A história de Juiz de Fora com a sétima arte é de pioneirismo, tradição e coragem. Da virada do século 19 para o século 20 até as modernas salas em shoppings de hoje em dia, 25 cinemas já funcionaram na cidade, a maioria no Centro, segundo levantamento do Projeto História do Cinema Brasileiro. Companhias foram criadas, vendidas, fechadas e o capítulo atual dessa história está acontecendo há algumas semanas. O último cinema de rua em funcionamento na cidade corre o risco de fechar. O Cinearte Palace, inaugurado de 1948, está em processo de venda. O banco Brasdesco, proprietário do imóvel, alegou que ele faz parte do que restou de uma dívida antiga com outra instituição financeira e que o processo natural foi a venda.
A primeira exibição cinematográfica pública no estado de Minas Gerais foi em Juiz de Fora, em 1897, apenas um ano e meio após a primeira exibição dos irmãos Lumière, em Paris, na França. Segundo o cineasta e professor Franco Groia, o evento aconteceu no antigo Teatro Juiz de Fora, que funcionava na Rua Espírito Santo, esquina com a Rua Henrique Surerus, no Centro da cidade. Em entrevista ao G1, ele garantiu que, por muitos anos, a cidade respirou cinema.
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Segundo Groia, exemplo da popularização era a quantidade de salas funcionando, ao mesmo tempo, em uma só região. Ele cita a Rua Halfeld. “Durante os anos 50, a Halfeld era a Cinelândia de Juiz de Fora, onde todas as classes sociais se encontravam”, afirmou. O resultado disso foi a visível evolução da cidade, seja na produção ou na exibição de grandes estreias nacionais. “O movimento foi tão grande, que colocou Juiz de fora muito próximo a um eixo de produção cinematográfica, entre o Rio de Janeiro e São Paulo”, completou.
Ainda de acordo com o cineasta, os cinemas de rua tinham um papel social importantíssimo na metade do século passado, momento em que não havia tantos eventos noturnos como hoje, e a vigilância nos encontros entre jovens era quase implacável. “Elas (as salas) serviam para encontros amorosos. Era uma maneira dos casais fugirem da vigilância dos pais”, contou.
Breve história dos principais cinemas de rua em Juiz de Fora:
Em 1929, foi inaugurado o Cine-Theatro Central, espaço que funcionava como cinema e era palco para espetáculos de teatro e apresentações musicais. “Foi a grande sala da primeira metade do século passado”, afirmou Franco Groia. O prédio ainda está em funcionamento, mas não mais como cinema. Hoje, as demais atividades foram mantidas. Shows e espetáculos de teatro são comuns no local. Em janeiro de 2015, o imóvel, que é tombado pelo Patrimônio Histórico, teve sua fachada reformada.
Menos de duas décadas depois, em 1948, também da Rua Halfeld, foram abertas as portas do Cinearte Palace que, além do espaço para exibição dos filmes, era sede da antiga Rádio Industrial e da Companhia Central de Diversões, proprietária da maioria das salas dos cinemas de Juiz de Fora. O imóvel está em processo de leilão, com lance inicial em mais de R$ 9 milhões. Já foram realizadas duas tentativas de venda e nenhum lance tinha sido registrado até o fechamento desta matéria.
Na Praça da Estação, também na parte baixa da Rua Halfeld, o Cinema São Luiz foi inaugurado em 1952, tornando-se palco de diversas mostras de cinema. Inicialmente, o local era frequentado pela alta classe juiz-forana, mas, aos poucos, o público mudou e o cinema passou a exibir filmes para adultos, com conteúdo pornográfico. O prédio, que é bem mais antigo que o cinema em si, é tombado pelo Patrimônio Histórico Municipal.
O Cine Excelsior foi um capítulo à parte no cinema da região. Inaugurado em 1958, também no Centro da cidade, na Avenida Barão do Rio Branco, ele foi montado com os melhores equipamentos da época e tinha capacidade para mais de 1.200 espectadores. Desde 2013, a Associação Amigos do Cine Excelsior luta na justiça contra a transformação do local em um estacionamento rotativo privado.
O Cine Rex funcionou por mais de cinco décadas no Bairro Mariano Procópio. Desde sua fundação, em 1925, até 1979, ano em que foi fechado, o cinema funcionou initerruptamente. Groia chama atenção para outra característica importante da sala. “O Rex faz parte de duas categorias: além de ser cinema de rua, era cinema de bairro. Não ficava tão perto do Centro, mas atraía público”, contou. Atualmente, o espaço deu lugar a uma casa de festas, com shows semanais.
Outro bairro que possuía salas de cinema é o São Mateus. Lá, além do Cinema São Mateus, existia o Cine Paraíso. Ambos pertenciam a grupos religiosos. O primeiro era da Paróquia de São Mateus e o outro, do Instituto Maria, uma entidade de assistência social. Um fator que deixava estas salas em desvantagem era a demora na exibição dos lançamentos. “Como os cinemas dos bairros eram dos mesmos donos dos centrais, eles só exibiam os filmes depois que eles saíssem de cartaz nas salas principais”, explicou o cineasta.
Para conhecer outras salas de cinema de Juiz de Fora, basta acessar este link e acompanhar o projeto de resgate da memória do cinema brasileiro, idealizado pelo cineasta Franco Groia. Se preferir, pode participar das discussões em grupo ou enviar correspondências para o Projeto História do Cinema Brasileiro, através da Caixa Postal 467, CEP: 36.001-970, Juiz de Fora, MG.
http://g1.globo.com/mg/zona-da-mata/noticia/2015/03/juiz-de-fora-ja-foi-palco-para-o-funcionamento-de-25-cinemas.html
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