http://g1.globo.com/politica/operacao-lava-jato/noticia/2015/10/passaporte-e-assinatura-comprovam-que-cunha-mantinha-contas-na-suica.html
Vladimir NettoDa TV Globo, em Brasília
Cópias do passaporte e do visto norte-americano de Eduardo Cunha (Foto: Reprodução
Cópias do passaporte, da assinatura e de dados pessoais do presidente da Câmara,Eduardo Cunha(PMDB-RJ), enviados pelas autoridades da Suíça à Procuradoria Geral da República (PGR) comprovam contas bancárias secretas do deputado no país europeu.
A TV Globo teve acesso com exclusividade à documentação encaminhada pelo Ministério Público suíço ao Brasil – por meio de 35 arquivo –, na qual, além da reprodução do passaporte e do visto norte-americano de Cunha, constam nome completo, data de nascimento e endereço dele em um condomínio de luxo na Barra da Tijuca, no Rio de Janeiro.
O Jornal Hoje mostrará nesta sexta-feira mais detalhes dos dados que comprovam as contas do presidente da Câmara na Suíça.
Procurada pelo G1, a assessoria de imprensa da presidência da Câmara informou que quem poderia falar sobre o assunto era o advogado de Cunha, Antonio Fernando de Souza. A reportagem tentou contato com o criminalista, mas não tinha conseguido localizá-lo até a última atualização desta reportagem.
Os documentos enviados pelo MP da Suíça mostram o caminho do dinheiro supostamente repassado a contas bancárias atribuídas ao presidente da Câmara dos Deputados e familiares.
No total, as contas de Cunha na Suíça, indicam as investigações, receberam nos últimos anos depósitos de US$ 4.831.711,44 e 1.311.700 francos suíços, equivalentes a cerca de R$ 23,8 milhões, segundo a cotação desta sexta-feira (16).
Os investigadores dizem que os documentos pessoais de Eduardo Cunha enviados pelo procuradores suíços (cópias de passaporte, comprovantes de endereço no Rio de Janeiro e assinaturas) comprovam que ele era o beneficiário dessas contas.
Em uma das contas atribuídas ao presidente da Câmara na Suíça, em nome da offshore Triumph SP, há uma cópia do passaporte de Cunha. Em um dos documentos, que autoriza investimentos vinculados à conta bancária, aparece uma assinatura semelhante à registrada no passaporte do peemedebista.
Ao banco suíço Merrill Lynch, mostram os documentos, o presidente da Câmara solicitou para que as correspondências relacionadas as suas contas não fossem enviadas ao Brasil, e sim aos Estados Unidos, em um endereço de Nova York. Ele justificou o pedido alegando que "mora em um país onde os serviços postais não são seguros".
Também chama atenção o documento em que consta justificativa para que as correspondências não fossem enviadas ao Brasil, mas sim aos Estados Unidos, embora ele não fosse residente nos EUA. A justificativa alegada é que Eduardo Cunha "mora em um país onde os serviços postais não são seguros".
Na noite desta quinta-feira (15), o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal,autorizou a abertura de um novo inquérito para investigar Cunha. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, quer apurar suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro em razão das quatro contas na Suíça atribuídas ao parlamentar do PMDB.
A Procuradoria Geral da República informou nesta sexta-feira (16) haver “indícios suficientes” de que as contas do presidente da Câmara no exterior são “produto de crime" e pediu o bloqueio e o sequestro do dinheiro depositado. Segundo a PGR, entre 2002 e 2014, a evolução patrimonial de Cunha foi de 214%.
O caminho da propina
As investigações indicam que Cunha manteve quatro contas bancárias na Suíça, abertas entre 2007 e 2008. Dessas, duas teriam sido fechadas pelo deputado no ano passado, em abril e maio.
As investigações indicam que Cunha manteve quatro contas bancárias na Suíça, abertas entre 2007 e 2008. Dessas, duas teriam sido fechadas pelo deputado no ano passado, em abril e maio.
As outras duas contas, com saldo de 2,4 milhões de francos suíços (cerca de US$ 2,4 milhões ou R$ 9,3 milhões), foram bloqueadas pelo Ministério Público daquele país.
Neste ano, em depoimento à CPI da Petrobras, ele afirmou que não tem contas no exterior.
De acordo com as investigações, parte do dinheiro teria sido pago a Cunha como propina por contrato fechado entre a Petrobras e a empresa Companie Beninoise des Hydrocarbures Sarl, em Benin, na África.
O empresário Idalecio de Oliveira era proprietário de um campo de petróleo em Benin e, segundo documentos, fez um contrato de US$ 34,5 milhões com a Petrobras para exploração dessa área.
De acordo com os investigadores, o engenheiro João Augusto Rezende Henriques, apontado pela força-tarefa da Operação Lava Jato como um dos operadores do PMDB, recebeu em maio de 2011 da Lusitania Petroleum Ltd – cujo titular é Idalecio de Oliveira – US$ 10 milhões como “taxa de sucesso” pelo negócio fechado pela Petrobras em Benin.
Entre maio e junho de 2011, Henriques fez depósitos no valor total de 1,31 milhão de francos suíços (cerca de R$ 5 milhões) para a offshore Orion SP, com conta registrada no banco Julius Baer, na Suíça.
Em depoimento a investigadores da Operação Lava Jato no Paraná, Henriques disse que não sabia quem era o destinatário do dinheiro, mas afirmou que fez o depósito a pedido de Felipe Diniz, filho do ex-deputado Fernando Diniz (PMDB-MG).
Segundo investigadores com acesso às informações, o titular da offshore era, à época dos depósitos em 2011, o presidente da Câmara. De acordo com os dados suíços, essa conta foi aberta em 20 de junho de 2008 e encerrada em 23 de abril de 2014.
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