trinta dias, e a tromba d’água que se formou na cabeceira do rio do ambiente político, potencializada pela gestão sanitária e as investigações decorrentes, faz-me rever esse posicionamento e ponderar que a senda da institucionalidade está se tornando estreita com riscos de dificuldades mais adiante.

A ganância pela manutenção do status quo de poder, contrária aos princípios mais salutares da alternância de poder das democracias maduras, vem promovendo aflições em muitos estamentos da sociedade.

Intenta-se estabelecer uma ligação emocional entre as deliberações do Executivo e a Instituição de Estado: Forças Armadas. Mas não há exclusividade de ator principal. Do mesmo modo há uma interferência em outras instituições respeitadas por seu passado asseado e ajustadas à missão constitucional: Polícia Federal, Receita Federal, Diplomacia, dentre outras.

Algumas ações ou omissões do governo expõem essas organizações ao escrutínio crítico, com viés negativo, resultando como consequência uma possível repulsa da sociedade.

Não é aceitável, sob nenhum aspecto, transformar a centenária Instituição Exército Brasileiro, nascida nas ravinas dos Montes Guararapes pelo amálgama das três raças e detentora de altos índices de confiabilidade, em uma estrutura de apoio político pessoal.

Sempre se orgulharam, as Forças Armadas Brasileiras, de seu profissionalismo e servidão ao povo brasileiro. Continuarão se orgulhando, por certo.

Prontidão e Vigilância! esse é o lema. Substantivos sublinhados na intenção dos comandantes de ontem, de hoje e de sempre.

Construiu-se, nos últimos anos, uma base muito sólida de profissionalismo nos homens e mulheres de farda, cuja argamassa dificilmente será abalada.

As ideias de legalidade, legitimidade e estabilidade permanecem iluminando o caminho. E as Forças Armadas, ao toque diário de clarim na alvorada, reforçam a sua isenção racional.

Quanto ao caso do oficial-general que participou de carreata política, infringindo, em tese, a legislação disciplinar, tenhamos confiança na sobriedade temperada com firmeza de nossos comandantes.

Paz e Bem!

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